Politica

Ministério Público vai investigar chefe de gabinete do presidente Lula

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postado em 02/12/2008 08:42
O Ministério Público em Brasília abriu inquérito civil para investigar a conduta de Gilberto Carvalho, chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por ter supostamente repassado ao ex-deputado petista Luiz Eduardo Greenhalgh (SP) informações sigilosas que ajudaram Humberto Braz, braço direito do banqueiro Daniel Dantas. A investigação foi aberta pela procuradora da República Ana Carolina Roman, na terça-feira da semana passada, a partir de representação do deputado federal Carlos Sampaio (PSDB-SP). No pedido, o parlamentar cobrou do Ministério Público Federal, com base na Lei de Improbidade Administrativa, que afastasse liminarmente Carvalho do cargo por ter conversado sobre dados da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Segundo o tucano, a legislação penaliza quem repassa quaisquer informações sobre o órgão. A procuradora ainda não decidiu sobre o pedido de liminar. Se condenado, Carvalho pode perder a função pública, ter os direitos políticos suspensos por até 10 anos e pagar multa. Ontem, ele disse desconhecer o inquérito, mas declarou que, ao tomar pé do documento, voltará a esclarecer o que for necessário e desejado pela procuradora. Carvalho também lembrou ter sido inocentado por unanimidade, em 3 de novembro, pela Comissão de Ética Pública, órgão vinculado à Presidência da República. Em 28 de maio, Greenhalgh, advogado contratado pelo grupo Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas, que teve seus telefonemas grampeados na Operação Satiagraha sob suspeita de ter feito tráfico de influência, conversou ao telefone com Carvalho. Greenhalgh queria saber se havia alguma investigação da Abin a respeito de um cliente dele, sem lhe dizer que se tratava de Humberto Braz. No diálogo, Carvalho lhe respondeu que não havia ;nenhuma pessoa designada na Presidência; e ;na Abin; atrás de Braz. Disse ainda a Greenhalgh que não falara com o diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa, sobre o assunto ; comprometendo-se a lhe dar uma resposta mais adiante. Um dia antes desse telefonema, um araponga da Abin, de codinome tenente Marcos, seguiu o carro de Braz pelas ruas da capital fluminense. Desconfiado da perseguição, o motorista dele acionou a divisão anti-seqüestro fluminense, que, ao abordar o agente, descobriu que ele trabalhava na Abin. Flagrante Em nota divulgada em julho, Carvalho admitiu ter informado a Greenhalgh que não havia investigação da Abin feita pelo agente, mas alegou não saber que o cliente do petista era ligado a Dantas. Além disso, garantiu não ter dado mais uma informação sequer ao ex-deputado. Dantas, Braz e um terceiro acusado, Hugo Chicaroni, são réus em um dos processos resultantes da Satiagraha, cujo julgamento está previsto para esta semana. Braz e Chicaroni foram flagrados tentando subornar, com US$ 1 milhão, um delegado da PF para abortar as investigações contra Dantas. Os três negam participação no episódio. Desde julho, a procuradora pediu ao juiz paulista Fausto De Sanctis, responsável por julgar caso, acesso aos áudios com esses diálogos. O arquivo, entretanto, ainda não foi remetido. A abertura do inquérito se deu automaticamente, com base em uma resolução do MPF. A procuradora não deu detalhes da investigação. O deputado deve ir hoje ao MPF e à PF, órgão em que ele também apresentou representação, para saber o andamento dos dois pedidos. Procurada ontem, a PF não informou que destino deu ao pedido de Sampaio ; à época havia sido despachado para a Corregedoria da instituição. Em fins de setembro, a Comissão de Ética Pública, órgão da Presidência da República responsável por avaliar a conduta dos servidores, arquivou um processo contra Carvalho sobre os mesmos fatos. Ela entendeu que o assessor presidencial não cometeu ;desvios éticos; no episódio. PERSONAGEM DA NOTÍCIA De crise em crise Ex-seminarista ligado à esquerda católica, o chefe de gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho, é um conhecido bombeiro das crises enfrentadas pelo PT nos últimos anos. Antes da ascensão de Lula à Presidência da República, em 2002, Carvalho foi acusado por João Francisco Daniel, irmão do prefeito assassinado de Santo André (SP), Celso Daniel, de entregar dinheiro proveniente de corrupção do município paulista para o ex-presidente petista José Dirceu. Ex-secretário de Comunicação de Celso Daniel, Carvalho negou as acusações. Anos depois, durante a reeleição de Lula em 2006, o chefe de gabinete envolveu-se no caso do falso dossiê contra os tucanos. Ele conversou duas vezes ao telefone com Jorge Lorenzetti, integrante do núcleo de inteligência da campanha de Lula e envolvido na operação fracassada do dossiê, para saber detalhes dos dois petistas ;aloprados; presos na operação descoberta pela PF. Quase deixou o cargo. Nas eleições municipais deste ano, tirou um recesso da Presidência para tentar ajudar a correligionária Marta Suplicy em sua campanha ao governo paulistano. Não obteve sucesso, ainda mais depois da insinuação de Marta sobre a sexualidade do prefeito reeleito Gilberto Kassab (DEM). O episódio no qual ele repassou informações da Operação Satiagraha ao colega petista e advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, agora transformado em uma investigação formal, é mais um dos rumorosos casos em que se meteu. Ele disse que fez tudo dentro da normalidade. Colaborou Daniel Pereira

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