Politica

Segurança do Senado é ameaçado

Marinalvo Gomes presenciou a entrada de um assessor no gabinete de Agaciel Maia durante a madrugada. Agora corre risco de morte

postado em 26/08/2008 08:34

Ação policial, ocultação de provas e ameaça de morte. Ingredientes de um filme de suspense, se não fossem dentro do próprio Senado Federal. Um depoimento até hoje mantido sob sigilo reforça a suspeita de que o comando da Casa escondeu provas da Operação Mão-de-Obra, feita pela Polícia Federal em 26 de julho de 2006 para desmontar uma quadrilha que fraudava licitações com a ajuda de servidores públicos. O alarme da sala do diretor-geral do Senado, Agaciel Maia, chegou a disparar na madrugada de 24 de julho daquele ano, quando um segurança chamado Valdeck, que seria assessor dele, subiu ao local. A informação faz parte dos depoimentos dados pelo segurança Marinalvo Gomes Araújo ao Ministério Público Federal e à Polícia Legislativa do Senado. O Correio teve acesso à íntegra de todos esses relatos, dados dois meses após a ação da PF.

Após depor ao MP, Marinalvo relatou à polícia do Senado o que viu e a ameaça que sofreu naquele ano Fora da rotina Marinalvo testemunhou um movimento fora do normal na semana em que ocorreu a ação policial. A versão dele aponta que a direção do Senado soube bem antes do dia 26 que a PF agiria na Casa, e não apenas na noite anterior, quando o então presidente Renan Calheiros (PMDB-AL) foi avisado oficialmente pela polícia. Em seus depoimentos, Marinalvo avisou que foi ameaçado de morte num telefonema após o ocorrido. Do outro lado da linha, uma pessoa disse: ;Você sabe que agora é queima de arquivo?;. Por dois anos, o Senado escondeu a história e o próprio Marinalvo, deslocado para serviços de menor visibilidade. Em 28 de julho, quando a PF já havia deixado a Casa, o segurança testemunhou ainda o diretor de compras, Dimitrios Hadjinicolaou, o segurança Valdeck e mais uma pessoa enchendo uma Blazer branca de documentos que foram retirados do Anexo I, onde ficam a direção-geral e o departamento de licitação. Segundo Marinalvo, eles estavam ;preocupados e olhando para os lados;. O carro que serviu de depósito era o veículo oficial usado por Agaciel, de acordo com o depoimento.

Bate-boca entre policiais da Casa De acordo com Marinalvo Araújo, o diretor-geral Agaciel Maia chegou às 6h30 para trabalhar em 25 de julho de 2006, um dia antes da Operação Mão-de-Obra, que tinha como objetivo vasculhar a sala dele. ;O depoente percebeu que o diretor Agaciel estava nervoso;, diz o documento. ;O depoente pôde afirmar que nunca presenciou o diretor Agaciel Maia tão cedo no Senado Federal;, ressalta. O Correio teve acesso não só ao depoimento de Marinalvo, como também ao que foi dito por outros policiais do Senado. Dois colegas do segurança, José Milton de Moraes Neto e Rauf de Andrade Mendonça, respaldaram a seriedade de Marinalvo e informaram que o segurança Valdeck era assessor de Agaciel. Todos esses seguranças participaram de uma reunião às 17h de 14 de setembro na sala do diretor da polícia, Pedro Araújo, subordinado a Agaciel. Esse encontro foi tenso, segundo os depoimentos. Araújo perguntou a Marinalvo o que ele havia visto naquela semana de julho. E o segurança confirmou a versão de que presenciou Valdeck entrar na sala de Agaciel. Foi quando o próprio Valdeck apareceu na sala de Araújo e contestou a afirmação de Marinalvo. Houve um princípio de bate-boca. Repousam na gaveta de Araújo dois depoimentos dados por Marinalvo à Polícia do Senado. Até a ameaça de morte foi informada pelo funcionário ao seus superiores. Ou seja, o comando do Senado sempre soube do ocorrido. Em resposta enviada ontem à reportagem, a diretoria-geral diz que não houve ;nenhum registro de ingresso de qualquer servidor do Senado ao terceiro andar; na madrugada em que o segurança diz ter presenciado a chegada de Valdeck e o disparo do alarme. O Correio procurou Marinalvo. Ele afirmou que o que teria para contar já foi dito em seus depoimentos.

Entenda o caso

Empresários e servidores processados A Operação Mão-de-Obra foi realizada em 2006 pela Polícia Federal para desarticular esquema de fraudes em licitações públicas na Esplanada dos Ministérios. Foram presos empresários, servidores públicos e realizadas buscas e apreensões de documentos em órgãos federais. A PF indiciou 19 pessoas sob a acusação de crimes como formação de quadrilha e cartel, fraude em licitação e corrupção. O inquérito resultou em denúncias criminais e cíveis propostas pelo Ministério Público Federal. Entre as contratações suspeitas, há três licitações do Senado. Apesar das denúncias, o primeiro-secretário Efraim Morais (DEM-PB) prorrogou esses contratos até 2009. O presidente do Senado, Garibaldi Alves (PDMB-PB), anunciou que irá substituí-los até o fim do ano.

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