postado em 03/10/2008 18:44
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que se a proposta de constituição apresentada pelo PT tivesse sido aprovada na Assembléia Constituinte de 1988 seria mais difícil governar o país hoje. Ex-deputado constituinte, Lula admitiu que o PT, como partido de oposição, sugeriu alguns artigos somente para criar dificuldades para quem estivesse no poder.
"O PT, na época, tinha apenas 16 deputados, e chegamos à Constituinte com uma proposta de Constituição pronta e acabada, que se tivesse sido aprovada tal como eu queria, certamente seria muito mais difícil para governar o país do que hoje", disse o presidente em entrevista às jornalistas Tereza Cruvinel e Helena Chagas da EBC (Empresa Brasil de Comunicação).
Lula ressaltou que não esperava que o PT pudesse chegar ao poder em tão curto espaço de tempo e ser "fruto" da Constituição. "Era uma Constituição feita por um partido de oposição que, possivelmente, tinha alguns artigos que eram apenas para criar dificuldades para quem estava governando. Talvez não nos déssemos conta de que poderíamos, em tão curto prazo de tempo, chegar ao governo", Ao avaliar a proposta aprovada em 1988, o presidente disse que fez uma Constituição "extremamente avançada" e com uma participação popular "como jamais houve na história deste país".
"Conseguimos retratar na Constituição um pouco da cara do que a sociedade pensava naquele momento, sobretudo a sociedade organizada", disse.
Questionado sobre as mudanças feitas no texto ao longo dos 20 anos de vigência da Carta, Lula disse que a Constituição sofreu algumas mudanças que "não tomaria a iniciativa de fazer nunca". "No capítulo da ordem econômica, por exemplo, aquela mudança de capital nacional e capital internacional, a questão do monopólio da Petrobras, que foi quebrado. Eu não faria isso. [...] Entretanto, acho que a Constituição sofreu as modificações que as exigências políticas exigiram até agora", disse.
Lula lembrou que na época defendia um mandato de cinco ou seis anos sem reeleição, Porém, hoje, com a experiência da Presidência, admitiu que "quatro anos é muito pouco para cumprir um programa de governo num país que tem eleições a cada dois anos, onde se tem uma estrutura de fiscalização como não tinha na década de 50 ou 60".
Com relação à organização política, o presidente ressaltou que a Constituição retratou "aquilo que era a cabeça dos políticos da época" e disse que hoje será "irreversível" a discussão sobre a reforma política.
"Nós tomamos a iniciativa de mandar, como sugestão, uma proposta para o presidente da Câmara [Arlindo Chinaglia (PT-SP)] e do Senado (Garibaldi Alves (PMDB-RN)], para os presidentes dos partidos e para os líderes, para ver se as pessoas percebem que, se quisermos falar em ética e falar em moralidade, precisamos fazer uma concertação na organização política do país", disse.
Apesar da oposição que fazia à época, Lula que o fato de ele ter chegado à Presidência em 2002 após três derrotas consecutivas é fruto de uma Constituição democrática que permitiu que um metalúrgico virasse presidente. "Isso não existe em qualquer país do mundo", disse.
"De lá [1989] para cá, nas três derrotas, elegemos prefeitos, governadores, aprendemos... Quando eu cheguei, em 2002, cheguei infinitamente mais preparado e mais calejado do que teria chegado em 1989", disse.
Durante a entrevista, o presidente também relatou sua resistência em ser deputado, como queria o PT, e recordou sua atuação na Constituinte ao lado dos tucanos José Serra, hoje governador de São Paulo; Fernando Henrique Cardoso, seu antecessor na Presidência; e Mário Covas, governador de São Paulo morto em 2001.
"Naquele tempo eu estava mais à esquerda. O Mário Covas, o Fernando Henrique Cardoso e o Serra, quando deixaram o PMDB, estavam um pouco mais ao centro do que eu, e a gente tinha a direita. Obviamente que a evolução... uns evoluem para melhor, outros evoluem... este é o mundo em que nós vivemos e é bom que seja assim", disse.