Politica

Operação Satiagraha: Justiça aceita denúncia contra banqueiro Daniel Dantas

Banqueiro é acusado de tentar subornar delegado federal. Em interrogatório na PF, ele preferiu ficar calado

postado em 17/07/2008 09:35
São Paulo ; Beneficiado por decisões do Supremo Tribunal Federal (STF), que o libertou da cadeia por duas vezes em apenas 48 horas, o banqueiro Daniel Dantas passou nesta quarta-feira à condição de réu na Justiça Federal de São Paulo. O juiz Fausto Martin de Sanctis, que havia decretado as prisões, aceitou denúncia do Ministério Público Federal (MPF) e decidiu processá-lo por crime de corrupção ativa. O dono do Opportunity é acusado de tentar subornar um delegado federal para se safar do inquérito da Operação Satiagraha. Dantas esteve na Superintendência da PF, mas se calou ao ser interrogado sobre a acusação de crimes contra o sistema financeiro, que serão alvos de futuras denúncias do MPF.

O ex-dirigente da Brasil Telecom Humberto José da Rocha Braz e o consultor Hugo Sérgio Chicaroni, que estão presos, também vão responder à ação penal. Os dois são apontados como as pessoas que teriam sido encarregadas pelo banqueiro de negociar a propina com o policial, segundo as 11 páginas da denúncia do procurador Rodrigo de Grandis. O juiz marcou para a primeira semana de agosto os interrogatórios dos réus. A pena prevista para crime de corrupção ativa varia de dois a 12 anos de prisão.

Segundo o MPF, Dantas comandou toda operação clandestina. A convicção do Ministério Público se baseia em conversas telefônicas captadas, com autorização da Justiça, durante a investigação. No início de maio, após a publicação de reportagem sobre a existência do inquérito, foram flagrados telefonemas entre o banqueiro e Humberto Braz. Para os investigadores, as conversas se referiam à apuração que Dantas teria desencadeado para descobrir detalhes do caso e assim montar uma estratégia com o objetivo de estancá-lo.

Num dos diálogos, segundo avaliação do MPF, Dantas autorizou Braz a procurar o delegado Protógenes Queiroz, responsável pelo caso: ;Eu sei, mas minha pergunta é: se dá... se a gente já sabe quem é o endereço... se não podia entrar em contato?;, falou o banqueiro. A partir daí, segundo o procurador, se desenrolou a trama. O delegado Victor Hugo Ferreira foi escalado para servir de isca e, a partir daí, entrou a figura de Hugo Chicaroni, encarregado de fazer os contatos e negociar o valor da propina com o policial: ;Ele (Humberto) falou: ;eu tenho 500 mil dólares para tratar desde assunto;;, disse Chicaroni ao delegado. Em outro diálogo, eles chegam a falar em R$ 1 milhão.

Outro argumento utilizado pelo procurador da República Rodrigo de Grandis, aceito pelo juiz Fausto de Sanctis, foi o depoimento de Chicaroni. Ao prestar depoimento à PF, após ser preso na terça-feira da semana passada, o consultor confessou aos policiais que R$ 865 mil do total de R$ 1,2 milhão apreendidos na casa dele foram entregues por pessoas do grupo Opportunity, sob a coordenação de Humberto Braz.

Sanctis acatou sugestão do MPF para que seja aberto inquérito policial específico para apurar a conduta de Verônica Dantas, irmã do dono do Opportunity, e do advogado Wilson Mirza Abraham, que trabalha para Dantas. Mirza, segundo telefonema interceptado pela PF, foi a pessoa que teria acionado Hugo Chicaroni para buscar um contato com Protógenes. Outra providência aprovada pelo Judiciário foi o envio de ofício ao Banco Central para que a autoridade monetária, a partir da numeração das notas apreendidas na casa de Chicaroni, informe por quais instituições bancárias o dinheiro transitou até chegar às mãos do acusado.

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