postado em 29/09/2008 08:00
Poucas frases foram tão repetidas nos últimos dias quanto a máxima de que "as eleições são municipais e não podem ser nacionalizadas". Quando algo é dito com muita ênfase em tempos de campanha eleitoral, é bom desconfiar. Nesse caso, não é diferente. Por mais que os grandes partidos neguem, todos têm estratégias e expectativas nacionais. Querem garantir boas posições para firmar sua base nas eleições de 2010. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ocupa um lugar central nessa disputa e quer fazer das eleições municipais um momento de afirmação política do seu governo. A oposição prevê um crescimento dos partidos governistas, mas tenta impor derrotas a Lula em cidades estratégicas.
O presidente gravou mensagens individuais para quase 100 candidatos a prefeito. Nas demais cidades, o PT disponibiliza um vídeo com um apelo em tom generalista para que os eleitores escolham um prefeito alinhado com o governo federal. O partido quer sair desta eleição como a segunda legenda com mais prefeituras.
A principal aposta é retomar a prefeitura de São Paulo. Segundo as pesquisas mais recentes, a ex-ministra Marta Suplicy deve passar para o segundo turno como a candidata mais votada. Mas todas as simulações apontam para uma disputa difícil na etapa decisiva da campanha, quer o adversário seja o prefeito Gilberto Kassab (DEM) ou o ex-governador Geraldo Alckmin. Para vencer, o PT aposta na participação ainda mais ativa de Lula na campanha e também em cercar São Paulo com vitórias em primeiro turno nas cidades mais próximas, especialmente na região do ABC.
Bem posicionados nas disputas de capitais como Recife e Fortaleza, onde há chances de vitória já no próximo domingo, os petistas ainda brigam por um lugar no segundo turno em Porto Alegre e Salvador. São duas cidades fundamentais. A capital gaúcha foi governada pelo partido por 16 anos e é uma espécie de vitrine da legenda. E em Salvador a luta é contra o deputado ACM Neto, uma das estrelas do DEM.
DEM e PSDB
Os líderes do DEM e PSDB não reconhecem publicamente, mas trabalham com a perspectiva de perder espaço nas pequenas cidades. Temem os efeitos dos programas sociais do governo e da máquina federal, há seis anos nas mãos de Lula e seus aliados. A principal preocupação é que a campanha passe a imagem de que o presidente é um cabo eleitoral imbatível. Hoje, Lula tem altos índices de popularidade, mas os nomes do PT ainda não decolaram.
Por isso, a oposição aposta em vencer o PT em capitais de grande visibilidade. É o caso de Salvador e especialmente de São Paulo. Na capital paulista, entretanto, será preciso superar a divisão interna. Kassab e Alckmin trocaram ataques num tom cada vez mais duro nos últimos dias, à medida que ficou claro que eles disputam um lugar no segundo turno.
A briga é especialmente dura no PSDB. O governador José Serra, um dos possíveis candidatos do partido à Presidência da República em 2010, fez uma aposta arriscada e bancou a candidatura de Kassab, contra a vontade de parte dos tucanos.
Em Minas Gerais, o governador Aécio Neves (PSDB) também desafiou aliados e adversários ao fechar um acordo com o PT em torno da candidatura de Márcio Lacerda (PSB) à Prefeitura de Belo Horizonte. No caso dele, o risco diminuiu muito com o andamento da campanha. Lacerda lidera, com chances de vencer em primeiro turno.
Alheio à disputa entre governo e oposição, o PMDB quer manter sua posição de legenda com mais prefeituras no país. É exatamente essa estrutura que dá ao partido a condição privilegiada de transitar entre os dois pólos, aliando-se tanto a Lula e ao PT quanto às legendas oposicionistas.