postado em 01/10/2008 16:52
A grande participação do Poder Judiciário tem sido uma das principais características durante a disputa eleitoral pela prefeitura de Recife (PE), segundo avaliou o cientista político e coordenador de Departamento de Ciências Políticas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Ernani Carvalho.
Para ele, a ;judicialização; pode causar uma ;virada; no resultado final do processo. ;Esse fato causou uma virada na disputa eleitoral e a oposição começou a explorá-lo, principalmente o segundo colocado Mendonça Filho [DEM]. Ele tem usado esse fato para tentar se aproximar [do candidato João da Costa] e chegar ao segundo turno;, argumentou Carvalho.
Segundo o cientista político, após receber várias denúncias, o Ministério Público estadual de Pernambuco pediu que a Polícia Federal investigasse a suposta utilização da estrutura da prefeitura para beneficiar o candidato petista, que é apoiado pelo atual prefeito João Paulo, também do PT.
Após as investigações, o juiz Nilson Nery, do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de Pernambuco, cassou o registro da candidatura de João da Costa. Dois dias depois, o desembargador do TRE pernambucano João Carneiro Campos apresentou despacho garantindo a continuidade da campanha do petista até que o plenário da Corte do TRE julgue o caso, o que só deve ocorrer após o pleito de domingo (5).
Além da ;judicialização;, Carvalho afirmou que, nessas eleições municipais da capital, está ocorrendo um fato novo, que é a transferência de votos de um político para o outro. Do atual prefeito João Paulo para o seu candidato João da Costa. Com as pesquisas indicando a possibilidade de vitória do petista, ainda no primeiro turno, a votação, para o cientista político, tomou um caráter de plebiscito.
;O eleitorado recifense é bastante crítico e não se vê com muita frequência uma continuidade forte e a transferência de votos. No entanto, o João Paulo [atual prefeito] conseguiu direcionar essa eleição para um plebiscito, dizendo que melhorou bastante a cidade e, para que isso tenha continuidade é preciso, que vocês [os eleitores] elejam meu candidato João da Costa [PT];, exemplificou.
Outra questão que pode ser decisiva na disputa eleitoral na capital pernambucana, na avaliação do coordenador de Departamento de Ciências Políticas (UFPE), é a participação do presidente Luíz Inácio Lula da Silva e do governador do estado, Eduardo Campos. Ambos apóiam o candidato petista João da Costa.
;Se desenharmos o perfil do eleitorado, que vota em João da Costa, há uma correlação forte entre os eleitores e os clientes dos programas sociais nos níveis nacional e estadual. Fica difícil sustentar que não existe ligação e em Pernambuco a ligação é intensa;, afirmou Carvalho, referindo-se ao fato de que Pernambucano é a terra natal do presidente Lula.
;Ele [Lula] age de forma meio paternalista. Em discurso recente afirmou que estava em Brasília, de olho no que acontece em Recife, pedindo que os eleitores não se deixem levar por críticas dos adversários, como se fossem as críticas que colocaram a candidatura de João da Costa em situação periclitante. Foi uma denúncia que o Ministério Público apurou e a Polícia Federal fez as investigações;, ressaltou.
Carvalho afirmou ainda que a participação ativa do Judiciário na disputa fez com que os candidatos, sobretudo os dois mais bem posicionados nas pesquisas de intenção de voto, deixassem de lado o debate sobre propostas, para agredirem-se mutuamente.
;Acho que isso ocorreu em uma magnitude muito forte. A campanha, em sua reta final, perde muito em qualidade;, avaliou. ;Não sei se a judicialização [por parte dos candidatos] foi a estratégia adequada e se isso vai ser bom para a oposição, porque como a estratégia do João da Costa era mais para um plebiscito, pode ser que isso seja interpretado pelos eleitores como uma puxada de tapete por parte da oposição;, acentuou Carvalho.