Politica

Deputado é acusado de ficar com parte do salário de assessores e de lavar dinheiro

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postado em 29/06/2008 09:15
Há duas semanas, o londrinense Luciano Ribeiro Lopes desembarcou em Brasília portando um envelope lacrado que revela detalhes de quem testemunhou de perto a ascensão do deputado Barbosa Neto (PDT-PR). Afinal, Luciano coordenara sua campanha à Câmara, chefiou seu gabinete e, nos últimos meses, preparava o caminho para eleger o radialista prefeito de Londrina, no interior do Paraná. O envelope entregue ao procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, contém um dossiê com 40 páginas, um DVD com gravações, notas fiscais e contratos que, segundo Luciano, mostram o lado ;desconhecido; da atuação de Barbosa Neto. Antonio Fernando não abriu investigação contra o parlamentar, mas o ex-braço direito dele é categórico sobre o que o deputado fez no Congresso. ;O gabinete do Barbosa Neto se transformou num balcão de negócios;, dispara. Luciano narra ao procurador a forma como o parlamentar se apropriava de salários dos funcionários. Contou detalhes ao Correio. Com uma câmera escondida, o então homem de confiança do deputado colheu em abril a confissão de Rogério Bertipaglia. Amigo há 20 anos do deputado e ajudante-de-ordens na campanha de 2006, Rogério disse a Luciano, na gravação, que o cartão para sacar seu salário da Câmara, no valor de R$ 7,8 mil, ficava com a esposa do parlamentar, Ana Laura Lino Barbosa. No primeiro semestre do ano passado, Rogério teve que ser internado por intoxicação com drogas, foi exonerado, e sua mãe, Conceição, nomeada em seu lugar. E a prática continuou, disse Luciano. ;A Ana Laura dá R$ 400 por mês;, admite na gravação o pai de Rogério, Anísio Bertipaglia, ao ex-chefe de gabinete. ;Os que eu pari estão em casa, o Rogério não é meu filho;, respondeu Ana Laura segundo conta Luciano. Além de Rogério, Luciano disse que o deputado nomeou funcionários que sequer trabalhavam. Tinha comissionado que despachava na sede da rádio que Luciano afirma ser do deputado, a Brasil Sul. Ele aponta Valtair Silva, vulgo Café, como uma das pessoas que estavam nessa situação. Café era organizador do campeonato de futebol amador da rádio do deputado, conta ele. ;Fui eu quem indiquei o médico para o Café fazer o teste admissional;, afirmou o ex-assessor. ;Mas ele nunca apareceu para trabalhar.; Segundo o braço direito do parlamentar pedetista, não havia 10 pessoas que efetivamente trabalhavam para o deputado, metade na capital e a outra parte em Londrina, o reduto político dele. Mas, contabiliza Luciano, havia o dobro de nomeados. Desde novembro, o Supremo Tribunal Federal (STF) investiga Barbosa Neto por ter se apropriado de recursos de funcionários da época em que era deputado estadual. Rádio e ONGs Luciano contou que o deputado se valia da rádio para fazer acertos financeiros. O chefe de gabinete disse que, com os recursos da verba indenizatória, pagava-se combustível para três automóveis da rádio e da mulher do parlamentar. Desde o início do mandato, o deputado já gastou R$ 38 mil ; embora ele tenha apenas, segundo Luciano, um carro à disposição do gabinete. ;Até eu já abasteci o meu carro;, admite o ex-funcionário. O homem forte do deputado testemunhou as negociações que culminaram na assinatura de um convênio entre a ONG Centro Integrado de Apoio Profissional (Ciap), presidida por Dinocarme de Oliveira, com o Ministério do Trabalho no fim do ano passado. Segundo ele, foi o deputado quem escolheu a entidade, apesar de seu chefe de gabinete tê-lo alertado das suspeitas de irregularidades sob investigação. ;O Dino me ajuda eleitoralmente. E se tiver problema, é com ele;, afirmou o deputado ao seu chefe de gabinete. O convênio de R$ 3 milhões, segundo afirma, é uma forma de compensação financeira pela ajuda que Dinocarme deu a Barbosa Neto na campanha passada e para a rádio, que é deficitária. Luciano conta que, numa certa ocasião, viu a mulher do deputado abrir a bolsa no carro. Dentro dela, estavam R$ 50 mil para pagar os funcionários da rádio. Luciano ficou no carro, mas notou quando o deputado, a mulher e o presidente do Ciap voltaram com o dinheiro. O ex-assessor político sustenta que uma das formas para justificar esses recursos da ONG era superfaturar o valor dos anúncios da faculdade Inesul, ligada à Ciap, na rádio. A parceria era tamanha que o deputado usava o jatinho particular de Dinocarme para se deslocar no estado, de acordo com o ex-funcionário. A reportagem enviou, por e-mail, detalhes da denúncia à assessoria do deputado na sexta-feira de manhã. Às 16h, o deputado retornou a ligação e disse que estava sendo ;vítima de uma chantagem;, ;uma armação eleitoral;. Às 17h54, mandou uma carta em que nega que Luciano era seu chefe de gabinete e o demitiu por seu ;comportamento amoral;, sem explicar qual. O deputado acusa o ex-funcionário, a quem ele diz que responde a inquérito por tráfico de entorpecentes, de ter dado drogas para Rogério no dia da gravação. Refutou ser sócio oculto da rádio. ;Eu saí a pedido, nunca tive envolvimento com drogas e reafirmo na frente dele o que disse;, rebate Luciano, que também é filiado ao PDT. Ele deixou as mesmas denúncias nas mãos do senador Osmar Dias, presidente do partido no Paraná. A reportagem não localizou as demais pessoas citadas por Luciano.

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