postado em 28/07/2008 08:35
Apesar de a Igreja Católica proibir a atuação partidária de padres, muitos deles vêm buscando formas de aumentar a sua participação político-eleitoral. Segundo a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), os sacerdotes não podem fazer parte de partidos ou se lançar candidatos. O veto está expresso no Código de Direito Canônico, de 1983, um conjunto de regras que tem o objetivo de nortear a atuação dos religiosos. Mas, na prática, uma boa conversa pode ser capaz de resolver os impasses.;A proibição é clara e está no Código de Direito Canônico. Mas, quando o padre insiste em ser candidato, vale mesmo a conversa com o bispo da diocese dele;, explicou o assessor de imprensa da CNBB, padre Geraldo Martins Dias. Segundo ele, cabe a cada bispo decidir se libera ou não o religioso para deixar a batina de lado na hora de correr atrás dos votos. ;Eles normalmente deixam as suas funções. Mas cada bispo trata do assunto com o padre da sua diocese e estabelece o que deve ser feito. Muitos são candidatos com consentimento do bispo. Uma das orientações possíveis é a permissão de celebrações particulares, por exemplo;, explicou o assessor.
Recorrer ao bispo é a alternativa daqueles que não querem deixar permanentemente a batina. O recurso do diálogo com a autoridade religiosa torna-se ainda mais necessário porque, no Brasil, a posição contrária à participação partidária foi reforçada com uma declaração da CNBB, em abril. O documento ressalta que a ética deve guiar os políticos para combater a cultura da corrupção. A CNBB diz, no entanto, que não cabe aos padres assumir compromissos políticos. ;A Igreja tem como tarefa iluminar as consciências dos cidadãos, despertando as forças espirituais e promovendo os valores sociais, através da pregação e do testemunho;, destaca a entidade, em trecho da declaração.
Entorno
No Entorno do Distrito Federal, não é difícil encontrar padres que apostam todas as fichas na disputa eleitoral. Em Santo Antônio do Descoberto, o ex-prefeito Getúlio de Alencar, mais conhecido como Padre Getúlio (PMDB) disse que não celebra missas no município, mas ressaltou que não vai deixar de usar o nome na urna eletrônica. ;Um sacerdote não abre mão disso. Nem no céu nem no inferno;, disse o religioso.
Padre Getúlio e outros três dos oito candidatos à prefeitura de Santo Antônio do Descoberto estão na mira do Ministério Público Eleitoral, que pediu a impugnação dos registros. Mas o ex-prefeito diz, em sua defesa, que há uma orquestração jamais vista contra ele.
Já no município de Cidade Ocidental, a 48km de Brasília, Frei Francisco (PMDB) chama a atenção entre os candidatos. Conhecido pela fama de conversador, disse que deixou de celebrar missas há três meses para dedicar-se à campanha e que não vai usar a batina até as eleições. ;Dizem que eu não deveria entrar na política para me contaminar. Mas prefiro acreditar que um feixe de luz é capaz de iluminar as pessoas ao redor;, declarou.
Segundo a Justiça Eleitoral, nas eleições municipais de outubro há 554 candidatos a vereador, 31 candidatos a prefeito e 17 a vice-prefeito que declararam, ao fazer seus registros, ser ;sacerdotes ou membros de ordem ou seita religiosa;. Pelos dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não é possível, no entanto, saber quais são as religiões daqueles que pleiteiam cargos públicos.
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