postado em 27/07/2008 07:59
No inquérito da Operação Satiagraha, o delegado Protógenes Queiroz levantou suspeitas sobre a atuação de uma série de personagens: auxiliares diretos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, empresários e jornalistas. Uma parte dessas acusações acabou direcionada ao ministro de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, apontado pelo policial como um dos aliados do banqueiro Daniel Dantas no que se refere ao novo foco de interesse do grupo Opportunity: a Amazônia. ;Ao que tudo indica, (Mangabeira) estrategicamente favorecia a política de expansão no Norte do país buscada por Dantas;, descreve o relatório de inteligência n; 8/2008, de 14 de maio.O policial não apresentou provas dessa suposta relação, mas recheou o inquérito com referências a Mangabeira que o fizeram acreditar nessa tese. O procurador da República Rodrigo de Grandis, que atua no caso em São Paulo, começou a analisar o teor de todas elas e, se tiver a mesma convicção, levará o caso ao procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, autoridade competente para investigar ministros.
Em 11 de abril, a PF captou uma conversa que parece ser um dos principais elementos de Protógenes para sustentar a suspeita. Trata-se de um diálogo travado entre Dantas e o publicitário Guilherme Sodré, apontado como lobista dos interesses do dono do Opportunity. Sodré perguntou ao banqueiro se seria seguro lhe transmitir um documento por fax, algo que estaria relacionado à ;turma de Mangabeira;. Dantas responde que sim.
Ao juntar essa conversa a outros telefonemas interceptados no mesmo dia, a PF fez a seguinte anotação: ;Através do conjunto de ligações pode-se concluir que a origem do documento está ligada ao governo e Guilherme passa para Daniel informações estratégicas do governo;. Num outro trecho do relatório, a partir também de conversa monitorada, a polícia concluiu que esse documento teria sido escrito pelo próprio Mangabeira. Não existe qualquer explicação, porém, sobre quais ;informações estratégicas; seriam essas.
Mangabeira foi empossado em junho do ano passado pelo presidente Lula para cuidar da estratégia de longo prazo do governo. Um dos temas sob a batuta do filósofo da Universidade de Harvard é a Amazônia, para onde Dantas direcionou parte dos investimentos nos últimos três anos. O Opportunity aposta em mineração e agronegócio. Para o delegado Protógenes, a estratégia do banqueiro teria um empurrãozinho do ministro.
Antes de ser um colaborador do presidente, Mangabeira atuou como advogado da Brasil Telecom nos Estados Unidos entre 2002 e 2005, período em que recebeu da empresa então controlada por Dantas cerca de US$ 2 milhões pelos serviços prestados. Depois, entre 2006 e 2007, ele atuou como trustee (espécie de procurador) da empresa telefônica.
Procurada pelo Correio, a assessoria de Mangabeira afirmou que o ministro, desde sua posse no governo, não teve mais contatos com pessoas do grupo Opportunity. E rebateu as referências feitas ao filósofo nos relatórios da PF. O ministro espera que o delegado aponte concretamente quais seriam as supostas irregularidades, pois entende que só há ilações.
Mangabeira cita como exemplo transcrição de diálogo de 14 de maio anexada por Protógenes ao inquérito da Satiagraha. De acordo com o relato, o ex-deputado petista e advogado Luiz Eduardo Greenhalgh e Humberto José da Rocha Braz, ex-presidente da Brasil Telecom e apontado como braço direito de Dantas, falam sobre ;ir ao Mangabeira para extrair coisas;. A assessoria do ministro informou que ele não recebeu qualquer emissário de Dantas. Greenhalgh e Braz são acusados de atuar como lobistas para Dantas.
A nova equipe de policiais destacados para conduzir as investigações a partir de agora, com o afastamento de Protógenes, vai investigar indícios de irregularidades em negócios do Opportunity na Amazônia. Apenas no Pará, o grupo é dono de 600 mil hectares de terras e de meio milhão de cabeças de gado. Uma das propriedades foi invadida na última sexta-feira pelo Movimento dos Sem-Terra (MST).
Na semana passada, o Correio publicou diálogos entre Dantas e Guilherme Sodré que sugerem alguma sociedade entre o banqueiro e o milionário sueco Johan Eliasch, da ONG Cool Earth e que anunciou recentemente ter comprado terras na Amazônia. Numa ligação gravada pela PF, Sodré disse ao banqueiro que ;por trás de Johan estaria ele (Dantas);. Eliasch enviou nota ao Correio na qual afirmou que não tem negócios com o Opportunity. O advogado Nélio Machado, que defende o banqueiro, foi procurado pela reportagem por três dias consecutivos, entre quarta-feira e sexta, mas não retornou as ligações.
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