postado em 19/08/2008 16:43
O deputado Raul Jungmann (PPS-PE) protocolou requerimento nesta terça-feira (19/08) na CPI das Escutas Clandestinas da Câmara com o pedido de realização de acareação do delegado Protógenes Queiroz com o banqueiro Daniel Dantas, do grupo Opportunity. Como os dois apresentaram à comissão versões distintas sobre os rumos da Operação Satiagraha, da Polícia Federal, o deputado quer colocá-los frente a frente para esclarecer pontos "contraditórios" dos depoimentos.
"Algumas pessoas estranharam o fato de fazermos acareação entre o investigador [Protógenes] e o investigado [Dantas]. Mas isso não é limitação. Para a CPI, ambos são testemunhas que podem colaborar com os trabalhos", disse Jungmann.
Segundo o deputado, Dantas se colocou à disposição da CPI para participar de uma eventual acareação com Protógenes. O delegado, por sua vez, disse por meio do seu advogado estar disposto a ficar frente a frente com Dantas para esclarecer acusações feitas pelo banqueiro sobre a conduta da PF na Operação Satiagraha.
O advogado de Protógenes, Renato Andrade, disse à reportagem que o delegado poderá esclarecer afirmações de Dantas na CPI se a acareação for aprovada pelos integrantes da comissão. "Se a CPI definir pela acareação, será a oportunidade do delegado esclarecer o episódio frente a frente com o Daniel Dantas. Não é interesse dele [Protógenes] a acareação. Mas se definirem que ela deve ocorrer, é a oportunidade dele explicar afirmações que não são verdadeiras", disse Andrade. Em seu depoimento à CPI, Dantas disse que Protógenes teria lhe afirmado estar disposto a "ir até o fim" na Operação Satiagraha, da Polícia Federal --o que incluiria investigar o filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O advogado afirmou que as afirmações de Dantas são falsas e têm como objetivo "desmerecer" o delegado Protógenes nas investigações. "É uma tática interessante de uma pessoa que quer desmerecer a outra. Nenhum pai gosta de saber que alguém está investigando seu próprio filho. Foi uma tentativa de criar uma situação de antagonismo entre o delegado e o presidente", afirmou o advogado. Em entrevista à Folha, Protógenes disse que o banqueiro Daniel Dantas pretende "tumultuar" os processos judiciais que apuram supostas gestão fraudulenta e corrupção de policiais federais atribuídos a Dantas e ao grupo Opportunity.
No depoimento à CPI, o banqueiro afirmou que o delegado lhe disse, na carceragem da PF em São Paulo, que pretendia investigar a venda da Brasil Telecom para a Telemar --o que incluiria Fabio Luís Lula da Silva, conhecido como Lulinha.
A Telemar é suspeita de injetar R$ 5 milhões na empresa Gamecorp, de propriedade de Fabio Luís. Em 2004, a Telemar investiu o montante para virar sócia minoritária da Gamecorp. O valor correspondia a 96% do capital social da empresa, que era de R$ 5,2 milhões.
Abin
Jungmann espera que a CPI coloque em votação esta semana uma série de requerimentos pendentes, entre eles o que sugere a acareação de Dantas e Protógenes. Os dois só serão convocados a comparecer à CPI se o pedido de Jungmann for aprovado pela maioria dos integrantes da comissão.
Nesta quarta-feira, a CPI vai ouvir o depoimento do diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Paulo Lacerda ---que se colocou à disposição da comissão para esclarecer as afirmações de Protógenes sobre a participação de agentes da agência na Operação Satiagraha. Lacerda também quer esclarecer denúncias de que a Abin teria monitorado o gabinete do presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes, durante a operação. O depoimento do diretor da agência de inteligência do governo ganhou mais força na semana passada, quando Dantas disse à CPI que Lacerda teria "armado" a Operação Satiagraha --a qual ele já comandou-- em represália a um suposto dossiê montado pelo banqueiro com informações sobre contas dele no exterior. A Folha Online apurou que Lacerda quer explicar aos integrantes da CPI detalhes sobre a atuação da agência em operações policiais, além de negar o grampo no gabinete de Mendes. O diretor da Abin ainda tem como objetivo refutar as acusações de Dantas no que diz respeito à "armação" da Operação Satiagraha --que era o diretor-geral da PF no período em que as investigações tiveram início.