postado em 28/09/2008 06:00
Em 1988, o deputado Luiz Inácio Lula da Silva, então um sindicalista de cabelos e barbas negras, foi escolhido para fazer o discurso no qual o PT anunciava que votaria contra o texto final da nova Constituição. Num duro pronunciamento, acusou as elites brasileiras de mentirem a manobrarem para impor uma carta conservadora e que não atendia os direitos dos trabalhadores. Vinte anos depois, as mudanças no presidente Lula vão bem além da barba grisalha e cuidadosamente aparada. Numa , ele se desmanchou em elogios ao texto. E reconheceu que teria sido muito pior se o partido dele tivesse vencido. ;Seria muito mais difícil governar o Brasil hoje, se tudo o que o PT queria naquela época tivesse sido aprovado;.
O Lula de 2008 diz que ;tudo que nós alcançamos até agora foi fruto da Constituição de 1988. Ela universalizou direitos sociais, investiu contra a pobreza e a desigualdade, estabeleceu as condições para que possamos viver hoje nosso melhor momento econômico. Mas o mais importante é o seu caráter democrático;.
Para o presidente, ;a Assembléia Nacional Constituinte foi o momento mais rico da vida parlamentar brasileira. Houve uma participação popular como nunca se viu no país, com milhares de pessoas indo ao Congresso fazer pressão, reivindicar. Foi graças a esse estímulo que fizemos uma Constituição extremamente avançada. Hoje, eu repetiria o Ulysses Guimarães naquele pronunciamento às três horas da manhã do dia cinco de outubro: ;é a Constituição Cidadã;.;
Um tom bem diferente do que o então deputado usou em 22 de setembro de 1988. ;Entramos aqui (na Constituite), querendo a jornada de trabalho de 40 horas semanais e ficamos com a de 44 horas; entramos querendo férias em dobro e ficamos com apenas um terço a mais nas férias; entramos aqui querendo o fim da hora extra, depois a hora extra em dobro e ficamos apenas com 50%; Algumas conquistas importantes não passaram nem de perto, para que a classe trabalhadora pudesse festejar;. Entre outros ataques, Lula disse ainda que ;os militares brasileiros continuaram intocáveis; e ;os latifundiários devem estar festejando; o texto aprovado.
O PT não apenas votou contra, como sua bancada chegou a pensar em não assinar a nova carta. Lula, já então o principal líder do PT, trabalhou para evitar o ato de radicalismo maior, que ficaria marcado para sempre na história.