postado em 17/11/2008 09:07
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) quer impor regras mais claras para o uso de carros oficiais por magistrados. A intenção é evitar abusos. Para isso, o CNJ ; órgão responsável pelo controle externo do Poder Judiciário ; deve aprovar esta semana uma resolução com normas para a compra e a utilização dos veÃculos por juÃzes de todo o paÃs. O conselho descobriu que há muitos tribunais que não têm regra alguma sobre como usar dinheiro público para adquirir os carros. E quer mudar essa situação.
A sugestão foi feita há dois meses pelo conselheiro Paulo Lobo e deverá ser analisada na próxima sessão do conselho, marcada para terça-feira. Autor de uma proposta famosa, a que proibiu a contratação de parentes de juÃzes, em 2005, Lobo disse que teve a idéia de regulamentar a compra de automóveis depois que o CNJ se deparou com relatos de problemas de infra-estrutura no Judiciário e, logo em seguida, teve que analisar a compra de carros para o Tribunal de Justiça do Maranhão (TJ-MA). ;Uma das situações que me fizeram apresentar essa proposição foi o fato de termos apreciado, de uma sessão para outra, uma reclamação de mau funcionamento do Poder Judiciário ; com juÃzes tendo que tirar do bolso dinheiro para comprar papel porque se não o cartório fecharia ; e, 15 dias depois, apreciarmos o uso de veÃculos de luxo para desembargadores do tribunal;, disse.
;Entrei com uma proposta no CNJ para regulamentar o uso de carros oficiais, que considero muitas vezes abusivo. É uma forma de confundir o público e o privado. A proposta simboliza a austeridade da aplicação do dinheiro público, que não pode servir para finalidades privadas. É como no caso do nepotismo: as pessoas acham que, já que são autoridades, podem ter privilégios. O espaço público passa a ser extensão do privado. O que me parece fundamental é que haja austeridade no uso do dinheiro público;, completou. Procurada pelo Correio, a assessoria do TJ não retornou as ligações.
RodÃzio
A falta de normas acabou acarretando situações discrepantes. O Tribunal de Justiça de Rondônia (TJ-RO), por exemplo, tem apenas um veÃculo oficial para ser usado por oito desembargadores. Enquanto isso, no Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR), um magistrado chegou a recorrer ao CNJ para exigir um carro exclusivo, com motorista. Promovido a desembargador em 2004, com a extinção dos Tribunais de Alçada, ele queria que o tribunal fosse obrigado a comprar mais veÃculos ou que os já existentes fossem usados em esquema de rodÃzio. O CNJ concluiu que a compra não era necessária e que caberia ao tribunal decidir de que forma os veÃculos seriam usados. ;Ficou decidido que os desembargadores mais antigos continuariam utilizando os veÃculos e que os mais novos usariam os carros em sistema de rodÃzio, como acontece no próprio CNJ, em que não temos um carro exclusivo. O conselho entendeu que o desembargador não tinha direito a um carro exclusivo para ele;, disse o conselheiro Antonio Umberto, relator da proposta que entrará em pauta.
Antonio Umberto pediu um relatório aos tribunais sobre a compra e o uso dos automóveis pelos magistrados brasileiros. Ao analisar o material, ele disse que não detectou situações de flagrante abuso no Judiciário. Mas disse que a ação do CNJ pode servir para inibir irregularidades. ;A preocupação do conselho com essa matéria inspira que os tribunais tenham cuidados em relação à gestão de seus automóveis de forma adequada;, declarou. ;O tribunal precisa verificar a adequação orçamentária desse tipo de compra em relação às suas necessidades. O normal que se espera de qualquer administrador público é que ele priorize, dentre as necessidades, aquilo que esteja diretamente relacionado à atividade. Então, a aquisição de papel, tinta e o pagamento de servidores têm que preceder qualquer outra necessidade;, alertou.
Ouça entrevista com conselheiro Antonio Umberto: