postado em 07/10/2008 10:08
O cruzamento dos dados do Bolsa Família com o balanço das eleições municipais derruba a tese de que o programa traria resultados eleitorais imediatos. Nos 100 municípios que apresentam o maior percentual de bolsas, o PT, partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, teve dificuldades até mesmo para lançar candidatos. Foram apenas 16. O número de eleitos foi de apenas quatro. O campeão de votos nesses redutos foi o PMDB, com 40 candidatos e 23 prefeitos eleitos.
Muitos políticos imaginavam que o Bolsa Família puxaria votos para o PT nestas eleições. Afinal, são quase 11 milhões de famílias beneficiadas. Considerando dois eleitores por família, já seriam 22 milhões de votos, o que representa 12% do eleitorado brasileiro. Isso sem contar os familiares e amigos dos beneficiários. Mas o PT ficou atrás até de um partido médio, o PTB, que contou com 35 candidatos nesse universo e obteve 20 vitórias. Mesmo o PSDB, um partido de oposição, teve melhor desempenho do que o partido do presidente, com 25 candidatos e 13 vitórias. Também obtiveram mais vitórias o PSB (11), o PDT (oito) e o PR (sete). Outra legenda de oposição, o DEM, conseguiu o mesmo número de vitórias do PT.
Os municípios que concentram o maior número de beneficiários são todos pequenos, com população média de 8,8 mil habitantes. Trinta e cinco desses municípios têm menos de 5 mil moradores. São os chamados grotões do Brasil. Entre essas 100 cidades, 36 ficam no Piauí e 18 no Maranhão. Como Pedro Laurentino (PI), com 2.086 habitantes e 509 beneficiários (um quarto da população). Belém do Piauí (PI), com 2.552 moradores, conta com 549 bolsas. O PTB e o PMDB venceram as eleições nessas cidades. O PT obteve suas vitórias em cidades um pouco maiores, como Quixabeira (BA), com 10.347 habitantes, e Lagoa Grande do Maranhão, com 9.119 moradores.
O Nordeste é a região mais privilegiada pelo programa Bolsa Família. São 5,5 milhões de beneficiários para um total de 50 milhões de habitantes. Um percentual médio de 11%, considerando apenas uma pessoa por família. O Piauí tem o percentual mais alto de bolsas, com 12,72%. A situação inversa é vivida na Região Sul, com 892 mil bolsas para uma população de 25,7 milhões. Percentual médio de apenas 3,3%. Santa Catarina tem o percentual mais baixo de beneficiários, com 2,13% da população.
Redução da pobreza
O Bolsa Família é um programa de transferência direta de renda que beneficia famílias em situação de pobreza e extrema pobreza. No primeiro grupo, estão as famílias com renda mensal R$ 60 a R$ 120. No segundo, as famílias com renda de até R$ 60. Integra o Fome Zero, lançado logo no início do governo Luiz Inácio Lula da Silva. O dinheiro é sacado em bancos e caixas eletrônicos com a utilização de um cartão magnético, que só permite o saque integral do benefício, sem possibilitar o acesso a outros serviços bancários. Esse sistema substitui as antigas ;cestas básicas;, que demandavam enorme despesa com transporte, sem contar os eventuais casos de desvios de mercadorias.
O governo utiliza o cadastro único para identificar os potenciais beneficiários do Bolsa Família, além de outros programas sociais. Como esse cadastro é utilizado também por estados e municípios, evita-se a sobreposição de programas para uma mesma família. Nos últimos anos, o governo enfrentou muitas denúncias de distribuição indevida de bolsas, beneficiando pessoas com renda muito acima dos limites impostos pelo programa. O governo criou canais para receber essas denúncias, por meio de cartas, e-mails e por intermédio de entidades de controle social.
O benefício chega hoje a 10,84 milhões de famílias. O programa considera que são beneficiadas, em média, 4,5 pessoas por família, o que representa um total de 48,7 milhões de pessoas atendidas. O total de famílias cadastradas chega a 16,79 milhões. O segundo programa em número de família atendidas é o auxílio-gás, com apenas 242 mil beneficiários.