Jornal Correio Braziliense

Politica

Iniciativa de negociar votos também parte de eleitores

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Uma das práticas mais combatidas pela Justiça eleitoral, a compra de votos, é quase sempre abordada com o foco no candidato, que oferece facilidades, dinheiro, objetos em troca da promessa de apoio. Mas nem sempre a iniciativa é do político. Há situações em que o movimento parte do próprio eleitor. Nesses casos, donos de comércio que resolveram concorrer em outubro são os mais vulneráveis ao assédio popular. Os pedidos são variados. Desde uma cesta básica a um botijão de gás, ou mesmo uma bola de sorvete. Ronaldo José Rocha Mota tentará uma vaga de vereador na Cidade Ocidental. Decidiu concorrer ao Legislativo da cidade de Goiás depois de ficar conhecido em Friburgo ; bairro onde mora ; com a venda de gás. Na redondeza, ele é chamado de Rony Gás. Desde que a notícia sobre a sua candidatura se espalhou, Rony foi várias vezes abordado por potenciais eleitores em busca de gás. Mas de graça. No começo, tentou a estratégia de explicar em detalhes as punições para o político que faz doações em época de campanha. Cansado da procura por gás fiado, decidiu sair do negócio. Alugou a distribuidora que mantém ao lado da casa onde mora. ;Agora, toda vez que alguém me pede, eu digo que não é mais comigo;, conta. Apesar de ter se afastado da loja, Rony preocupa-se em manter o espírito do negócio que o empurrou para a política. ;Fiquei conhecido por causa da venda de gás. Se as pessoas ligavam às 10h da manhã ou às 10h da noite, eu sempre atendia;, diz. Cesta básica Hildo do Candango (PSB) é um dos três candidatos a prefeito em Águas Lindas ; distante 50km de Brasília. Dono de um supermercado na cidade de 250 mil habitantes, o concorrente também decidiu se afastar do negócio para se dedicar à campanha e se desviar dos pedidos de cesta básica. ;Dessa forma fica mais fácil evitar a abordagem. Mesmo assim, quando acontece algum caso, eu cito logo o artigo da lei eleitoral para ficar bem claro que não é caso de má vontade;, diz o candidato, que é proprietário de uma loja de 1,7 mil m² e paga uma equipe de funcionários para tocar o negócio enquanto participa da disputa eleitoral. A terceirização do serviço no caso de Otacizio Fernandes dos Santos é impossível. Ele é o dono e funcionário de uma sorveteria em Água Fria de Goiás, cidade com cerca de 5 mil habitantes no interior goiano. Em outubro, disputará vaga de vereador pelo PRP. É a segunda vez que tenta a carreira política. ;Minha campanha é aqui dentro. Peço aos clientes da sorveteria para que possam me ajudar com votos. Não tem como sair daqui, por isso é um trabalho de formiguinha;, define. O candidato relata que muitos clientes pedem sorvete de graça em troca de votos. Mas ele garante que não burla a legislação eleitoral e que veda a prática. No cotidiano, o relacionamento com os fregueses acaba ficando tenso. ;É difícil. Muitos me pedem sorvete de graça e depois ficam com raiva quando digo que não posso dar. Eles não entendem que isso acabaria dificultando os meus planos.; Leia mais na edição impressa do Correio Braziliense