Politica

Entrevista: Presidente Lula fala sobre o Distrito Federal

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postado em 04/09/2008 21:24

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não perdeu uma característica que traz desde que foi eleito pela primeira vez, em 2002: a conciliação. Não à toa era chamado de ;Lulinha Paz e Amor;. Gosta de dizer que um dos pontos principais do seu governo é o bom relacionamento com os governadores. ;Eu me sinto orgulhoso de ter uma relação republicana com os governos estaduais, com os prefeitos;, discursou nesta quarta-feira (03/09), durante entrevista exclusiva para o Aqui DF, em encontro com jornais populares no Palácio do Planalto. O que pode ser bom para o leitor ; e eleitor ; do Distrito Federal. E do Entorno. Afinal, Lula é um morador da capital federal. E como acompanha de perto o processo de violência que tomou conta o Entorno do Distrito Federal, o presidente se diz preocupado com a cidade.

;Eu tenho uma preocupação com Brasília maior do que a segurança;, assegura. Para tanto, disse já ter conversado com o governador José Roberto Arruda para trazer mais emprego para cá. Assim, segundo ele, os problemas na região em volta do DF podem diminuir. Lula falou sobre mais assuntos: Previdência, Bolsa Família, educação. E futebol, claro. Apaixonado pelo esporte, como todo brasileiro, o presidente não deixou de dar sua opinião: gosta do Dunga, mas o Luxemburgo é melhor. Confira, a seguir, trechos da entrevista. ENTORNO Eu conversei com o Arruda (José Roberto Arruda, governador do Distrito Federal) e pedi para que ele pegasse o pessoal dele de desenvolvimento para eles sentarem com Ministério do Desenvolvimento. Nós precisamos desenvolver um tipo de indústria em Brasília que não seja poluente, a chamada indústria limpa. Porque se você não oferecer emprego para essa grande população que mora no Entorno, a polícia não vai resolver o problema da violência. O que eu quero, na verdade, é um plano de desenvolvimento para Brasília que a gente possa construir junto. O que nós não queremos é trazer uma fundição para Brasília, algo que possa poluir essa região. Acho que é isso que vai resolver o problema da violência aqui. Confira o que o presidente Lula fala sobre relações com Brasília e violência no entorno VIOLÊNCIA NO PAÍS Tenho certeza que o governo federal e os governos estaduais estão atuando juntos no assunto. Criamos o Pronasci (Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania) para ver se a gente diminui a violência, tanto na reforma de presídio, como no financiamento de bolsas para melhorar a qualidade de vida dos policiais, nas escolas e prisões diferenciadas para os jovens infratores que ainda têm chance de se recuperar. Estamos fazendo o que é possível, principalmente com investimento em inteligência, porque está provado que a inteligência é melhor que a brutalidade. Quando o estado estiver presente dando as oportunidades, eu não tenho dúvida de que o estado vai ganhar do crime organizado. Estou com muita esperança nessas intervenções que estamos fazendo no Rio de Janeiro, em São Paulo, na Bahia, em Pernambuco. Porque os R$ 40 bilhões que estamos investindo em saneamento básico e urbanização de favela, 90% deles são nas principais regiões metropolitanas do país, onde tem um maior grau de violência. Mais eficaz que a polícia, porque a polícia muitas vezes é o problema, é quando o governo federal, estadual e municipal estiverem presentes com políticas públicas, políticas sociais, com políticas de oportunidades dentro dos lugares mais violentos. Confira o que o presidente Lula fala sobre a violência RELAÇÃO COM O GDF Eu não sei se houve em algum momento da história de Brasília em que a relação do governo distrital e o governo federal seja tão boa e produtiva como a que eu tenho com o governador (José Roberto) Arruda. Melhor do que perguntar para mim é perguntar para o governador Arruda se ele tem alguma queixa contra o governo federal. Porque tudo o que o governador Arruda pediu ao governo federal, nós atendemos 100%. Nós temos trabalhado em parceria porque aqui é a capital do país. Eu tenho uma preocupação com Brasília maior do que a segurança. RELAÇÃO COM OUTROS GOVERNADORES Eu me sinto orgulhoso de ter uma relação republicana com os governos estaduais, com os prefeitos. Analise se o Fernando Henrique (Cardoso, ex-presidente) passou 10% do dinheiro para o Covas (Mário Covas, ex-governador de São Paulo, já falecido, e do mesmo partido de FHC) do que eu passo para o Serra (José Serra, governador de São Paulo) e Alckmin (Geraldo Alckmin, ex-prefeito de São Paulo). Eu não estou preocupado com eleição. Estou preocupado é que o estado tem gente e precisa das obras. Noventa por cento das obras nos estados hoje são com dinheiro do governo federal, em parceria com os estados. Graças a Deus o Brasil tem uma safra de governadores jovens e quase todo mundo muito competente. Pode ter um defeito ali, outro acolá, mas a verdade é que a média dos governadores brasileiro é muito boa. APOSENTADOS Não é correto nenhum aposentado fazer uma comparação com o salário mínimo, porque ninguém se aposenta com oito mínimos, com dez mínimos. A gente se aposenta com um percentual daquilo que foi a nossa contribuição. Nós não podemos vincular o salário mínimo à minha aposentadoria ou à de um trabalhador que se aposentou ganhando R$ 800. Nós tomamos uma decisão de que era preciso recuperar o salário mínimo. Eo aposentado podemos dar a ele (o que perdeu com) a inflação, para que ele mantenha o seu poder aquisitivo. Obviamente, na hora em que a Previdência se tornar rentável, você pode até pensar em que uma parte desse dinheiro possa ser dado como um ajuste a mais para os aposentados. Mas nós estamos antecipando o 13; salário para facilitar a vida do aposentado, nós criamos a Farmácia Popular. Ou seja, nós temos que procurar outras políticas que valorizem o salário mínimo e que valorizem as pessoas que estão aposentadas, principalmente aqueles que gastam mais dinheiro com remédio. A verdade é que a Previdência tem um déficit, que era alto e está diminuindo. Daqui a pouco estaremos com o déficit zerado. Confira o que o presidente Lula fala sobre os aposentados REFORMA PREVIDENCIÁRIA Sobre a reforma previdenciária, eu tenho o costume de envolver a sociedade na discussão. Eu criei um grupo de trabalho, que tinha representantes dos trabalhadores, dos aposentados, dos empresários, dos sindicatos. E a reforma, para ser feita no Brasil, tem que ser pensada para a nova geração. Você não pode fazer uma reforma que mexa no direito adquirido das pessoas. Você pode em fazer uma reforma pensando em uma reforma daqui a 30 anos, do meu neto que vai entrar no mercado de trabalho e ter uma Previdência Social diferente da que eu tenho. Por quê? Nós estamos vivendo mais. Para as próximas gerações, temos que combinar o tempo de aposentadoria com o tempo de vida que nós temos. Até porque, no nosso tempo, a gente começava a trabalhar mais cedo. Hoje em dia se começa mais tarde, porque estudam mais, se formam para depois trabalhar. Então, eu quero uma adequação da aposentadoria para a situação de cada geração. Para quem está trabalhando agora, para quem está no mercado de trabalho, qualquer reforma não vale. Essa reforma vai valer para aqueles que entrarem no mercado de trabalho depois que a lei for aprovada. Confira o que presidente Lula fala sobre a Reforma Previdenciária BOLSA FAMÍLIA O cadastramento não é da responsabilidade do governo federal. O governo federal fez um convênio com cada prefeitura, até porque não tem como o governo federal estar em cada município, em cada bairro. Eu posso te garantir uma coisa: se tem gente que não está sendo atendida ainda e essa pessoa está dentro do previsto, essa pessoa vai receber. É só se cadastrar. Até porque quem já atende 11 milhões de famílias, não vai se preocupar se tem mil ou dez mil a mais. O dado concreto é que vai ter algumas pessoas fora do programa se os prefeitos não forem aos grotões para fazer o cadastro. Mas o que tem acontecido é o inverso. Nós temos recebido aqui dezenas de cartas de pessoas que arrumaram emprego e, por conta disso, devolveram o cartão do Bolsa Família. E obviamente nós trabalhamos para diminuir o número de pessoas no Bolsa Família, com a geração de emprego, com a geração de renda. Vamos fazer, talvez no final do mês, um encontro com todos os movimentos sociais do Brasil para gente mostrar tudo o que está sendo feito em políticas sociais. Por isso, eu não acredito que tenha tanta gente a mais para entrar na Bolsa Família. Mas esse é um xodó meu. Confira o que o presidente Lula fala sobre o Bolsa Família EDUCAÇÃO Agora vamos assinar os editais