Ação policial, ocultação de provas e ameaça de morte. Ingredientes de um filme de suspense, se não fossem dentro do próprio Senado Federal. Um depoimento até hoje mantido sob sigilo reforça a suspeita de que o comando da Casa escondeu provas da Operação Mão-de-Obra, feita pela Polícia Federal em 26 de julho de 2006 para desmontar uma quadrilha que fraudava licitações com a ajuda de servidores públicos. O alarme da sala do diretor-geral do Senado, Agaciel Maia, chegou a disparar na madrugada de 24 de julho daquele ano, quando um segurança chamado Valdeck, que seria assessor dele, subiu ao local. A informação faz parte dos depoimentos dados pelo segurança Marinalvo Gomes Araújo ao Ministério Público Federal e à Polícia Legislativa do Senado. O Correio teve acesso à íntegra de todos esses relatos, dados dois meses após a ação da PF.

Bate-boca entre policiais da Casa De acordo com Marinalvo Araújo, o diretor-geral Agaciel Maia chegou às 6h30 para trabalhar em 25 de julho de 2006, um dia antes da Operação Mão-de-Obra, que tinha como objetivo vasculhar a sala dele. ;O depoente percebeu que o diretor Agaciel estava nervoso;, diz o documento. ;O depoente pôde afirmar que nunca presenciou o diretor Agaciel Maia tão cedo no Senado Federal;, ressalta. O Correio teve acesso não só ao depoimento de Marinalvo, como também ao que foi dito por outros policiais do Senado. Dois colegas do segurança, José Milton de Moraes Neto e Rauf de Andrade Mendonça, respaldaram a seriedade de Marinalvo e informaram que o segurança Valdeck era assessor de Agaciel. Todos esses seguranças participaram de uma reunião às 17h de 14 de setembro na sala do diretor da polícia, Pedro Araújo, subordinado a Agaciel. Esse encontro foi tenso, segundo os depoimentos. Araújo perguntou a Marinalvo o que ele havia visto naquela semana de julho. E o segurança confirmou a versão de que presenciou Valdeck entrar na sala de Agaciel. Foi quando o próprio Valdeck apareceu na sala de Araújo e contestou a afirmação de Marinalvo. Houve um princípio de bate-boca. Repousam na gaveta de Araújo dois depoimentos dados por Marinalvo à Polícia do Senado. Até a ameaça de morte foi informada pelo funcionário ao seus superiores. Ou seja, o comando do Senado sempre soube do ocorrido. Em resposta enviada ontem à reportagem, a diretoria-geral diz que não houve ;nenhum registro de ingresso de qualquer servidor do Senado ao terceiro andar; na madrugada em que o segurança diz ter presenciado a chegada de Valdeck e o disparo do alarme. O Correio procurou Marinalvo. Ele afirmou que o que teria para contar já foi dito em seus depoimentos.
Entenda o caso
Empresários e servidores processados A Operação Mão-de-Obra foi realizada em 2006 pela Polícia Federal para desarticular esquema de fraudes em licitações públicas na Esplanada dos Ministérios. Foram presos empresários, servidores públicos e realizadas buscas e apreensões de documentos em órgãos federais. A PF indiciou 19 pessoas sob a acusação de crimes como formação de quadrilha e cartel, fraude em licitação e corrupção. O inquérito resultou em denúncias criminais e cíveis propostas pelo Ministério Público Federal. Entre as contratações suspeitas, há três licitações do Senado. Apesar das denúncias, o primeiro-secretário Efraim Morais (DEM-PB) prorrogou esses contratos até 2009. O presidente do Senado, Garibaldi Alves (PDMB-PB), anunciou que irá substituí-los até o fim do ano.