postado em 17/08/2008 12:38
O depoimento do diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Paulo Lacerda, na próxima quarta-feira, à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Grampos pode complicar seu futuro no governo Lula. Se convencer os deputados de que não há irregularidades nas atividades do órgão que dirige desde outubro passado, fica no posto. Caso contrário, pode acelerar um processo de fritura que já começou, e que passa por negociações na Câmara. Um deslize de Lacerda na CPI selará seu destino, uma vez que atualmente ele não conta com sustentação política na Esplanada dos Ministérios nem no Congresso Nacional.
Três fatos ocorridos nos últimos dias deixaram Lacerda na berlinda. O primeiro foi quando o delegado Protógenes Queiroz admitiu que um agente da Abin participara informalmente da Operação Satiagraha, desencadeada em julho. Outra denúncia é a de que arapongas tentaram espionar o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes. A última partiu do banqueiro Daniel Dantas, controlador do Opportunity, que afirmou à CPI na semana passada que a ação da Polícia Federal, que o prendeu por duas vezes, foi uma represália contra ele, por ter vazado um suposto relatório no qual registraria remessas de dinheiro de Lacerda para o exterior.
Da primeira acusação, a Abin afirmou que participa de ações com outros órgãos públicos, incluindo a PF. ;A direção-geral não tem e não teve nenhuma participação ou iniciativa, muito menos ingerência, nos fatos que resultaram na referida operação;, informou a agência em nota, na época da Operação Satiagraha.
Reservadamente, os deputados da CPI não se convenceram dessa explicação oficial. ;Não existe isso de atuação formal ou informal da Abin. Se existiu, é grave;, afirmou um deputado da cúpula da comissão. O Palácio do Planalto também não se satisfez com os esclarecimentos e, por isso, pediu ao chefe de Lacerda, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Jorge Armando Félix, a apuração sobre o caso. Com o aval da cúpula, a PF em Brasília abriu investigação para saber qual foi a real participação da Abin de Lacerda. Para impedir uma guerra entre a PF e a Abin, o ministro Tarso Genro vai mediar amanhã um encontro para harmonizar a forma de trabalho com os chefes dos dois órgãos.
A Abin está sob fogo também por causa da denúncia de que Gilmar Mendes teria sido espionado em seu gabinete. Integrantes da CPI querem saber o que a agência fez para impedir tal ação. Também não descartam a participação direta de arapongas nessa ação. Antes disso, surgiu a acusação de que arapongas filmaram assessores do presidente do Supremo em reunião com o advogado Nélio Machado, defensor de Daniel Dantas. Novamente, a agência negou os dois fatos. ;A Abin não realiza e não realizou monitoramento de comunicações, em qualquer lugar público ou privado;, respondeu a direção.
Aliados
A acusação que tem menos poder de acertar Lacerda é o depoimento de Dantas, que acusou o diretor da Abin de ter feito a Operação Satiagraha para atingi-lo. O motivo seria um relatório atribuído ao banqueiro, com supostas movimentações bancárias de Lacerda. Para agentes da Abin, PF e alguns parlamentares, o controlador do Opportunitty tentou reverter o quadro, passando de acusado para vítima.
Avesso a política, Paulo Lacerda não conta com muitos aliados no Congresso, principalmente na Câmara. As operações da Polícia Federal, realizadas nos quase cinco anos em que dirigiu a corporação, também afetariam a relação da PF com alguns parlamentares, principalmente por causa do excesso de holofotes. Seu principal fiador político no governo é o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, conselheiro do presidente Lula. Para assessores, o diretor da Abin afirma que está tranqüilo e esta será uma oportunidade de esclarecer todos os assuntos pendentes, relacionados à área de inteligência e às denúncias que vêm sendo feitas.
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