para os vestibulares de 2009 via Reuni (Programa de Apoio ao Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais). Nós fizemos um acordo com as universidades federais e estamos aumentando a média de 12 alunos por professor para 18 alunos. Isso vai permitir que a gente coloque na universidade 203 mil novas pessoas, ou seja, mais do que os 113 mil que entravam nas universidades quando a gente começou a governar o país. O ProUni (programa de bolsas para que pessoas de baixa renda cursem o ensino superior) já tem 385 mil jovens da periferia fazendo a universidade. Nós queremos chegar, ao final de 2010, a 400 mil jovens no Reuni e quase 700 mil alunos pelo ProUni. É uma revolução extraordinária. E quando diziam que nós iríamos nivelar por baixo criando o ProUni, as avaliações estão mostrando exatamente o oposto. Os alunos do ProUni são os melhores qualificados em todas as universidades, em todos os cursos. Porque os jovens que estavam desanimados, na hora em que pegaram a oportunidade, não querem largar. Na hora em que a gente melhorar o ensino médio brasileiro, a gente também vai preparar mais jovens para entrar em uma universidade. O que estamos fazendo agora? No ensino fundamental, nós criamos o Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação). Criamos o Proeb (Programa de Avaliação da Rede Pública de Educação Básica). Aumentamos de oito para nove anos o tempo de manutenção da criança no ensino fundamental. Teremos, até o dia 31 de dezembro de 2010, 314 escolas técnicas, 12 universidades novas, uma universidade latino-americana e uma universidade afro-descendente em Redenção, no Ceará, para metade de alunos brasileiros e metade de alunos africanos. Além disso, vamos fazer 88 extensões universitárias, para permitir que um jovem do interior tenha a oportunidade de estudar na sua própria região. Eu penso que isso vai significar uma revolução na educação brasileira que ficou atrofiada durante muito tempo. Confira o que o presidente Lula fala sobre educação TRABALHO E DESEMPREGO Temos como uma das nossas prioridades a formação profissional para qualificar o trabalhador. Se você olhar o crescimento da inflação, você vai perceber que uma parte dele é no setor de serviços: é o encanador, é o pedreiro. Esse profissional está valorizado porque está qualificado. Temos vários convênios, como o do Sistema S (Sesc, Senac, Senai, entre outros), em que dois terços desse sistema serão canalizado para a formação profissional gratuita. Agora, a responsabilidade não pode ser só do governo. As empresas também precisam começar a formar a sua mão-de-obra. Era assim na década de 1960. Você tinha o Senac dentro da Volkswagen, da Ford, da Mercedez. As empresas mesmos costumavam formar os seus profissionais. Porque tem rotatividade de mão-de-obra e o mercado cresce de forma contínua. Isso é um bom problema. O mau problema era quando tinha muita gente querendo trabalhar e não tinha emprego. O bom problema é quando tem muita oferta de emprego, com o salário aumentando, e está escassa a mão-de-obra. Coonfira o que o presidente Lula fala sobre trabalho e o desemprego SALÁRIO MÍNIMO Quanto maior a demanda, mais cresce a economia, mais gente vai ter que trabalhar, mais salários vão ter que ser pagos e mais vai melhorar a vida das pessoas neste país. Este é um círculo virtuoso, que eu não tive o privilégio de viver durante toda a minha presença no movimento sindical brasileiro. Eu passei 20 anos chorando o desemprego e ganhando menos do que a inflação. Hoje, 88% dos acordos salariais são feitos com ganhos reais de salário. Hoje, os dirigentes sindicais se dão ao luxo de fazerem acordos por dois anos, quatro anos. O salário mínimo teve 52% de aumento real no nosso governo. Mas essas coisas que estão sendo plantadas agora levam seis meses, um ano para serem colocadas em prática. Na história da humanidade, os trabalhadores só ganharam aumento de salário em momentos em que a economia está crescendo. Agora é o momento dos trabalhadores pedirem aumento de salário. Esse é o momento de reinvindicar. Confira o que o presidente Lula fala sobre o salário mínimo GASTOS DO GOVERNO No Brasil foram criados alguns sofismas. Você acha que o estado gasta muito? Então me explica por que a Petrobras paga a um técnico altamente competente R$ 26 mil e um similar dele em qualquer multinacional ganha até R$ 100 