Politica

PF flagra pagamento de propina a mulher de deputado

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postado em 14/07/2008 08:17
Apontado pela Polícia Federal como ;principal mentor do esquema criminoso; que desviou recursos públicos em cidades do interior de Minas Gerais, o deputado João Magalhães (PMDB-MG) escalou a mulher Renata para buscar propina no escritório do lobista João Carlos de Carvalho. Uma escuta ambiental feita com autorização da Justiça, a qual o Correio teve acesso, flagrou a mulher do parlamentar no escritório do lobista em Belo Horizonte, na tarde de 10 de dezembro passado. Para a PF, a propina refere-se a um adiantamento que Carvalho faria ao parlamentar devida por prefeitos para conseguirem a liberação de recursos federais para seus respectivos municípios. O grampo é a principal prova obtida pela PF contra o deputado. A gravação foi realizada seis meses antes de ser deflagrada, em seis estados, a Operação João de Barro, em 20 de junho, na qual foram presas 26 pessoas acusadas de fraudes em licitações de obras públicas, algumas incluídas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). No total, 119 prefeituras são alvos das investigações, a maior parte em Minas. A qualidade da gravação é tão boa que é possível ouvir os comentários e risadas sarcásticas de Renata e do lobista durante a contagem do dinheiro. O áudio chega a captar o barulho das notas de real sendo guardadas pela esposa do deputado. Renata sabe como agir. ;A gente coloca na sacola aqui;, diz a mulher de João Magalhães. ;Na rua, ninguém vai imaginar que tem dinheiro;, comenta o lobista. A PF estima que, pelo menos, R$ 20 mil foram repassados nessa negociata. Esses diálogos fazem parte do relatório feito pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, que embasou a operação da PF. Para Antonio Fernando, o deputado mineiro ;detém o domínio de todas as fases de atuação do grupo para o desvio de recursos públicos;. João Magalhães era o responsável por iniciar, já durante a elaboração do Orçamento, a atuação do esquema: reservava emendas parlamentares dele e de colegas da bancada mineira e adicionava mais recursos em programas do Executivo. Cabia ao lobista João Carlos de Carvalho, por sua vez, preparar os projetos com dinheiro do governo federal, junto às prefeituras. Com a verba disponível, o deputado exigia dos prefeitos uma comissão, por meio de intermediários, para liberar os recursos. Caso o prefeito não tivesse como honrar a comissão, o lobista fazia o adiantamento ao deputado. Foi o que ocorreu nesse diálogo. Meia horinha Na manhã daquele dia 10, uma segunda-feira, o lobista telefonou para o deputado a fim de combinar o modo de receber ;o projeto; ; segundo a PF, dinheiro. ;Me ligou (sic) cedo, hein?;, brinca João Magalhães. O parlamentar avisa ao lobista que, como viajaria horas depois para São Paulo, não poderia passar no escritório dele. E indica que a mulher receberia a encomenda à tarde. ;Eu vou pedir a Renata pra passar aí;, afirma. Logo depois da conversa com o deputado, o lobista organiza com suas secretárias o repasse do dinheiro. Às 13h30, João Carlos telefona para uma delas para avisá-la da visita. ;Se a esposa do deputado João Magalhães chegar aí, o nome dela é Renata, pede a ela para me aguardar;. João Carlos procurava por Missiany Madureira, tesoureira de sua empresa de consultoria. Localiza-a pelo telefone no momento em que, segundo a PF, a mulher do deputado já contava com ele uma parte do dinheiro. ;Eu deixei os R$ 15 mil meus com você, não deixei? Ou vinte, trinta, sei lá quanto era, eu nem sei;, pergunta o lobista. ;Comigo? Tem uns R$ 19 mil;, diz a tesoureira. ;Eu vou precisar;, diz João Carlos. Ao final de 20 minutos de conversa entre João Carlos e Renata, a tesoureira entra na sala. Para a PF, para entregar o restante do dinheiro. Depois disso, Renata coloca todo o dinheiro numa sacola, agradece ao lobista e se despede. O Supremo Tribunal Federal quebrou os sigilos bancário e fiscal de Magalhães, e bancário, do lobista. Carvalho foi preso na operação, enquanto o gabinete do parlamentar, vasculhado pela PF. Em nota, o advogado do deputado, Marcelo Bessa, disse que, por se tratar de material sob sigilo judicial, ;não pode esboçar qualquer comentário, não podendo sequer atestar a autenticidade de eventuais diálogos;. Em entrevistas anteriores, o deputado negou ser o mentor dos desvios. Admitia, porém, conhecer Carvalho. Pelo mesmo motivo, o advogado de João Carlos, Mayram Azevedo Batista Rocha, também disse que não iria se pronunciar. Colaborou: Alessandra melo, do Estado de Minas Fac-símiles dos documentos anexados ao relatório da Polícia Federal

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