Politica

Esplanada: Lula agora quer Dilma longe dos palanques

Apesar da campanha dos petistas para ter a ministra em comícios, o presidente prefere preservar sua melhor carta para 2010. No caso da restrição a José Múcio, é para não melindrar a base aliada

postado em 23/07/2008 09:01
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva interveio nos planos da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, de participar ativamente da campanha eleitoral deste ano. Nesta terça-feira, depois da reunião da coordenação política do governo, no Palácio do Planalto, Lula determinou à ;mãe do PAC; que não atue em comícios e programas eleitorais de rádio e televisão no primeiro turno. A decisão, que contraria a vontade de Dilma e de petistas próximos a ela, foi tomada por dois motivos.

O primeiro deles, destacado pelo presidente, é a necessidade de preservá-la de novos ataques, os quais teriam sido desferidos ; nos casos do dossiê com dados sigilosos do ex-presidente Fernando Henrique e da suposta venda irregular da Varig ao fundo Matlin Patterson ; devido à possibilidade de ela disputar a próxima sucessão presidencial. ;A Dilma é muito visada. Quando uma pessoa quer bater no governo, o primeiro alvo é ela;, disse um ministro.

O segundo motivo seria evitar que Dilma, ao prestigiar campanhas petistas, melindre outras legendas governistas, que podem ser decisivas para lhe dar condições de concorrer em 2010. Essa preocupação foi externada, em mais de uma ocasião, pelo titular de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro. A restrição à atuação eleitoral foi feita por Lula em tom de conselho, mas interpretada por Dilma como uma ordem. A ministra não escondeu a contrariedade e tentou argumentar. Lembrou, por exemplo, que já foi convocada por petistas a estrelar comícios e propagandas na televisão.

Os argumentos não dissuadiram o presidente. Lula deixou claro que Dilma tem de, como ele, se resguardar para o segundo turno, quando a intervenção do Palácio do Planalto na disputa pelas capitais tende a render menos queixa das outras 13 siglas que apóiam o governo, além do PT. ;No segundo turno, pode participar todo mundo;, afirmou um ministro. Por enquanto, há apenas uma exceção à regra fixada ontem. Dilma só poderá fazer campanha no Rio Grande do Sul, onde construiu carreira política, no primeiro turno.


Há ainda a possibilidade de prestigiar atos destinados a dar fôlego às candidaturas dos petistas Marta Suplicy, em São Paulo, e Luiz Marinho, em São Bernardo do Campo (SP). Isso só ocorrerá se o próprio presidente sair a campo para apoiar seus dois ex-ministros. Tal possibilidade é grande, conforme disse o chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho.

Roteiro suspenso
A idéia inicial de líderes petistas próximos a Dilma, como Henrique Fontana (RS) e Ideli Salvatti (SC), era levar a ministra para palanques Brasil afora e, assim, dotá-la de mais jogo de cintura e musculatura eleitoral. No mês passado, Dilma foi à capital paulista prestigiar Marta, quando a campanha ainda não havia começado de forma oficial. Nesta semana, vai a Porto Alegre se encontrar com a deputada federal Maria do Rosário (PT), que está no páreo pela prefeitura da capital gaúcha. Estava prevista também, por exemplo, uma viagem ao Rio de Janeiro.

;O melhor é a Casa Civil não participar;, declarou Lula ontem, arquivando o roteiro. Antes, na reunião da coordenação política, o presidente deu a entender que o governo garantirá visibilidade à ministra, só que reforçando seu papel de ;mãe do PAC;. Para tanto, o Palácio do Planalto quer melhorar a divulgação das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no segundo semestre. A avaliação de Lula, sempre otimista, é de que há muitos projetos em curso, mas a publicidade não está à altura das realizações.

Diante disso, os ministros foram orientados a compilar dados e decidir, em conjunto, a melhor maneira de tornar públicos os investimentos em curso na área de infra-estrutura. A idéia é mostrar que graças à eficiência da máquina federal o país cresce em ritmo acelerado e se tornou um canteiro de obras, apesar das incertezas no cenário econômico internacional.

Equipe liberada
Além de Dilma, só Múcio não terá liberdade irrestrita para participar das campanhas desde o primeiro turno. Por ser coordenador político e lidar com os 14 partidos da coalizão governista, o ministro achou por bem ficar distante dos palanques e da propaganda eleitoral gratuita. No caso dele, também haverá exceção. Múcio poderá atuar com desenvoltura nas campanhas em Pernambuco, estado pelo qual se elegeu deputado federal. Afinal de contas, tem que cuidar de seus redutos eleitorais.

Ele cogita ainda uma viagem a Santa Cruz do Sul, a fim de ajudar Kelly Moraes (PTB), sua colega de partido, na disputa pela prefeitura do município. Por pressão de PMDB e PT, que controlam as mais importantes pastas da Esplanada dos Ministérios, os demais ministros atuarão como bem entenderem.

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