postado em 24/10/2008 17:00
O advogado do banqueiro Daniel Dantas, Nélio Machado, condenou nesta sexta-feira (24/10) a pressa da Justiça em finalizar o processo que investiga a tentativa de corromper um delegado da Polícia Federal na Operação Satiagraha.
"A melhor conduta é ter o cuidado para ter pressa. O juiz não tem que querer dar uma sentença, ele tem que analisar primeiro. Esse processo, na forma que está, não tem como ser julgado", disse Dantas.
Nélio disse ainda que o processo é cheio de falhas. "Diante de um processo cheio de falhas e imperfeições, o melhor cuidado é você arrumar a casa para depois fazer a festa. Querem fazer a festa com a casa desarrumada. A casa não tem condições de receber as visitas e o espetáculo que se quer alcançar com essa decisão exemplar, que não me parece uma decisão, tem de vir em prol do equilíbrio", disse o advogado.
A defesa ainda comparou o caso com um jogo de futebol. "O julgamento em primeiro grau é como o primeiro tempo de um jogo de futebol, pode estar um a zero para um time e o outro vai lá e faz quatro gols e ganha. Então, se eu tomar gol aqui, vou fazer gol lá na frente", disse.
Ele reiterou ter absoluta tranqüilidade em relação ao julgamento e a decisão da Justiça como um todo. "Eu tenho absoluta tranqüilidade, não necessariamente em relação ao que possa passar no julgamento aqui de primeira instância, mas tenho absoluta tranqüilidade na decisão da Justiça, que a Justiça irá proclamar." Hoje, o professor Hugo Chicaroni, apontado como suposto emissário de Dantas na tentativa de corromper o delegado, não fez nenhuma modificação no depoimento prestado ao juiz federal Fausto Martin de Sanctis, da 6¦ Vara Criminal de São Paulo. Em depoimento ao juiz no dia 7 de agosto, Chicaroni atribuiu à PF a responsabilidade pela tentativa de suborno, rechaçou qualquer pedido de exclusão de Dantas da investigação, assumiu como sendo dele os R$ 50 mil pagos ao delegado e concluiu dizendo que acredita que o banqueiro ignorava a negociação.
Na ocasião, o professor disse ter ficado "desconcertado" ao escutar do delegado o pedido de US$ 1 milhão. Afirmou que entregou os R$ 50 mil, do próprio bolso, para ganhar a simpatia do Grupo Opportunity, de Dantas, e como um "empréstimo" ao delegado Protógenes Queiroz. "Minha amizade é muito grande." Ele confirmou que os R$ 865 mil apreendidos na casa dele, no dia em que foi deflagrada a Operação Satiagraha, foram entregues em vários envelopes por ordem de Humberto Braz, braço direito de Dantas. Hoje, o depoimento durou cerca de 20 minutos. Segundo a promotora Ana Mara Ozório Silva, caso o juiz aceite os requerimentos apresentados pela defesa de Chicaroni, os advogados terão cinco dias para a formulação do memorial (defesa).
"O juiz entendeu que não havia necessidade de nenhuma diligência, apenas vai ser requerido o prazo legal para oferecimento das alegações finais, que são os memoriais", disse Silva. De acordo com a promotora, a defesa de Humberto Braz, também envolvido no caso, contestou a transcrição de um dos depoimentos e pediu uma perícia de espectograma de voz. Neste momento, o juiz analisa os requerimentos da defesa e deve apresentar um parecer até o final da tarde. Investigações.
Além de Dantas, Chicaroni e Braz, a Operação Satiagraha prendeu o investidor Naji Nahas e o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta, entre outras pessoas.
Segundo a PF, as investigações começaram há quatro anos, com o desdobramento das apurações feitas a partir de documentos relacionados com o caso mensalão. A partir de documentos enviados pelo STF (Supremo Tribunal Federal) para a Procuradoria da República no Estado de São Paulo, foi aberto um processo na 6¦ Vara Criminal Federal.
Na apuração foram identificadas pessoas e empresas supostamente beneficiadas no esquema montado pelo empresário Marcos Valério para intermediar e desviar recursos públicos. Com base nas informações e em documentos colhidos em outras investigações da Polícia Federal, os policiais apuraram a existência de uma organização criminosa, supostamente comandada por Daniel Dantas, envolvida com a prática de diversos crimes.
Para a prática dos delitos, o grupo teria possuído empresas de fachada. As investigações ainda teriam descoberto que havia uma segunda organização, formada por empresários e doleiros que supostamente atuavam no mercado financeiro para lavagem de dinheiro. O segundo grupo seria comandado pelo investidor Naji Nahas.
Além de fraudes no mercado de capitais, baseadas principalmente no recebimento de informações privilegiadas, a organização teria atuado no mercado paralelo de moedas estrangeiras. Há indícios, inclusive, do recebimento de informações privilegiadas sobre a taxa de juros do Federal Reserve (Fed, o BC americano).