Politica

Gestores do Bolsa Família percebem entre os efeitos negativos do programa a ausência de iniciativa para buscar emprego

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postado em 23/11/2008 12:49
Os números mostram o crescimento do mercado formal de trabalho nos municípios que mais recebem o Bolsa Família, mas gestores locais observam também fenômenos negativos gerados pelo programa. Um deles seria a ;acomodação; das pessoas contempladas. ;Por um lado, deixa o pessoal acomodado. Como tem aquilo garantido, não sai para procurar outra coisa. Aqui, você precisa de uma pessoa para limpar um pátio, lavar uma roupa, e não encontra;, afirma Fernanda Coleone, que foi gestora do Bolsa Família até o ano passado em Sítio D;Abadia (GO) Lidiane Ramos Evangelista, técnica operacional do programa em Monte Alegre (GO), tem a mesma opinião: ;Eu acho que acomoda. Como a pessoa tem essa renda garantida todo mês, não se preocupa em trabalhar;. A gestora do programa em Nova Roma, Márcia Regina, afirma que ;tem os dois lados;. ;O programa gera dinheiro para o município, mas não leva a pessoa a se preparar para outra coisa. Mas, para muitos, não tem outro jeito. O programa é necessário.; A prefeita de Mambaí (GO), Glenice Teixeira (PR), não acredita nessa acomodação: ;Falam que as pessoas não querem trabalhar por causa do programa. Não é verdade. O fato é que muitos no campo não querem assinar carteira. Só tem serviço temporário. Agora, estão surgindo empregos nas plantações de café. E as pessoas estão trabalhando;. Um dos beneficiados pelo Bolsa Família em Sítio D;Abadia, Jaime de Souza, é uma demonstração de que o programa nem sempre acomoda o trabalhador. Ele recebe um benefício de R$ 112. Ajuda a sustentar os seis filhos, mas nem por isso ele deixa o emprego na prefeitura, onde recebe um salário mínimo. Nas horas vagas, corta o cabelo dos vizinhos por R$ 3. ;Não acho que acomoda. Quem consegue alguma coisa, vai trabalhar;, comenta. Objetivo cumprido A secretária nacional de Renda de Cidadania, Lúcia Modesto, coordenadora do Bolsa Família, afirma que o programa é ;uma complementação da renda da família;. Os estudos feitos pelo ministério mostram que esse benefício representa, em média, de 30% a 40% da renda familiar dos beneficiados pelo programa. Ela discorda da tese da acomodação: ;Isso é bem localizado;. Informada sobre casos de mães beneficiadas pelo programa que preferem ficar em casa cuidando dos filhos, em vez de trabalhar fora, ela comenta: ;Se uma mãe deixa de ir trabalhar para cuidar da família, para ver se os filhos vão à escola, se cuidam da saúde, é porque o programa já está cumprindo um dos objetivos;. Modesto acrescenta que o Bolsa Família também tem o lado de ;forçar a valorização do trabalho;. Ela cita que, no Nordeste, alguns empreendimentos teriam ficado sem mão-de-obra, mas porque pagavam muito pouco. ;Havia o caso de donos de terras que queriam pagar diária de R$ 1. Acabou havendo um aumento dos salários pagos nesses municípios.;

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