Entre os cerca de 5 mil municípios brasileiros, a Cidade Ocidental ocupa o 334; lugar no ranking de incidência de homicídios, segundo levantamento feito pelo Ministério da Justiça. Na hora de enviar os filhos à escola, para os moradores resta enfrentar o medo da violência. No município, distante 48km de Brasília, faltam escolas em todos os bairros e as crianças precisam se deslocar de regiões afastadas para estudar em áreas consideradas mais desenvolvidas.
A esperança da população é que os vereadores e o prefeito que serão escolhidos no próximo domingo possam resolver essa situação. Hoje, Cidade Ocidental conta com 17 escolas públicas e 12,5 mil estudantes. Nenhum deles, por exemplo, estuda no Jardim Edite. Afinal, não há colégio no bairro.
Moradora dele, a diarista Celene Aguiar, 37 anos, faz parte do grupo dos descontentes. Dos seus quatro filhos, três têm idade escolar: 11, 10 e 8 anos. Apenas o mais novo, ainda de colo, não freqüenta a sala de aula. Todo dia, às 7h, um ônibus escolar busca os três e os leva para Mesquita, um outro bairro.
Para Celene, nada seria melhor do que tê-los perto de casa. ;A gente gostaria de uma escola por perto. Aqui falta tudo, não tem posto de saúde, e já era para ter um colégio;, diz. ;Toda eleição vem candidato aqui e promete, mas nunca construíram nada;, ressalta.
Celene confirma a tendência dos moradores da Cidade Ocidental: vive no município, mas trabalha em Brasília. Ela presta serviços duas vezes por semana em casas no Lago Sul. Recebe R$ 50 reais pela diária. Consegue juntar, em média, R$ 400 mensais para sustentar os filhos no barraco que mora no Jardim Edite. Seu marido trabalha em Santo Antônio do Descoberto, município também do Entorno, a 45 quilômetros de Brasília. A cada 15 dias, ele visita a família.
Eleição
No próximo domingo, cerca de 29 mil eleitores da Cidade Ocidental, entre os 51 mil habitantes, irão às urnas escolher o prefeito e nove vereadores. No total, quatro candidatos estão na disputa para comandar a cidade: Alex Batista (PR), Frank Nascimento (PSol), Humberto Jorge (PT) e Sônia Melo (PSDB).
Procuradores pelo Correio, os quatro responderam à pergunta da eleitora Celene Aguiar sobre a perspectiva de melhoria na educação dos moradores da cidade. Quem vencer assumirá uma cidade com o Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 108 milhões e um orçamento estimado em R$ 70 milhões por ano, tendo como base econômica a criação de gado bovino de corte e leite, a produção de doces de marmelo e o plantio de soja.
A candidata do PSDB é prefeita e tenta a reeleição. Ela assumiu a prefeitura há três meses após a morte do então prefeito Plínio Araújo. E uma curiosidade: o candidato do PT, Humberto, tem um vice do DEM, Stélio Camões, numa aliança considerada esdrúxula em um plano nacional, no qual os dois partidos atuam em lados opostos.
O DEM é um dos principais críticos do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O argumento para se aliar ao PT é a lógica matemática. Em 2004, os dois partidos ficaram em segundo e terceiro lugares, somando 13 mil votos. Juntos, PT e DEM agora apostam que podem vencer os demais candidatos.
Leitor pergunta
Celene Aguiar, 37 anos, diarista
Se o (a) senhor (a) for eleito (a), o que fará para melhorar a educação na cidade, principalmente no Jardim Edite?
# Alex Batista (PR)
Quero investir integralmente na educação. E, dentro de nosso plano de governo, a educação estará voltada para a escola integral. Queremos construir, à medida das demandas, escolas em todos os bairros, principalmente nas regiões onde a população é crescente.
# Frank Nascimento (PSol)
Precisamos ampliar as salas de aula nos bairros da cidade. No caso do Jardim Edite, é necessária a construção de escolas para suprir a demanda de quem mora nesse bairro. Além disso, é preciso criar um programa para melhorar o salário dos professores no município, como forma de elevar a qualidade do ensino.
# Humberto (PT)
Vamos adequar o número de salas de aula em todos os bairros da cidade de modo que nenhuma criança fique fora da sala de aula por falta de vagas. E vamos oferecer creches para ter educação infantil em todos os bairros de cidade. O Jardim Edite precisa de todas as estruturas, é um bairro novo. E vamos garantir recursos do PAC para estruturar esse bairro.
# Sônia Melo (PSDB)
Eu não vou prometer, eu vou assumir o compromisso com os bairros. No Jardim Edite, dá para fazer quatro salas de aula de primeira à quinta série para atender as crianças tranqüilamente. Quero ainda desenvolver um projeto para criar a escola de período integral para atender quem tem pais que não têm condições de cuidar direito.