postado em 30/09/2008 08:44
Ramifrancis de Souza Santos, de 40 anos, não nasceu parente de deputado, prefeito ou juiz, nunca foi rico e não tem amigos influentes. Mas agora se sente bem mais perto de uma vaga no setor público. Não por acaso, publicou, em jornais de grande circulação, o anúncio: ;Graduado em administração, ex-bancário sem vínculo político-familiar se oferece para ocupar algum cargo em comissão, desocupado em decorrência de exoneração antinepotismo;. Ironia ou mero senso de oportunidade, esse morador de Belo Horizonte, que em três anos já fez pelo menos 20 concursos, resolveu assim dar sua cartada em busca de um emprego.Vagas não faltam. Afinal, desde que o Supremo Tribunal Federal (STF) publicou súmula que proíbe políticos, magistrados e gestores públicos de contratar parentes em até 3; grau para cargos das administrações direta e indireta, mais de 140 pessoas tiveram que esvaziar as gavetas em Minas. Foi há uma semana, ao ler notícias sobre o assunto, que ele teve o insight: ;Se esse pessoal está saindo, vão ter que pôr gente no lugar;, justifica, acrescentando que a condição de apadrinhado paga bem como poucas.
Ex-funcionário do extinto Banco do Estado de Minas Gerais (Bemge) e do Itaú, Ramifrancis foi bancário de 1989 a 2005. Sem perspectivas de ascensão no emprego, resolveu deixar a carreira e estudar para concursos públicos, de olho nos altos salários e na estabilidade. Com o dinheiro do acerto trabalhista, vem pagando as contas e a mensalidade de cursinhos especializados. Das 20 seleções de que participou desde então, ficou bem colocado em pelo menos 10. Mas ainda não foi convocado.
Corretor
Na Prefeitura de Belo Horizonte, que exonerou pelo menos 45 pessoas nas últimas semanas, é o 14; para a vaga de administrador da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap). No Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), está entre os 800 que, segundo ele, devem ser chamados para o posto de oficial judiciário. O ex-bancário também quer ser funcionário público em outros estados. Em Santa Catarina, tentou lugar no Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). No Paraná, espera um aceno de uma subsidiária da Petrobras. Ele diz que não perdeu as esperanças, mas, diante da possibilidade de as economias secarem, apostou em outras estratégias.
Distribuiu currículos e, há três meses, trabalha como corretor numa imobiliária de BH. ;Mas é um serviço incerto. Dependo de vender para ter comissão;, explica. Na falta de um ;quem indique;, pagou R$ 190 pelos anúncios de classificados, publicados, inclusive, num jornal paulista. Os anúncios saíram domingo e, até a tarde de ontem, os telefones não haviam tocado. Mas ele reconhece que a idéia foi um tiro no escuro. ;Não tenho nada a perder. Se der certo, saio lucrando;, comenta. E deixa claro que o que a proposta tem de sarcástica, também tem de pertinente: ;Os cargos comissionados são de livre contratação e exoneração;, afirma, esperançoso.
(Fábio Fabrini, do Estado de Minas)