postado em 05/10/2008 08:42
São Paulo ; Começa a ser desenhado neste domingo (05/10) o cenário da disputa presidencial de 2010. No ambiente político, as maiores atenções voltam-se para a disputa da prefeitura da capital paulista, a principal cidade brasileira, ao redor da qual também nasceram as duas legendas que, há 14 anos, se alternam no comando do país: PT e PSDB. Depois de meses de uma das mais acirradas e agressivas campanhas já vistas na história recente da cidade, a eleição chega ao final com petistas, tucanos e democratas disputando a preferência de quase 8,2 milhões de eleitores, uma população semelhante à de países como a Áustria, na Europa, ou a Bolívia, na América do Sul.
Quando a contagem das urnas for encerrada, o paulistano terá escolhido 55 novos vereadores, entre 1.076 candidatos, e levado para o segundo turno, marcado para o dia 26, os dois candidatos mais bem votados, que se enfrentarão em nova guerra pela conquista do posto que administra o terceiro maior orçamento da União.
Apesar de 11 chapas estarem concorrendo à prefeitura, as pesquisas de intenção de voto indicam que a segunda fase da corrida eleitoral contará com a ex-ministra do Turismo e ex-prefeita paulistana (2001-2004) Marta Suplicy (PT) líder no páreo. Brigam pela outra vaga o atual prefeito e candidato à reeleição, Gilberto Kassab (DEM), e o ex-governador paulista, Geraldo Alckmin (PSDB).
O prefeito Gilberto Kassab conta com adesão de ala expressiva dos tucanos paulistanos e apoio velado do atual governador do estado, José Serra (PSDB). Kassab era vice-prefeito até 2006, porque elegeu-se na chapa de Serra no final de 2004, ano em que a derrotada nas urnas foi a então prefeita Marta Suplicy. Serra ocupou a prefeitura por um ano e meio e renunciou ao cargo para disputar e vencer as eleições para o governo paulista em 2006. Desde então, ele e Kassab alimentam o projeto da sucessão municipal.
As divergências que nasceram ainda em 2006 entre os grupos tucanos do governador José Serra e Geraldo Alckmin acabaram evidenciados. E foram amplificados a partir do momento em que Alckmin decidiu ser candidato à prefeitura, quando a aliança PSDB-DEM estava mais do que consolidada nos comandos da cidade e do estado. Embora tenha ganho a convenção do partido com 90% dos votos possíveis, Alckmin foi praticamente abandonado pelos integrantes da legenda durante os mais de três meses de uma campanha marcada por racha no partido, troca de marqueteiro, falta de recursos financeiros e, principalmente, de apoio incisivo do governador Serra, que praticamente isentou-se do páreo.
Dos 12 vereadores da bancada tucana na Câmara Municipal de São Paulo, 11 apoiavam Kassab antes da convenção do PSDB. Metade abraçou o compromisso de fazer campanha, ainda que discretamente, pelo candidato do partido, mas vários parlamentares se mantiveram em posição frontalmente contrária e foram trabalhar pela reeleição de Kassab. Vereadores tucanos e de outras legendas que dão sustentação ao democrata no legislativo detêm também o controle político da maioria das 31 subprefeituras da cidade ; subdivisões administrativas responsáveis por resolver problemas de comunidades que chegam a ter mais de 500 mil pessoas.
Militância
Alckmin, que antes da campanha apareceu como líder nas primeiras pesquisas, se viu engolido pelo crescimento constante de Kassab e, agora, conta apenas com a fidelidade de seu antigo eleitorado paulistano e com a militância do PSDB para virar o jogo. Em contrapartida, antes mesmo da eleição, o prefeito Kassab já sabe que, caso se confirme a previsão de que seguirá na disputa, terá o apoio do PSDB na próxima fase, quando todas as forças políticas contrárias à retomada da prefeitura pelo PT prometem se unir para derrotar Marta Suplicy.
Nos bastidores já é dada como certa uma nota oficial que o PSDB deve soltar amanhã ratificando a retomada da aliança com o DEM em nível nacional, nos locais em que as siglas não forem adversárias diretas. Em São Paulo, a costura pela parceira entre as legendas após meses de uma crise que levou os tucanos à sangria em praça pública já começou por intermédio de caciques nacionais democratas e tucanos. Oficialmente, não se fala no assunto no PSDB, porque a ordem é apoiar Alckmin até o fim, ao menos de maneira burocrática.