postado em 05/10/2008 08:37
A disputa municipal não tem peso decisivo na eleição presidencial, segundo governistas e oposicionistas. Mesmo assim, nas duas trincheiras, reconhece-se que o governador de São Paulo, José Serra, joga uma cartada arriscada na campanha atual. Cotado para representar o PSDB na corrida pela sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o tucano seria hoje o único presidenciável ameaçado de ser prejudicado pelo resultado das urnas. O motivo é o apoio dele à candidatura à reeleição do prefeito paulistano, Gilberto Kassab (DEM), em detrimento do colega de partido Geraldo Alckmin.
Se Kassab chegar ao segundo turno contra a petista Marta Suplicy e for derrotado, deixará nas costas de Serra a responsabilidade pelo fato de o PT ter tomado o controle da maior cidade do país da parceria entre PSDB e DEM. Se o prefeito vencer, será uma vitória de Serra. Só que entre os derrotados também estarão tucanos. Entre eles, o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, que foi a São Paulo pedir votos para Alckmin. No horizonte, vislumbra-se um PSDB dividido.
;O Serra tem duas alternativas: perder ou perder. Ele não levará o partido unido;, diz o cientista político David Fleischer, professor da Universidade de Brasília. Tucanos preferem apostar que as articulações internas curarão as mágoas. ;É preciso esperar as feridas cicatrizarem;, diz o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM). ;Não me ocorra que tenha algo que não possa ser administrado ao longo do tempo;, reforça o líder tucano na Câmara, José Aníbal (SP).
Governo comemora a cizânia
Governistas saboreiam a disputa interna no PSDB em São Paulo. Apesar de ressaltarem que o quadro sucessório pode mudar completamente até 2010, unificam o discurso segundo o qual o governador José Serra sairá da campanha municipal enfraquecido. ;O embate entre Kassab e Alckmin terá conseqüências;, declara o ministro de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro. ;O PSDB entrou numa encalacrada que ninguém sabe aonde vai dar;, diverte-se o deputado federal Cândido Vaccarezza (PT), um dos generais do exército parlamentar a serviço de Marta Suplicy.
Para o deputado federal Beto Albuquerque (PSB), vice-líder do governo na Câmara, Serra deu ;um tiro no próprio pé; ao apoiar um nome do DEM. ;O derrotado é do partido dele. Como ficará o Alckmin?;, pergunta Henrique Eduardo Alves, líder do PMDB na Câmara. Cada vez mais encantado com o presidente Lula, Alves alega que a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, foi beneficiada pela campanha municipal. Nome preferido de Lula para a sucessão, a ;mãe do PAC; teria ganhado visibilidade e mais jogo de cintura para tratar com as legendas.
;A ministra sai com um saldo positivo. Divulgou a própria imagem sem prejudicar seu trabalho técnico;, diz Alves. Tal análise é controversa. O tucano José Aníbal, por exemplo, lembra que Dilma participou de atos de campanha em Porto Alegre e Curitiba para ajudar as candidatas do PT às duas prefeituras ; respectivamente, Maria do Rosário e Gleisi Hoffman. A primeira não tem vaga assegurada no segundo turno contra o candidato à reeleição José Fogaça (PMDB). Já a segunda será derrotada em primeiro turno por Beto Richa (PSDB), atual prefeito da capital paranaense, se as pesquisas estiverem corretas.
Desgaste
;O fato de a Dilma apadrinhar candidaturas não representou vitória;, destaca Aníbal. No PSB e no PCdoB, ambas siglas governistas, também há certo desconforto com o fato de a ministra tomar partido de Maria do Rosário, que disputa palmo a palmo com a comunista Manuela D;Ávila o direito de enfrentar Fogaça. O melindre já havia sido previsto por Múcio antes do início da campanha. ;A Dilma é do PT. Não gosto quando dizem que o Lula prefere um candidato a outro, que privilegiará fulano ou sicrano;, queixa-se Albuquerque, coordenador da campanha de Manuela.
O PSB tem como presidenciável o deputado federal Ciro Gomes (CE), também considerado vice potencial em diferentes chapas. Ciro se empenhou para levar a ex-mulher Patrícia Saboya (PDT) ao segundo turno em Fortaleza. Em vão, conforme as pesquisas. Além disso, saiu a campo em busca de votos para Manuela. Para o cientista político David Fleischer, a atuação de Ciro e de Dilma foi discreta. ;Agora, em Belo Horizonte, ele e o Aécio tiveram sucesso na aliança;, observa Fleischer, referindo-se à chapa encabeçada por Márcio Lacerda, líder nas intenções de voto.