postado em 08/10/2008 21:22
É corriqueira a versão de que a deputada Elina Carneiro (PSB) seria quem de fato dita as cartas na Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes. O prefeito eleito Elias Gomes, durante a campanha, chegou a dizer que a parlamentar teria destronado o pai, Newton Carneiro (PRB). Mas ninguém que participe ou tenha participado do governo havia, até ontem, assegurado a versão. Exonerado no meio da rua na terça-feira, o secretário de Saúde Ulisses Tenório não só decidiu fazer isso, mas afirmou que, semanas antes das eleições do primeiro turno, a parlamentar se reuniu com os secretários para pedir empenho. E que desviassem recursos de suas pastas para obras viárias, com o objetivo de alavancar a campanha de reeleição do prefeito.
;Entre 20 e 30 dias antes das eleições, ela pediu para que as secretarias ajudassem a Secretaria de Infra-Estrutura para fazer obras de visibilidade;, contou o ex-secretário. Ulisses disse não ter concordado com a proposta sob a alegação de que os recursos da sua pasta eram para programas predeteminados
como Saúde da Família e Atenção Básica de Saúde. ;Não houve retaliação por causa disso, mas deve ter ficado alguma seqüela pela minha negação;, acredita. Ainda antes das eleições, acrescentou, houve outro pedido para colaborar na informatizar as secretarias. O projeto, a ser rateado, custaria cerca de R$ 600 mil. ;A proposta era legal, mas não concordei por entender
que, por ser próximo à uma nova gestão, não era o momento oportuno;, considerou.
Segundo Ulisses Tenório, Elina fez ingerências no governo desde a época em que estava à frente da Secretaria de Assistência Social. Ela ocupou a pasta de 2005 a 2007. As interferências permaneceram sendo feitas mesmo depois de assumir a vaga na Assembléia Legislativa, em fevereiro de 2007. ;Ela tinha ingerência na prefeitura como um todo;, assegurou o ex-secretário, que por três vezes foi eleito vereador de Jaboatão e, por três vezes, comandou a Saúde do município. As duas primeiras ocorreram nos governos de Geraldo Melo.
O comando de Elina ficava evidente nas reuniões de ecretariado. Quando secretária, revelou Ulisses, a parlamentar ;determinava, solicitava, pedia; para que secretários e assessores colaborassem. Não apenas isso. ;Fazia alguns questionamentos;, pontuou. A participação de Elina dava-se durante todo o período da reunião, enquanto o prefeito Newton Carneiro costumava
chegar sempre nos instantes finais dos encontros. O poder da deputada dentro do governo, segundo o ex-secretário, foi primordial para seu afastamento do cargo na manhã da última terça-feira. ;Foi ela que mandou ao assessor me exonerar no meio da rua;, afirmou.
Além de ser desligado, Ulisses e outros 361 comissionados ficaram proibidos de entrar na secretaria. Um dos argumentos apresentados pelo município era o de preservar o patrimônio público. ;Ela justificou esse ato antidemocrático e antiético dizendo que a gente tinha, no dia anterior, levado documentos;,
criticou. O secretário ingressará com um processo na Justiça por danos morais contra a deputada e a prefeitura. E afirmou que vai colaborar com as investigações abertas pelo Ministério Público.