Politica

Grampos aumentam tensão no Palácio

Integrantes do Planalto estão preocupados com os efeitos da prisão do número dois da Polícia Federal e a possibilidade de existirem mais grampos envolvendo autoridades e aliados do governo

postado em 18/09/2008 09:03
A prisão do delegado Romero Menezes, segundo homem na hierarquia da Polícia Federal, agravou a inquietação do Palácio do Planalto com a falta de controle sobre as áreas de investigação e inteligência do governo. ;Estamos no escuro;, queixa-se um auxiliar direto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. ;É um susto depois do outro.; O nervosismo vem crescendo desde a Operação Satiagraha, quando agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) envolveram-se numa ação que deveria ser da Polícia Federal. O caso se transformou numa crise política após a denúncia de que os arapongas teriam grampeado ilegalmente até uma conversa do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes. Integrantes do governo estão preocupados com a possibilidade de que existam outros grampos esperando para explodir. Há uma atenção especial ao caso do ex-deputado petista Luiz Eduardo Greenhalgh. Advogado do banqueiro Daniel Dantas, ele passou a atuar como lobista do grupo Opportunity. Foi incluído na vigilância da Satiagraha, mas até agora apareceram poucos diálogos. Como Greenhalgh tinha muito trânsito no PT e no governo, há uma forte possibilidade de que outras conversas dele com políticos e autoridades tenham sido monitoradas. No caso de Menezes, o que incomodou o presidente Lula não foi tanto a prisão do delegado, a quem ele mal conhecia. O problema foi o governo ter sido pego de surpresa. A PF não informou que a situação dele era grave a ponto de provocar um pedido de prisão. Isso limitou a margem de ação do Planalto e do Ministério da Justiça. Informação A figura central das dores de cabeça palacianas é o diretor afastado da Abin, Paulo Lacerda. No primeiro mandato de Lula, quando dirigiu a PF, ele teve um papel estratégico. De um lado, manteve a polícia atuante, o que dava ao governo um discurso para responder aos ataques da oposição e às denúncias de corrupção. Quando aparecia um novo escândalo, Lula vangloriava-se de que em seu governo a PF atuava com mais liberdade e obtinha mais resultados. De outro lado, Lacerda sempre foi um canal de informações muito importante para o Planalto. Com forte controle sobre a estrutura da Polícia Federal, ele acompanhava as investigações mais delicadas. Reunia-se todos os dias com o então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e fazia um relato dos casos que poderiam ter conseqüências políticas. O informe era imediatamente repassado ao presidente. Esse canal foi quebrado. O novo diretor da PF, Luiz Fernando Corrêa, nomeado após a posse de Tarso Genro no Ministério da Justiça, tem menos comando e um acesso restrito às informações. Isso ficou claro na Operação Satiagraha. A investigação, que tinha como alvo o banqueiro Daniel Dantas, tornou-se uma causa pessoal de Lacerda. Dantas foi identificado como autor de um falso dossiê que imputava contas no exterior a diversas figuras do governo, incluindo o então diretor da PF. Lacerda escolheu pessoalmente o delegado Protógenes Queiroz para chefiar a investigação e lhe ofereceu uma enorme estrutura. Quando deixou a PF, passou a ajudar na operação com efetivos da Abin. O Planalto foi pego de surpresa e percebeu que não tinha mais controle das informações nem na Polícia Federal nem na agência de inteligência. Afastado temporariamente, Lacerda não deve voltar ao cargo, por falta de confiança do presidente. E com a prisão de Romero Menezes será necessário recompor a cúpula da PF. Para piorar, vieram os desacertos públicos entre o ministro da Defesa, Nelson Jobim, e do Gabinete de Segurança Institucional, general Jorge Félix. Eles deixaram claro que também na área militar falta controle ao governo. O PODER DA PF Recursos humanos 14.175 servidores, assim distribuídos: 10.929 policiais federais, dos quais 1.656 são delegados 3.051 funcionários administrativos 195 servidores de outros órgãos cedidos à PF Orçamento de 2008 R$ 3,5 bilhões para gastos com pessoal e recursos materiais Análise da notícia Corporação com imagem arranhada Ao longo dos últimos anos, a Polícia Federal conseguiu uma façanha. Tornou-se, segundo as pesquisas, a instituição na qual os brasileiros mais confiam. Não é pouco, em um país acostumado a suspeitar de suas autoridades. A melhoria da imagem foi resultado de investigações de grande repercussão e de uma estratégia particular de propaganda. Ao expor políticos, juízes, autoridades e banqueiros algemados, a PF construiu o conceito de uma instituição capaz de enfrentar os poderosos. Essa imagem serviu ao governo como um antídoto contra os escândalos. Se a oposição dizia que a corrupção aumentou, os governistas respondiam que a diferença era que polícia se tornara mais corajosa e independente. Sintomaticamente, a prisão do delegado Romero Menezes seguiu o avesso desse modelo. Aconteceu no gabinete do diretor-geral da PF, seu amigo pessoal Luiz Fernando Corrêa. Longe de fotógrafos, cinegrafistas e sem algemas. A detenção foi determinada pela Justiça a pedido do Ministério Público. O delegado que anunciou o encarceramento fez questão de dizer quer considerava a medida exagerada. O ministro da Justiça, Tarso Genro, deu a mesma opinião. Por trás desse requinte de delicadeza há bem mais que corporativismo. Protegendo Menezes, a PF se protege. A crise que atingiu a corporação desde a Operação Satiagraha ameaça a imagem de eficiência e coragem construída com tanto cuidado. O governo patrocina esse esforço de autopreservação. Afinal, a imagem da polícia independente tornou-se parte fundamental do discurso da administração Lula. O problema é saber se vai dar certo. Há algum tempo a Polícia Federal vem sendo sua pior inimiga.

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