postado em 04/09/2008 20:32
O ministro Nelson Jobim (Defesa) confirmou nesta quinta-feira (04/09) que vai atender à convocação da CPI das Escutas Clandestinas da Câmara para prestar depoimento, na próxima quarta-feira, sobre as maletas compradas pelo Exército, em conjunto com a Abin (Agência Brasileira de Inteligência), que teriam capacidade de realizar escutas telefônicas. Jobim disse, porém, que seu envolvimento no caso está restrito à identificação das compras realizadas pelo Exército, sem qualquer relação com eventuais grampos.
"Eu fui convocado, nunca deixei de atender às convocações da Câmara dos Deputados. A minha participação nesse processo diz respeito a identificar aquilo que foi adquirido pela comissão do Exército em Washington [EUA], que é mecanismo de compras do governo federal gerido pelo Exército e atende a solicitações de outros organismos para verificar o que foi comprado. Só isso, nada mais", afirmou.
Jobim disse que não recebeu resultados da perícia realizada por técnicos do Exército nos equipamentos uma vez que o caso é da alçada do GSI (Gabinete de Segurança Institucional). Em depoimento à CPI das Escutas, o ministro-chefe do GSI, general Jorge Félix, disse que solicitou a técnicos do Exército para analisarem se as maletas têm capacidade para realizar escutas --uma vez que foram compradas para realizar apenas varreduras.
"Não cabe a mim fazer isso. Isso está sendo feito diretamente pelo general Félix. Eu não tenho nada ver com o problema desse tipo de investigação. A única coisa é que eu entreguei [ao governo] as compras feitas, e agora vão fazer lá os procedimentos normais. Eu não poderia receber porque não me diz respeito este assunto", afirmou.
Questionado sobre a proibição legal para a Abin realizar escutas telefônicas, Jobim desconversou. "Juízo de valor corresponde à imprensa, não ao ministro." Maletas A informação da compra das maletas teria sido revelada por Jobim durante reunião de coordenação política do governo no Palácio do Planalto, na última segunda-feira. Reportagem da Folha afirma que a informação foi decisiva para o afastamento do diretor-geral da Abin, Paulo Lacerda, no episódio envolvendo o grampo ilegal do presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes.
A reportagem afirma que a revelação surpreendeu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente José Alencar e outros seis ministros presentes na reunião de coordenação.
Por lei, a Abin é proibida de fazer escutas. A reportagem afirma que as maletas podem fazer grampos em celulares sem depender de operadoras telefônicas --e, por isso, em tese, sem a necessidade de autorização judicial.
Com preço estimado em US$ 500 mil, o equipamento consiste em um laptop e uma antena acondicionada em uma pasta tipo 007. O principal é um software que acompanha o computador, capaz de decodificar comunicação digitais criptografadas. A aquisição teria sido feita por sistema de compras do governo.