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Polícia Civil do DF é equipada para contra-espionar

Órgão gastou, no ano passado, R$ 130 mil em aparelhos usados na varredura de grampos ilegais instalados em órgãos públicos

postado em 15/09/2008 08:34
A Polícia Civil do Distrito Federal promoveu um pregão eletrônico no ano passado para adquirir modernos equipamentos de investigação e contra-espionagem por R$ 1,3 milhão. Até agora, segundo o diretor-geral da corporação, Cleber Monteiro, foram gastos R$ 130 mil com a compra de aparelhos para varredura de grampos ilegais em órgãos públicos. A licitação, no entanto, chegou a cotar o preço de uma maleta capaz de fazer interceptações de telefones celulares sem passar pelas operadoras de telefonia, semelhante à adquirida pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

O item 6 da licitação 495/07 é um ;sistema portátil de testes em redes GSM; que, segundo um técnico especialista no setor de inteligência, tem capacidade para captar conversas por telefone. No edital, a Polícia Civil requisita um ;sistema com características físicas que garantam discrição na apresentação e portabilidade;, com todos os recursos de hardware e software acondicionados ;de forma funcional e adequada; na maleta executiva. A autonomia mínima de trabalho é de 120 minutos.

De acordo com o diretor da Polícia Civil, tal equipamento seria usado em investigações relacionadas a crimes graves, como seqüestros, mas não chegou a ser adquirida porque a maleta é cara ; cerca de R$ 150 mil ; e não está entre as prioridades da corporação. Mas, como a licitação foi concluída, os policiais poderão comprá-la a qualquer momento, quando houver necessidade. ;Uma coisa é certa: não fazemos grampos, apenas escutas telefônicas com autorização judicial;, garante Monteiro. O presidente do Sindicato dos Policiais Civis (Sinpol-DF), Wellington Luís, defende o uso desses equipamentos. ;A polícia tem de ser equipada para combater o crime organizado, que tem equipamentos sofisticados;, avalia.

Detectores
Entre os aparelhos adquiridos estão detectores de escutas ambientes clandestinas escondidas em paredes de concreto, móveis, armários, gavetas e até roupas que transmitam sinal eletrônico, independentemente de estarem ou não ligadas. A polícia também comprou um ;correlacionador omni-espectral computadorizado;, capaz de fazer uma varredura eletrônica nas redes de telefonia dos órgãos públicos, para detectar grampos ilegais.

Cleber Monteiro diz que a corporação recorre à contra-espionagem em órgãos públicos, mas não revela se já encontrou uma escuta clandestina feita para captar conversas estratégicas de algum integrante do governo José Roberto Arruda. ;Esse dado é sigiloso;, afirma. Entre os paranóicos com a espionagem está o presidente da Câmara Legislativa, Alírio Neto (PPS), que é delegado aposentado da Polícia Civil. Ele pede uma varredura em seu gabinete a cada dois meses.

O Distrito Federal já enfrentou momentos delicados com a escuta clandestina no telefone da casa da procuradora-geral do Ministério Público de Contas, Cláudia Fernanda de Oliveira, feita, segundo apontam as investigações, de forma ilegal por policiais civis. Ela, inclusive, prestou depoimento à CPI dos Grampos no Congresso. Promotores de Justiça também já foram alvos de grampos, além de desembargadores e do conselheiro Renato Rainha, do Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF), ex-delegado da Polícia Civil.


CPI AGUARDA JOBIM

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, é esperado na CPI dos Grampos, na quarta-feira, para falar sobre os equipamentos que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) teria adquirido para fazer escutas telefônicas. No Senado, serão ouvidos os diretores da Abin, Paulo Lacerda (que está afastado) e da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa, além do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, general Jorge Félix, e do chefe da área de contra-inteligência da Abin, Paulo Maurício Fortunato.

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