Politica

Cresce na base governista a especulação sobre mudanças no primeiro escalão

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postado em 13/11/2008 08:27
Brasília está tomada pela especulação. Enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva baixa medidas em resposta à crise financeira e seus reflexos na economia brasileira, políticos fazem apostas de alto risco numa espécie de mercado futuro do poder. Investem sobre aliados para conquistar dividendos no Congresso e na Esplanada dos Ministérios. Neste mês, por exemplo, foi orquestrada uma ofensiva que, se bem-sucedida, mexeria em pelo menos três postos de comando no Executivo e no Legislativo. Pelo plano negociado entre articuladores políticos do governo e lideranças parlamentares, o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), assumiria o Ministério da Saúde, em 2009, no lugar de José Gomes Temporão. O sucessor de Chinaglia seria o ministro de Relações Institucionais, o deputado licenciado José Múcio Monteiro (PTB), enquanto que o peemedebista Michel Temer (SP), candidato a presidir os deputados, seria empossado no Ministério da Justiça, em substituição ao petista Tarso Genro. Único concorrente declarado no páreo pela Presidência do Senado, Tião Viana (PT-AC) abriria mão da candidatura em favor dos peemedebistas e, como bonificação, passaria a comandar a articulação política, sucedendo Múcio. Por enquanto, a proposta ficará em banho-maria. Por vários motivos. Temer, por exemplo, quer presidir a Câmara e acha que tem condições de vencer a disputa, na qual terá como principal concorrente o deputado Ciro Nogueira (PP-PI), que atua com desenvoltura no mercado batizado de ;baixo clero;. Já o presidente Lula não trabalha por Múcio nem por Chinaglia, mas para garantir a eleição de Temer e de Tião. Além disso, a tendência é o Ministério da Justiça, se for repassado ao PMDB, cair nas mãos dos senadores do partido ou de políticos ligados a eles. Como o titular da Defesa, Nelson Jobim. ;Esse plano foi muito mal desenhado. Pode jogá-lo no lixo;, ataca o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). ;O PMDB perde o Ministério da Saúde, perde a Presidência da Câmara e ainda fica com a Justiça e o abacaxi da Polícia Federal;, acrescenta. Os deputados do PMDB estão satisfeitos com o espaço que têm no governo. Indicaram os ministros da Agricultura, Reinhold Stephanes; da Saúde, José Gomes Temporão; e da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima. Além disso, estão certos de que elegerão Temer na Câmara. ;O partido está muito bem contemplado no governo. Não devemos reclamar mais espaço;, afirma Alves. A declaração não é à toa. Reservadamente, os deputados peemedebistas torcem para que os senadores da sigla deixem a Presidência do Senado em 2009 e não sejam compensados por isso com um ministério. Chance Alegam que, se isso ocorrer, ficarão fortalecidos na contenda interna pelo comando da legenda. Os senadores estão cientes do quadro e prometem lutar para manter o equilíbrio entre os dois grupos. A prioridade é eleger o sucessor de Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN) no comando do Congresso. Interessados não faltam. O favorito é o senador José Sarney (AP), que, em público, afirma não ser candidato. Corre por fora o senador licenciado Hélio Costa, que admite deixar o Ministério das Comunicações e voltar à Casa se tiver a chance de participar da eleição. Os petistas contam com o apoio de Lula para convencer o PMDB a apoiar Tião. Reservadamente, ameaçam votar contra Temer na Câmara caso não haja retribuição no Senado. Ou seja, cogitam romper um acordo firmado com o deputado peemedebista há dois anos. É justamente isso que Lula quer evitar. Afinal, tanto na política como na economia, quebra de contrato é sinônimo de instabilidade. ANÁLISE DA NOTÍCIA De passo em passo São pelo menos dois os motivos que justificam a resistência da bancada do PMDB na Câmara às propostas de mudança no primeiro escalão discutidas entre parlamentares e articuladores políticos do governo. Primeiro, o grupo considera prioridade a posse de Michel Temer na Presidência da Casa em fevereiro de 2009. Avalia que, se isso ocorrer, dará um passo decisivo para manter o controle do partido e representá-lo nas negociações sobre a sucessão presidencial em 2010. Além disso, os deputados peemedebistas acham que a iniciativa não contribuirá para resolver a disputa entre PMDB e PT em torno da Presidência do Senado. Passaria longe disso. E beneficiaria apenas dois personagens. Um deles seria o ministro de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, que voltaria à Câmara para comandar os colegas deputados. O outro seria o atual comandante da Casa, Arlindo Chinaglia (PT-SP). Volta e meia cotado mas nunca confirmado na pasta, o médico petista finalmente assumiria a Saúde. Desde o ano passado, Múcio e Chinaglia negam sonhar com novas funções. Consideram-se em meio a uma fumaça provocada por fogo amigo.

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