Politica

Capacidade de Dilma será testada em 2009 com a crise financeira

;

postado em 20/10/2008 08:37
Não é apenas o alto nível de avaliação positiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que está ameaçado pela crise financeira mundial. A turbulência nos mercados e o seu impacto na economia brasileira podem minar as chances de a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, representar o governo na próxima sucessão presidencial. Segundo auxiliares de Lula e parlamentares, Dilma enfrentará uma prova de fogo até 2010. Terá de garantir a execução dos principais programas do governo, a fim de impedir uma desaceleração acentuada do Produto Interno Bruto (PIB), num cenário que, mantida a previsão atual, será de menor arrecadação tributária e de menos crédito para a produção e o consumo. Ou seja, a ministra será testada nos papéis de ;capitã do time; e de ;gestora extraordinária;, citados por Lula constantemente a fim de credenciá-la para a disputa da sucessão. ;Agora, ela será testada como gerentona e gestora dos principais programas do governo. A ministra tem gás (para superar o desafio);, diz o senador Delcídio Amaral (PT-MS), relator da proposta de Orçamento da União para 2009. Conforme o Correio antecipou, o governo revisará a previsão de crescimento para o ano que vem de 4,5% para cerca de 4%. Com menos dinheiro em caixa, será forçado a cortar gastos a fim de manter as contas equilibradas. Por enquanto, a prioridade é preservar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o reajuste do salário mínimo e os programas sociais, com destaque para o Bolsa Família. Ou, posto de outra forma, preservar os investimentos públicos e o poder de compra de milhões de brasileiros que passaram a integrar o chamado ;mercado de massa;, motor do crescimento econômico atual, conforme análise do Planalto. ;O presidente não quer inventar mais nada. A ordem é tocar, bem e com rapidez, o conjunto de medidas já anunciado;, afirma um ministro. Bandeira Dilma é peça-chave nessa estratégia. Além de cobrar resultados dos colegas de ministério, como faz desde que trocou a pasta de Minas e Energia pela Casa Civil, tem a missão de acelerar o ritmo do PAC, bandeira com a qual Lula pretende marcar seu segundo mandato. ;Ela tem se mostrado uma gestora eficiente desde a época em que chefiava Minas e Energia; afirma o cientista político David Fleischer, professor da Universidade de Brasília (UnB). ;Agora, gerenciar num cenário de expansão econômica mundial é relativamente fácil. Já com a possibilidade de queda drástica no nível de arrecadação...;, acrescenta. Líder do PSDB na Câmara, o deputado José Aníbal (SP) diz que a crise financeira e a situação da economia em 2010 terão forte peso no jogo sucessório. O discurso é entoado por outros comandantes da oposição. Em uníssono, eles alegam que o governo não soube aproveitar a bonança internacional nos últimos anos. E, por isso, será castigado nas urnas. ;Este governo é muito conservador, não planta. Vamos ver se a máquina funcionará;, declara o tucano, numa espécie de desafio. ;Não há uma Parceria Público-Privada (PPP) do governo federal. O PAC era desanimador em termos de resultado até os números mais recentes. Eles perderam o melhor momento, que era de vento a favor na economia;, complementa Aníbal. Por enquanto, os dados são favoráveis a Dilma. Ao menos no caso do PAC. Segundo a Associação Contas Abertas, o programa pagou R$ 7,98 bilhões entre janeiro e 6 de outubro, dos quais R$ 1,7 bilhão com recursos da lei orçamentária vigente e R$ 6,2 bilhões via restos a pagar. O valor é 55% maior do que o registrado nos 10 primeiros meses do ano passado. Além disso, é quase igual ao total desembolsado em 2007: R$ 8 bilhões. Sob a batuta da ;gerente da máquina;, o investimento público também deu um salto. Passou de R$ 29,8 bilhões em 2006 para R$ 37,6 bilhões e R$ 43,2 bilhões em 2007 e 2008, respectivamente. Os dados incluem dinheiro do governo federal e das estatais e são relativos aos oito primeiros meses de cada ano. ;As pessoas estão se sentindo bem, o que beneficia quem está no poder. Se isso vai resistir à crise, a gente ainda não sabe;, diz o cientista político Paulo Kramer, professor da UnB.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação