Politica

Movimentos de caciques definirão presidência do Senado

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postado em 06/12/2008 12:20
Em 2 de fevereiro, 81 senadores vão escolher, pelo voto secreto, quem presidirá a Casa. Mas é bem possível que a decisão aconteça antes, pela ação de um punhado de qualificados eleitores. E parte deles nem sequer tem assento no plenário do Senado. A disputa pela cadeira que hoje é ocupada por Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN) mobiliza atores como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governador de São Paulo, José Serra (PSDB). Todos negam, mas as digitais aparecem no processo. Lula jura não ter nenhum envolvimento na disputa pelo Senado. É o que repetem ministros e assessores. Mas não o que indicam os movimentos do governo no processo. Os políticos mais ligados ao Palácio do Planalto têm trabalhado para eleger o petista Tião Viana (AC). O exemplo mais recente foi a adesão da bancada do PR. Os quatro senadores do partido se comprometeram a votar em Tião. Resultado de um imenso lobby do ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento. Senador eleito pelo Amazonas, Nascimento nem chegou a assumir o mandato. Foi levado por Lula para o ministério, num acordo que incluiu a colocação de um petista, João Pedro, como suplente em sua chapa. Nascimento usou toda a força do ministério para convencer alguns recalcitrantes parlamentares do PR a aderir à candidatura de Tião Viana. No Senado, o movimento foi visto como um claro sinal de envolvimento do governo. Outra evidência viera na semana anterior, quando o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), passou a articular o apoio do partido a Tião Viana. Se funcionasse, seria o movimento decisivo, porque transformaria o petista em candidato único. Mas o movimento esbarrou na bancada do PMDB, que decidiu ter candidato próprio. A decisão do PMDB foi definida por dois dos grandes atores da sucessão no Senado: José Sarney (PMDB-AP) e Renan Calheiros (PMDB-AL). Sarney é o grande mistério da eleição. Há meses repete que não será candidato e não pretende presidir o Congresso. Já repetiu isso em três conversas com o presidente Lula. Mas a maioria dos parlamentares ainda espera que ele mude de posição. Nos bastidores, ele mantém a possibilidade em aberto. Sarney tem muita força porque seu prestígio vai bem além da bancada do PMDB. Teria o apoio do DEM e de parlamentares em legendas da base do governo. Além disso, é muito próximo a Lula. Se entrasse na disputa, constrangeria a ação do Planalto. Mas Sarney, historicamente, não entra em disputas. Só será presidente do Senado se o governo provocar a retirada do nome de Tião. E Lula não fará nenhum movimento sem que o ex-presidente torne explícita sua vontade. Enquanto Sarney se move em silêncio, Renan é bem menos discreto. Ele aposta no prestígio do veterano aliado para voltar a representar um papel chave no Congresso. Tem articulado o nome de Sarney há meses, às vezes perdendo a paciência com a falta de apetite de seu candidato. Mesmo abatido pela crise do ano passado, que o obrigou a renunciar à presidência e quase lhe custou o mandato, Renan ainda é uma voz influente no processo. Tem fortes ligações com pelo menos nove dos 20 senadores do PMDB. Somado ao grupo de Sarney, tem a maioria da bancada. Além disso, reabriu canais de negociação com a oposição, fechados desde o escândalo no qual foi acusado de ligação com um lobista. Tem conversado com os líderes do DEM, José Agripino (RN), e do PSDB, Arthur Virgílio (AM). Ameaça aproximar seu grupo da oposição, o que dificultaria em muito a já complicada vida do governo no Senado. Graus de adesão Os esforços de Renan para ganhar o PSDB têm esbarrado na ação de outro poderoso eleitor, este sem gabinete em Brasília. O governador José Serra trabalha para levar os 13 votos do PSDB para Tião Viana. Prefere apostar no petista, de olho no equilíbrio interno do PMDB. Embora oficialmente toda a legenda apoie o governo Lula, há diferentes graus de adesão. O grupo de Renan e Sarney é mais fechado com o Planalto, enquanto a bancada da Câmara, capitaneada pelo presidente nacional da legenda, Michel Temer (SP), tem mais diálogo com os tucanos. Serra aposta na eleição de Temer para a Presidência da Câmara. Combinada com uma possível derrota do PMDB no Senado, isso faria a balança do poder na legenda pender para o grupo mais próximo do PSDB.

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