postado em 11/07/2008 11:41
O dono do Banco Opportunity Daniel Dantas, que cumpre prisão preventiva desde esta quinta-feira (10/07) na carceragem da Polícia Federal (PF) em São Paulo, deve ser ouvido na tarde desta sexta-feira (11/07) pelo delegado Protógenes Queiroz, responsável pela Operação Satiagraha, que investiga crimes de lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta, evasão de divisas, formação de quadrilha e tráfico de influência para obtenção de informações privilegiadas em operações financeiras.
Dantas seria o líder de uma das duas organizações investigadas pela Polícia Federal, especializada no desvio de verbas públicas e que teria criado o Opportunity Fund, uma offshore localizada no paraíso fiscal das Ilhas Cayman, no Caribe. De acordo com o procurador do Ministério Público Federal (MPF) em São Paulo, Rodrigo de Grandis, esse fundo movimentou quase US$ 2 bilhões entre 1992 e 2004.
Na tarde de ontem, antes de ser informado da prisão preventiva de Dantas, o advogado do banqueiro, Nélio Machado, convocou uma entrevista coletiva no escritório do banco Opportunity na capital paulista.
Antes de começar a coletiva, os jornalistas se surpreenderam com uma televisão que reproduzia todo o ambiente da coletiva, que foi transmitida simultaneamente para uma sala do Rio de Janeiro, que a assessoria do banco informou ser o escritório do Opportunity.
A entrevista, que deveria durar cerca de meia hora, segundo a assessoria do banco, foi interrompida com pouco mais de quinze minutos - momento em que se acredita que Machado tenha recebido a informação sobre a prisão de seu cliente pela Polícia Federal (o que ocorreu por volta das 15 horas). A interrupção gerou protestos dos jornalistas.
Durante o pouco tempo da coletiva, Machado reclamou do fato de não ter tido acesso ao inquérito do caso e negou conhecer a suposta tentativa de seu cliente em subornar um delegado da Polícia Federal para que seu nome fosse retirado das investigações. "Repilo qualquer acusação relacionada com suposto suborno", disse. Segundo a PF, o delegado teria recebido a oferta de US$ 1 milhão de duas pessoas ligadas a Dantas: Humberto Chicaroni, também preso preventivamente durante a operação, e Humberto Braz.
Machado também disse conhecer Humberto Braz, que trabalhou numa das empresas da Brasil Telecom e confirmou que Dantas também o conhecia. "Não nego, eles se conhecem. Não há dúvida". Mas afirmou desconhecer qualquer tentativa de Braz em oferecer dinheiro ao delegado.
Sobre a ligação de seu cliente com outros dois presos na operação, o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta e o megainvestidor Naji Nahas - que foram libertados na madrugada de hoje - Machado disse: "Celso Pitta não tem nenhuma ligação com Dantas. Najas representava interesses da Itália Telecom, diametralmente oposta à Brasil Telecom e ao Banco Opportunity (de Dantas). Daniel Dantas não tem ligação com Nahas e as relações que existiram entre eles foram de conflituosidade".
Às 16h56 desta quinta-feira, Dantas chegou novamente à carceragem da Polícia Federal. À noite, depois de visitar o seu cliente, Machado comentou o depoimento de Chicaroni à Polícia Federal que, segundo o Ministério Público Federal, teria detalhado toda a tentativa de suborno ao delegado federal. Aos jornalistas, Machado disse que ele e Dantas não conhecem "esse cidadão" e criticou a hipótese de a Procuradoria ter oferecido o benefício da delação premiada a Chicaroni.
"Eu não acredito que esse seja o método correto de investigar e não empresto credibilidade maior a alguém que mercadeja o depoimento em prol de um benefício consubstanciado ao que, ouvi dizer, em sua própria liberdade", afirmou.
Das 17 pessoas presas pela Polícia Federal na terça-feira (08/07) durante a Operação Satiagraha, apenas duas continuam presas: Daniel Dantas e Hugo Chicaroni.