Politica

Candidatos do Rio tentam se afastar dos estigmas

Candidatos à Prefeitura do Rio tentam se afastar de rótulos, mostrar distância de padrinhos religiosos e políticos e apresentar ao eleitor interesses mais amplos do que os defendidos ao longo da vida pública

postado em 01/10/2008 09:13
Um eleitor desavisado pode não notar que o senador Marcelo Crivella é bispo da Igreja Universal do Reino de Deus e sobrinho do criador desse poderoso ramo neopentecostal, Edir Macedo. Tem sido mais fácil achar o candidato a prefeito pelo PRB em alguma caminhada na Zona Oeste, ainda que brindando a todos com parábolas e versículos bíblicos, do que em templos evangélicos. Sem se preocupar com vínculos religiosos, o ex-senador tucano Eduardo Paes, hoje aninhado na candidatura do PMDB, recebeu no mesmo dia do cardeal-arcebispo do Rio, dom Eusébio Scheid, um quadro com a bênção do papa Bento XVI. Já o deputado Fernando Gabeira (PV), o homem que moldou sua trajetória na defesa dos gays, das prostitutas e da liberação da maconha, não fala desses temas, porque ;não são assuntos de prefeito;. O homem que marcou um antigo verão carioca desfilando de sunga de crochê anda menos nas praias e mais nas zonas Norte e Oeste. Crivella, Paes e Gabeira, como os demais candidatos na multifacetada eleição para a Prefeitura do Rio, encerram o primeiro turno da campanha como começaram, fugindo de seus estigmas, driblando rótulos e tentando a todo custo convencer o eleitor de que são muito mais do que eles venderam a vida toda. Estratégia geográfica No caso de Fernando Gabeira (PV), como no de outro deputado-candidato, Chico Alencar (PSol), a fuga é do nicho político que os consagrou, a Zona Sul do Rio que, mesmo sendo formadora de opinião, só reúne 15% do eleitorado carioca. Para ir mais longe, precisam literalmente meter o pé na lama e subir o morro. A maioria do eleitorado está na Zona Norte, com 48% do total ; mais de 3 milhões de pessoas em 52 bairros ;, seguida da Zona Oeste, com 32%, onde ficam superbairros como Bangu, Santa Cruz e Campo Grande. Outro que foge do perfil de ;candidato mauricinho; é o petista Alessandro Molon, que durante a campanha fez uma das mais impressionantes maratonas pelos bairros do Rio. No último fim de semana, debaixo de chuva, subiu o Morro Santa Marta, em Botafogo, acompanhado de um grupo de pagode, para conversar com moradores e líderes comunitários. Curiosamente, Molon tem batido muito na tecla de ;candidato do PT; e ;candidato da estrela;, mas por uma razão muito simples: para se associar à altíssima popularidade de Lula no Rio. O presidente, porém, não escolheu nenhum palanque no primeiro turno. Aliados Pior, enquanto a candidata Jandira Feghali (PCdoB) prega abertamente o voto útil nela mesma ; que chama de ;voto avançado progressista; ;, Molon, escolhido por 70% dos convencionais do PT, parece sofrer um processo de ;cristianização;, abandono pelos próprios aliados. Especialista no assunto, o PT já havia feito o mesmo, entre eleições para o estado e para a prefeitura, com Chico Alencar (duas vezes), Benedita da Silva e Vladimir Palmeira (duas vezes). Jandira, por sinal, depois de algumas consultas a assessorias políticas, tem buscado ;renovar; sua imagem até um limite discutível. Suas fotos nos outdoors diferem tanto da candidata real que o prefeito Cesar Maia batizou-a de ;candidata do Photoshop;. Apoiados pelos dois principais caciques locais, Eduardo Paes (PMDB) e Solange Amaral (DEM), escolhidos diretamente, respectivamente, pelo governador Sérgio Cabral (PMDB) e pelo prefeito Cesar Maia (DEM), têm tentando mostrar que são mais do que protegidos de seus padrinhos. Cabral e Cesar Maia, por sinal, entraram mais fortemente na campanha nos últimos dias, convencidos de que, a essa altura, mal não fazem. Cabral jogou bola na praia com Paes, e Cesar Maia tem acompanhado Solange em encontros partidários.

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