postado em 24/09/2008 18:27
Ao responsabilizar hoje a oposição pela cassação da sua candidatura, - "diante da derrota certa nas urnas, tentam calar a voz do povo" - o candidato do PT a prefeito do Recife, João da Costa, identificou a oposição como os que são contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governador Eduardo Campos (PSB) e o prefeito João Paulo (PT). Os três são seus grandes cabos eleitorais. Por telefone, o prefeito João Paulo disse ao presidente que gostaria de contar com a sua presença e a da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, em algum ato da campanha de Costa para reforçar a sua candidatura, diante de algum revés.
O presidente Lula foi informado, pelo prefeito João Paulo, da sentença do juiz das Investigações Nilson Nery, que também tornou o candidato inelegível por três anos por abuso de poder econômico e político, logo depois da decisão judicial, no início da noite de ontem.
Ontem mesmo, os advogados do PT entraram com recurso no pleno do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) pedindo a reforma integral da decisão. De acordo com o advogado Ricardo Soriano, o recurso alega "fragilidade e falhas na sentença, ausência de provas, nulidades e cerceamento de defesa, entre outras coisas". Ele não quis dar mais detalhes.
No horário eleitoral, João da Costa antecipou sua convicção de que "essa injustiça" será corrigida nas instâncias superiores da Justiça. Ele buscou desqualificar a sentença do juiz. "Não adianta inventar crime não, porque tem que dizer qual foi o crime", afirmou. "Não tem nenhuma prática, nenhum indício, nenhuma ação que justifique a minha inelegibilidade."
O juiz Nilson Nery condenou João da Costa a partir de duas ações impetradas pelo Ministério Público. Primeiro, a confecção e divulgação, em março, em um grande evento, de 50 mil exemplares de uma revista do Orçamento Participativo (OP) com slogan da campanha e informando todas as ações comandadas por João da Costa, então secretário do Planejamento Participativo.
O OP é o carro-chefe da campanha que prega a continuação da mudança iniciada por João Paulo através de João da Costa. Esse tipo de atividade promocional não havia ocorrido em nenhum ano anterior da gestão João Paulo. A revista custou R$ 110 mil. O juiz também levou em conta a utilização da Secretaria Municipal de Educação para convocação, via internet, de servidores públicos para participar de atos de campanha em horário de expediente. A convocação era feita por pessoas que ocupavam cargos comissionados e de chefia.
Vítima é o povo
O ex-governador Mendonça Filho (DEM), também candidato à Prefeitura de Recife, que logo depois da sentença judicial espalhou panfletos informando sobre a cassação de João da Costa e distribuiu carros de som em vários pontos da cidade para dar a mesma informação, usou hoje todos os três minutos do seu tempo na televisão para desmistificar a postura de vítima adotada pelo adversário.
"Agora eles querem se fazer de vítimas e chegam a dizer que o Ministério Público, a Polícia Federal e a Justiça estariam sendo manobrados pelos candidatos da oposição", afirmou em nota lida, com letreiro. "Não acredite nisso, a vítima dessa história é o povo do Recife, que está vendo o dinheiro dos impostos sendo usado na campanha do candidato João da Costa." E fez uma recomendação ao eleitor: "Fique atento".
Até mesmo o candidato do PSL, Carlos Eduardo Cadoca, aliado do governo federal, não protegeu o petista. "Enaltecemos a coragem da decisão tomada pela Justiça, não admitindo que se tente desqualificar ou desrespeitar a sentença emitida após rigorosa investigação dos fatos", afirmou, também através de nota, no seu programa. Cadoca passou a adotar um tom de oposição, batendo na administração João Paulo, depois que o presidente Lula, descumprindo a promessa de não gravar em favor de nenhum candidato onde houvesse mais de um aliado, fez gravação pró-João da Costa.
O candidato do PMDB, Raul Henry, utilizou o mesmo expediente - nota lida, com letreiro - para qualificar a decisão judicial. "Diante das evidências do uso ilegal da máquina pública pelo candidato João da Costa, o Ministério Público solicitou investigação da Polícia Federal, que confirmou crime eleitoral", disse. "A lei deve ser para todos.