mil? Me explica por que a iniciativa privada rouba funcionários da Receita Federal, do Banco Central, para ganhar quatro vezes mais? A verdade nua e crua, companheiro, é que de vez em quando a gente procura justificativas para deixar de compreender o mais fácil. O estado brasileiro gasta aquilo que precisa gastar. Se eu quiser inaugurar 214 escolas, 14 novas universidades, eu preciso ter professores, laboratórios, técnicos. Eu agora vou implantar saúde na escola. Toda criança vai ter que fazer exames. E aí vai ter que contratar mais gente. Mas só assim você vai melhorar o tratamento que o estado pode dar à sociedade. Acho que o estado brasileiro gasta o que precisa gastar para atender de forma deficitária a população brasileira. INFLAÇÃO A inflação brasileira hoje é altamente controlada. A cesta básica, que era nossa principal preocupação, caiu 10% nas principais capitais brasileiras. Nós tivemos problemas de feijão porque se teve quebra de safra em função da seca em algumas regiões do país. Na hora em que voltar à normalidade ; e nós criamos o programa Mais Alimentos (que tem por objetivo fortalecer a agricultura familiar e tentar frear a aumento elevado dos preços dos alimentos), em que vamos financiar 60 mil tratores para a agricultura familiar ; nós queremos dobrar a produção de alimentos básicos aqui no Brasil. Hoje eu posso dizer que sou um homem tranqüilo quanto à inflação brasileira. Outra hipótese de você diminuir a inflação, e o povo precisa entender isso, é você diminuir o crédito para diminuir o consumo. Mas se eu fizer isso, as empresas vão dispensar os trabalhadores. Nessa altura, o que precisa é equilíbrio. Sabe aquele jogador que nunca se chuta de fora da área, quer entrar com a bola na área e se enrola com a bola? A gente não pode se enrolar. Lembra dos pacotes que existiam no Brasil? Qualquer problema era um pacotão. Nós não temos pacote. Vamos tomando medidas pontuais e vamos equilibrando. Confira o que o presidente Lula fala sobre inflação METRÔ Não tem sentido o governo federal ficar administrando o metrô. O governo estadual não quer o metrô enquanto ele for deficitário, só quando for lucrativo. A minha tese é transferir para o estado de qualquer forma. Você não vai conseguir privatizar o metrô. O estado, se quiser, pode fazer concessão de 15, 20 anos, desde que essa concessão não implique num gasto maior para as pessoas. A preço tem que ser compatível com o que ganha aquele que paga a passagem. O de Brasília nós já concluímos. Eu já até participei da inauguração até Ceilândia. ESTÁDIOS É uma vergonha uma torcida do tamanho do Flamengo não ter um estádio. É mais uma vergonha dois times como o Corinthians e o Flamengo não fazerem um chamamento à torcida para contribuir para construir o estádio. Não precisa ser um estádio de 80 mil pessoas, pode ser um digno estádio para 40 mil pessoas. Desde moleque, quando eu tinha 10, 12 anos, eu já ouvia falar que o Corinthians ia construir um estádio. SELEÇÃO BRASILEIRA Eu confesso que eu gosto do Dunga. O Dunga é um vencedor. Agora, o que temos que admitir é que cada pessoa tem um estilo. E o Dunga tem um estilo. O Dunga é um técnico que eu respeito. Nós temos técnicos melhores do que ele? Temos. Eu acho o (Vanderlei) Luxemburgo o melhor do país. Mas se o Teixeira (Ricardo Teixeira, presidente da Confederação Brasileira de Futebol) escolheu o Dunga, vou torcer para o Dunga fazer o trabalho dele. Mas o problema não é o Dunga. O problema é que estamos em uma entressafra de jogadores. E os jogadores passam a ganhar dinheiro antes de ficar famosos, de provar que são grandes jogadores. Eu vejo jogadores sendo escaladaos na Seleção Brasileira e que são segundo reserva em um time da Inglaterra. É um palpite e eu não quero que eles pensem que eu estou me metendo na vida deles: eu, se fosse técnico ou presidente da CBF, iria montar uma Seleção com jogadores que estão atuando no Brasil e começar a testar esses jogadores. Porque senão você passa a idéia de que tem que ir para o exterior para ser convocado. Eu acho que falta um pouco de alma também. Quando eu vejo o Messi (Lionel Messi, da Argentina), que é para mim o melhor jogador do mundo hoje, eu vejo raça. O torcedor gosta de espetáculo, mas também gosta de raça.

Confira o que o persidente Lula fala sobre esporte

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