Politica

Operação Satiagraha: MST invade terra suspeita

Fazenda de propriedade do grupo Opportunity é ocupada no Pará. Instituto do governo estadual investiga indícios de que a área seja pública

postado em 26/07/2008 08:22
Alvo de investigações da Polícia Federal no inquérito da Operação Satiagraha, a Agropecuária Santa Bárbara Xinguara, do grupo Opportunity, teve uma de suas terras invadidas ontem no Pará. Localizada em Xinguara, cidade a 25km de Eldorado dos Carajás, a Fazenda Maria Bonita foi ocupada pela manhã por mil integrantes do Movimento dos Sem-Terra (MST). O Instituto de Terras do Pará (Iterpa), ligado ao governo do estado, investiga indícios de que a origem da terra seja pública. Esse foi o argumento do MST para justificar a ação. Embora não exista ainda uma conclusão por parte do Iterpa, o movimento sustenta que a área adquirida em 2005 pela Santa Bárbara é pública e deve ser destinada aos trabalhadores rurais. ;Terras públicas são para a Reforma Agrária;, sustentou Ulisses Manaças, um dos coordenadores do movimento no Pará. Manaças também vinculou a ação às irregularidades atribuídas pela PF ao banqueiro Daniel Dantas na Satiagraha. Em nota divulgada no final da tarde, o governo do Pará, comandado pela petista Ana Júlia Carepa, informou que, por meio da Secretaria de Segurança Pública, ;está acompanhando o desenrolar da ocupação, pelo MST, da fazenda Moça Bonita, em Eldorado do Carajás, do banqueiro Daniel Dantas;. Ainda de acordo com o comunicado, o Iterpa realiza um ;rigoroso levantamento; para identificar as circunstâncias e o montante de terras adquiridas no sul do Pará pelo Opportunity. De acordo com o inquérito da Satiagraha, presidido pelo delegado Protógenes Queiroz e enviado à Justiça Federal de São Paulo, foram levantados indícios de que o grupo comandado por Dantas lavava dinheiro por meio do agronegócio montado no sul do Pará. Após ingressar no setor em 2005, o grupo seria hoje dono de 600 mil hectares de terras e de meio milhão de cabeças de gado. A Xinguara está sob comando de Carlos Rodemburg, ex-marido de Verônica Dantas, irmã do dono do Opportunity. A atuação de Rodemburg estaria voltada, segundo a PF, ;à execução de investimentos efetivados nos setores do agronegócio e mineração com indícios de perpetração de delitos de ;lavagem; de valores na aplicação dos recursos destinados a essas modalidades de negócios;. Crimes financeiros Os documentos que fazem referências a negócios rurais de Dantas e do Opportunity serão analisados pela nova equipe escalada pela cúpula da PF para dar continuidade ao trabalho iniciado por Protógenes. Serão investigados crimes financeiros como evasão de divisas e lavagem de dinheiro. Procurado pelo Correio pelo terceiro dia consecutivo, o advogado Nélio Machado, que defende os interesses de Daniel Dantas, não retornou aos recados deixados com sua secretária. A informação era a de que ele estaria em reunião e que retornaria mais tarde, o que não ocorreu até as 21h30. No Pará, a Santa Bárbara informou que pedirá à Justiça a reintegração de posse, negou irregularidades na aquisição da terra e sustentou que a fazenda é produtiva. Liminar para Greenhalgh O presidente interino do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Cezar Peluso, concedeu ontem uma liminar ao ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh permitindo a ele ter acesso aos autos da Operação Satiagraha, da Polícia Federal (PF), que prendeu Daniel Dantas. Greenhalgh, que realizou consultoria para o banqueiro, foi flagrado em escutas telefônicas feitas durante a investigação. Peluso estendeu ao ex-deputado decisão anterior, do ministro Gilmar Mendes, que permitiu ao senador Heráclito Fortes (DEM-PI) ter acesso às informações. Nesta semana, os advogados de Fortes viajaram para São Paulo para tirar cópias da investigação. A defesa entrou com representações no Ministério da Justiça e na PF contra o delegado Protógenes Queiroz, afastado das investigações. Já o Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou ontem liminar a Humberto Braz, braço direito de Dantas. Com isso, ele vai continuar preso e sem direito à fiança. A negativa foi do ministro Cesar Asfor Rocha, que preside interinamente o tribunal. Ele ressaltou que há justificativa para a decisão que decretou a prisão preventiva de Braz.

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