postado em 28/08/2008 08:38
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Pelo menos R$ 70,3 milhões destinados a ações relacionadas a atividades específicas da área de saúde, definidas na lei e nos contratos com os municípios, perderam-se em gastos como os citados acima. Na quinta reportagem da série ;Sangria na Saúde;, o Correio e o Estado de Minas mostram os desvios na aplicação da verba para a saúde dos brasileiros. Nos 1.341 relatórios produzidos nos últimos cinco anos pela Controladoria-Geral da União (CGU), são citados 1.105 episódios em que prefeitos lançaram mão do recurso público para pagar despesas inimagináveis.
Em alguns casos, para cobrir buracos no orçamento e pagar ações diferentes das conveniadas. Em outros, financiar momentos de lazer. Ao identificar as irregularidades, a CGU orienta os municípios a devolver os valores, mas não recebe a garantia de que haverá pagamento ou mesmo a reaplicação devida do recurso.
Desvios
Em Itapeva (SP), a lavradora Neide de Almeida, 22 anos, carrega um bebê de um mês. Caminha por duas horas e meia de casa até uma estrada, onde espera por um ônibus mais de 40 minutos. O calvário termina três horas depois, num posto de saúde. Neide saiu em busca de socorro para a filha, que tem febre alta. Neide e a filha representam dois desafios de Itapeva. O primeiro é reduzir o índice de mortalidade infantil (26,6 por 1 mil). O segundo é levar atendimento básico de saúde aos locais mais distantes.
O posto de saúde mais próximo da casa de Neide, por exemplo, fica a 30 quilômetros. Os problemas ficaram mais evidentes depois que a Controladoria-Geral da União (CGU) fiscalizou, em 2005, como a prefeitura administra os recursos federais. Há desvio de recursos para transporte de pacientes, compras de equipamentos inexistentes e até falsificação de dados epidemiológicos. ;Reconhecemos as falhas e estamos lutando até hoje para consertá-las. Mas queria deixar claro que todas decorrem de outra administração;, defende-se o prefeito em exercício, Armando Gemignani (PMDB).