Politica

RJ: Correio comprova que milicianos dominam comunidades, inclusive na política

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postado em 30/08/2008 11:38
Rio de Janeiro ; Mais do que um clã criminoso, a prisão feita nessa sexta-feira (29/08) da candidata a vereadora Carminha Jerominho (PTdoB) ; filha do vereador Jerominho Guimarães (PMDB) e sobrinha do deputado estadual Natalino Guimarães (DEM), ambos presos ; revela a ponta de um novelo tecido pelo poder paralelo no Rio, que enredou o poder político na capital fluminense. Não é preciso ser cientista político, fiscal do Tribunal Regional Eleitoral, policial ou soldado do Exército para identificar com facilidade os candidatos que têm trânsito livre nas áreas controladas por milícias. Basta seguir placas, cartazes, outdoors e demais materiais de campanha para saber nome, número e partido dos candidatos dos milicianos e suas áreas de atuação. Se isso não prova que o político é membro de um comando criminoso, revela quem conta com a simpatia e o apoio explícito de quem governa à margem da lei. Depois de passar por comunidades em Campo Grande, Santa Cruz e Jacarepaguá, na Zona Oeste, algumas das maiores controladas por milicianos, o Correio comprovou que territórios onde vivem cerca de 2 milhões de pessoas, mais do que seguir leis próprias, têm que se submeter a partilhas políticas impostas pelos chefões locais, os quais apóiam candidaturas e até se lançam em busca do voto. A cidade partida pela desigualdade e pela violência se tornou também politicamente fatiada pelo crime. ;Aqui é assim. Para fazer campanha, seja carreata, comício ou colocação de cartazes, tem que ser candidato deles ou apoiado por eles;, disse o dirigente de uma associação de moradores, referindo-se aos milicianos. ;Em bairros da Zona Oeste, a ação da milícia é um monopólio com característica de máfia por ter controle familiar;, declarou o deputado estadual Marcelo Freixo (PSol), presidente da CPI das Milícias, recém-instalada na Assembléia Legislativa do Rio. Nas Favelas do Batan, em Realengo, e do Barbante, em Campo Grande, o que mais se vê são cartazes da candidata a vereadora Carminha Jerominho. No Batan, uma equipe do jornal O Dia, foi torturada por milicianos em maio. No Barbante, são quase diárias as ;ações sociais; do clã político, incluindo corte de cabelo, verificação da pressão arterial e manicure. ;Esta foi mais uma ação social realizada pelo vereador Jerominho que, mesmo seu corpo estando preso, seu espírito de coração valente bate forte no peito de seus guerreiros e amigos;, diz um texto distribuído no local, após um dos mutirões eleitoreiros. Por todas as casas e estabelecimentos comerciais, multiplicam-se placas da candidata. Não espere, por exemplo, ver cartazes e galhardetes de Carminha em Ipanema, Leblon ou Copacabana. Curral eleitoral No metro quadrado mais caro da cidade, predominam materiais de ;candidatos da Zona Sul;. Longe dali, em Rio das Pedras, berço das milícias; em Campo Grande, capital da Liga da Justiça, ou em Gardênia Azul, novo eldorado dos milicianos, dois ou três candidatos escravizam a vontade do eleitor. Rio das Pedras, em Jacarepaguá, principal comunidade liderada por grupos armados e primeiro território tomado pela milícia, nos anos 90, é área de Nadinho. O vereador Josinaldo Francisco da Cruz, o Nadinho de Rio das Pedras, é a principal liderança do Democratas na região, mas não o único político do DEM acusado de envolvimento com milícias. Por sinal, as únicas candidaturas a prefeito cujo material de campanha pode ser exposto nessas comunidades são as de Solange Amaral (DEM) e de Eduardo Paes (PMDB). Apenas na periferia desses lugares aparecem cartazes de Marcelo Crivella (PRB). O bispo da Igreja Universal chegou a ser impedido de fazer campanha ali. Não há nem sinal de Jandira Feghali (PCdoB), Alessandro Molon (PT), Chico Alencar (PSol) ou Fernando Gabeira (PV). Acusado de mandar matar em 2007 o inspetor da Polícia Civil Félix dos Santos Tostes, ex-chefão local, Nadinho chegou a ser preso, mas hoje conta com a reeleição. Em Gardênia Azul, também em Jacarepaguá, a campanha do sargento bombeiro Cristiano Girão (PMN) é massacrante. Nos últimos dias, um ônibus com a inscrição ;Centro Social;, estacionado próximo à associação de moradores, tem embarcado material de campanha. Perto dali, um grande caminhão azul de um projeto de atenção odontológica a crianças carentes permanece parado. Na chamada Barrinha, outro território de Girão, faixas anunciam um evento para os próximos dias: ;Não perca! Exame de vista grátis!”. Leia mais na edição impressa do Correio Braziliense.

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