postado em 29/07/2008 08:42
Principal programa social do governo federal, o Bolsa Família virou arma de campanha de todos os lados na eleição municipal deste ano. Candidatos aliados e adversários do presidente Luiz Inácio Lula da Silva contrariam orientação oficial do Palácio do Planalto e começam a elaborar estratégias para capitalizar o programa e transformá-lo em votos.Alguns candidatos, aliás, têm ido além do uso político com promessas em cima da bandeira federal. A pequena cidade de Marechal Deodoro (AL), por exemplo, sabe bem o que é isso. O município tem pouco mais de 45 mil habitantes e 4.855 famílias beneficiadas pelo Bolsa Família. Candidato de um partido da base governista, Euclides Mello (PTB), primo do senador Fernando Collor (PTB), tem divulgado na cidade que é apoiado por Lula e, por isso, aumentará o benefício do programa social se for eleito.
Já a oposição busca um outro discurso: garante ao eleitor que, se vencer, o programa não acabará na cidade. Pelo contrário. Poderá até crescer. É o que promete o tucano e deputado Carlos Sampaio, que disputa a prefeitura de Campinas, interior paulista, contra o candidato à reeleição, Dr. Hélio (PDT), apoiado pelo governo Lula. ;O critério do Bolsa Família é técnico e não pode ser alterado por um resultado eleitoral. E, se vencermos, vamos implementar um programa de renda mínima na cidade que não seja assistencialista como o atual;, diz Sampaio. O PSDB, aliás, reivindica a um ex-prefeito de Campinas filiado ao partido, Magalhães Teixeira (já falecido), a paternidade do programa.
Cabo eleitoral
Com 11,1 milhões de famílias em todo o Brasil, o programa tem o selo de um forte cabo eleitoral. Por causa dele, por exemplo, o ministro Patrus Ananias (Desenvolvimento Social) tornou-se um dos presidenciáveis do PT para a sucessão de Lula, em 2010. Ele próprio encaminhou uma carta aos mais de 5.500 prefeitos pedindo cautela ao utilizar o Bolsa Família durante o período eleitoral.
A campanha do tucano Manoel Salviano, candidato em Juazeiro do Norte (CE), também se prepara para o debate sobre o Bolsa Família e descarta qualquer hipótese de criticar ou sugerir correções ao programa, que beneficia 23.848 famílias na cidade. No máximo, tentará desqualificar o adversário petista Manuel Santana se ele propuser algum projeto usando a bandeira federal.
O candidato do PMDB à Prefeitura de Belo Horizonte, Leonardo Quintão (PMDB), acredita que todos os candidatos da base do governo levantarão bandeiras federais para tentar angariar votos. ;A simpatia do voto da base se ganha ao defender as bandeiras de programas que dão certo;, diz o peemedebista. ;Ninguém vai criticar o programa. Vão falar de propostas, de alternativas de expansão dos benefícios (para ganhar eleitores);, acrescenta Quintão.
Parcerias
É essa estratégia que vem sendo utilizada por Eduardo Paes (PMDB), candidato no Rio de Janeiro, que vem tentando colar seu discurso nas realizações do governador Sérgio Cabral (PMDB) e nas parcerias com o governo federal nas obras de infra-estrutura. Até pouco tempo atrás, Paes era secretário-geral do PSDB e um crítico ferrenho do governo Lula.
Já o candidato do PSDB em Campina Grande, Rômulo Gouveia, adota outra postura. Tenta alertar o eleitor de que não adianta fazer promessas em cima da bandeira governista porque o município não tem nenhum poder administrativo para decidir o valor dos benefícios. ;A prefeitura tem instrumentos para fazer a distribuição, mas não tem poder para aumentar o benefício. Esse discurso aqui em Campina Grande, que tem alto grau de conscientização política, não vai colar;, afirma o paraibano do PSDB.
Para o cientista político David Fleisher, da Universidade de Brasília (UnB), essa polêmica faz parte do jogo eleitoral. Ele lembra que, quando estava no comando do Palácio do Planalto, a oposição usou o Plano Real como bandeira nas eleições municipais de 1996 e 2000. ;Cada um joga com as cartas que tem. Se quiser aproveitar o Bolsa Família, caberá à oposição lembrar que o aprovou no Congresso.;
CAPACITAÇÃO
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, no programa semanal Café com o Presidente, que o objetivo de fornecer cursos para capacitar 185 mil beneficiários do programa Bolsa Família na área da construção civil é permitir que as pessoas ;aprendam uma profissão; e ;possam ganhar seu sustento, sem ajuda do governo;. ;Quanto mais gente trabalhar, mais porta de saída do Bolsa Família vai acontecer em nosso país;, afirmou o presidente.
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