Politica

Desconfiança interna marca disputa pelos comandos da Câmara e do Senado

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postado em 22/10/2008 08:46
A disputa pelos comandos da Câmara e do Senado reacendeu antigas desconfianças dentro do PMDB. Oficialmente, o partido está unido em torno da eleição do deputado Michel Temer (SP) para a presidência da Câmara, mas a postura da bancada do Senado aumenta a tensão. Os senadores se recusam a apoiar Tião Viana, candidato do PT à presidência da Casa. A resistência coloca em risco os planos de Temer, que precisa do apoio dos deputados petistas. Os caciques das duas bancadas conversam várias vezes por semana e juram fidelidade. Mas não confiam uns nos outros. Há um problema de fundo. Senadores e deputados do PMDB formam grupos rivais. Disputam o poder interno na legenda e espaços no governo Lula. A eleição de Temer para a presidência da Câmara reforçará a posição do grupo dele. Especialmente se, em contrapartida, os peemedebistas do Senado tiverem de deixar o comando da outra Casa do Congresso. ;Os senadores estão fazendo um jogo duplo. Ou se cacifam para continuar comandando o Senado ou atrapalham a eleição de Temer;, diz um aliado do deputado. ;Querem empatar o jogo. Pode ser por um a um ou zero a zero.; Hoje, o grupo da Câmara é mais forte. Temer comandou a adesão ao governo Lula da bancada, que no primeiro mandato teve uma postura de rebeldia. Com isso, os deputados ganharam os ministérios da Agricultura e da Integração Nacional, além de cargos importantes em estatais e no segundo escalão. Ao mesmo tempo, os senadores foram enfraquecidos pelo escândalo que quase custou o mandato de Renan Calheiros (AL). Ele foi obrigado a deixar a presidência do Senado. Em seu lugar, assumiu Garibaldi Alves Filho (RN). Primo do líder peemedebista na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), Garibaldi mantém uma relação cordial com os deputados. Além disso, Lula apadrinhou a candidatura de Temer, convencido de que o grupo da Câmara é fundamental para manter o PMDB na base do governo. Isso impediu Renan e o senador José Sarney (AP) de se oporem às pretensões do deputado, como ocorreu em eleições anteriores. Mas não assegura a fidelidade nos bastidores. Senadores do partido admitem a rejeição a Viana, mas negam se tratar de um movimento contra Temer. ;É coisa interna, do Senado;, diz um parlamentar. ;Nossa bancada não confia em Tião e não quer ceder o comando da Casa ao PT;. Mágoas Renan é quem tem as maiores mágoas. Vice-presidente do Senado, o petista assumiu o cargo quando o peemedebista se licenciou para defender o mandato e deu andamento ao processo de cassação. Sua eleição seria uma nova derrota para o senador alagoano, que acalenta planos de vingança. Reservadamente, aliados de Renan dizem que a estratégia é adiar a definição do Senado até que a candidatura de Temer se torne irreversível na Câmara. Então, seria a hora de dizer não ao PT. Os deputados não confiam nessa tática. Lembram que Temer deverá enfrentar Ciro Nogueira (PP-PI), que arregimenta apoios há quase dois anos. A votação é secreta e a traição de parte da bancada do PT poderia decidir a disputa. Por enquanto, os senadores do PMDB disfarçam o jogo. Não assumem publicamente nem mesmo as resistências a Viana. Preferem dizer que a correlação de forças no Senado é apertada e que é preciso envolver a oposição nas negociações. A oposição não aceita nem discutir a possibilidade de entregar a presidência ao PT. Colocando-a no jogo, os peemedebistas apostam no impasse. Reforçam sua posição e adiam a decisão. Enquanto isso, Renan e Sarney articulam nomes que possam ser considerados palatáveis pela oposição. A primeira opção é o próprio Sarney. Historicamente, ele já deixou claro que não entra em disputas. Mas não rejeitaria um apelo ao ;consenso;. Sua chance é ser apresentado como um candidato mais viável que Viana e com isso garantir o apoio do Planalto. Outra opção é o ministro das Comunicações, Hélio Costa (PMDB-MG). Ele já avisou o suplente, Wellington Salgado, que pode reassumir o mandato no fim do ano caso exista chance de ser eleito presidente.

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