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Paz na campanha de Abadiânia: candidatos a prefeito são amigos

Na cidade goiana, os dois candidatos a prefeito são amigos. Eles estabeleceram regras de convívio, pelas quais os cabos eleitorais não podem usar camisetas ou bonés e é proibido pichar os muros

postado em 28/07/2008 08:37 / atualizado em 09/11/2020 10:10

O médico Itamar Gomes e o advogado Wilmar Arantes são velhos amigos. Recentemente, almoçaram juntos no restaurante da família Carlotto em Abadiânia, cidade do Entorno a 120km de Brasília. Depois desse encontro, os dois se viram num velório. No último 10 de julho, reuniram-se no cartório eleitoral da cidade. Em comum, a política. O médico é o prefeito da cidade e candidato à reeleição. O advogado é o seu único adversário na disputa. Na pacata Abadiânia, de 12 mil habitantes e 9,6 mil eleitores, ninguém fala em briga eleitoral, guerra nas urnas ou coisa parecida. O clima é de tranqüilidade. Nem os eleitores se confrontam. Pelo contrário. A ordem é não provocar. “A eleição é de paz”, diz Arantes. Ouça a explicação do advogado Wilmar Arantes (PR) - único adversário do candidato à reeleição, Dr. Itamar (PP) - sobre o clima de paz estabelecido nas eleições para a prefeitura de Abadiânia: Um acordo entre os dois candidatos estabeleceu regras de convívio durante a campanha. Regras que impedem, por exemplo, até os cabos eleitorais de usarem camisetas e bonés. Estão proibidos ainda muros pichados, mesmo que o dono do imóvel permita. Carros de som, somente entre as 8h e as 18h. O jeito é bater de porta em porta atrás de votos. Seja na zona urbana, seja na rural. “É uma experiência incrível. A gente não invade as casas, mas batemos na porta, todo dia saímos visitando”, conta, conformado, Arantes, filiado ao PR. Sua chapa ainda inclui a parceria inusitada entre PSDB e PT, além de PV e PTB. O comitê de campanha dele fica na avenida principal de Abadiânia. Duas casas o separam do quartel-general do candidato à reeleição, filiado ao PP e coligado ao PMDB ao PPS. “Fico espremido entre um e outro”, brinca Alonso Honorato, 75 anos, vizinho dos dois candidatos, mas primo do que tenta tirar o atual prefeito do cargo. A decisão de estabelecer a paz e a limpeza das ruas foi tomada por eles num encontro no Fórum da cidade. A promotora eleitoral do município, Cristiane Marques de Souza, comemora. “É minha primeira eleição aqui, e o clima, por enquanto, está tranqüilo. Fico feliz porque estão todos cumprindo as regras”, diz ela. Apesar da calmaria, os moradores da cidade já respiram as eleições. Nas ruas, não é difícil encontrar um parente dos candidatos a prefeito e também dos vereadores. No total, 37 pessoas tentarão conseguir uma das nove vagas na Câmara Municipal. Entre elas o marido de Olga Marques, Luiz Paulo, presidente do diretório do PV na cidade. “Eu acho certo essa campanha limpa, e cidade não fica suja como a vizinha Anápolis”, cutuca a mulher do candidato. Estrutura Quando o assunto é dinheiro, o jogo é diferente. O atual prefeito, conhecido como Dr. Itamar, promete gastar, no máximo, R$ 150 mil na campanha. Já Wilmar fala em R$ 400 mil. O primeiro diz ter um patrimônio de R$ 35 mil, e o segundo, R$ 613 mil. Os adversários do prefeito, no entanto, dizem que ele tem a seu favor a máquina administrativa em mãos, que pode fazer a diferença. Embora seja amigo do prefeito, Wilmar não poupa críticas à administração do dr. Itamar. Para vencê-lo este ano, escalou como vice Marquinhos, do PMDB. Em 2004, os dois saíram separados — ambos como cabeça de chapa — e perderam para o dr. Itamar. Agora, uniram-se para derrotá-lo. O ponto fraco do adversário, apostam, está na promessa não cumprida de que construiria um hospital para a cidade. “Não é nada pessoal, mas ele não teve muito sucesso na sua administração”, afirma Wilmar. O Correio esteve em Abadiânia na sexta-feira. O coordenador de campanha do Dr. Itamar, José Augusto Paralovo, informou que o patrão estava pedindo votos na zona rural da cidade. Ele não só confirmou o bom relacionamento com o adversário, como avisou que deu uma ordem aos cabos eleitorais do candidato à reeleição: “Se eu souber que há desavença, vou retirar o cabo eleitoral da campanha. Não admito agressões”. Leia mais no Correio Braziliense

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