Politica

Câmara vai gastar R$ 44 mi em reforma em apartamentos de deputados

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postado em 17/12/2008 08:36
Em época de crise econômica e de corte de despesas públicas, a Câmara dos Deputados prepara-se para executar a segunda etapa da reforma dos apartamentos funcionais. A recuperação de 120 unidades em cinco blocos foi estimada pela Casa em R$ 53,8 milhões em edital. Seria um custo médio de R$ 449 mil por apartamento. Mas a menor proposta global da concorrência ficou em R$ 44 milhões. Média de R$ 366 mil por unidade. Cerca de 20% a mais do que o valor investido na reforma de cada um dos 96 apartamentos na primeira etapa: R$ 307 mil. Só a compra de 120 banheiras de hidromassagem, com aquecedor, vai gerar despesa de aproximadamente R$ 300 mil nesta segunda etapa. A Câmara afirma que a elevação no valor da obra nesta segunda etapa foi conseqüência de alterações do projeto, como na parte dos elevadores, reajustes e atualização monetária. O fornecimento de 20 elevadores, ao custo unitário de R$ 125 mil, foi estimado em R$ 2,5 milhões no edital. O requinte dos imóveis pode ser medido pelo valor estimado para peças como chuveiros (R$ 1,26 mil), triturador de resíduos (R$ 1,36 mil), cuba de aço inox (R$ 1 mil) e assento removível para banho, linha conforto (R$ 2 mil). O Correio percorreu o comércio de Brasília para comparar a planilha de estimativa de custos da Câmara com os preços do mercado. Quando encontrados os itens previstos no edital, os preços de mercado geralmente estão abaixo dos preços da planilha. Uma bacia sanitária, referência P-9, da linha Deca, estimada em R$ 169,71, pode ser encontrada por R$ 94,45. Um sobrepreço de 79,6% no edital. Questionado sobre o triturador de resíduos com capacidade para 1.400 ml, o vendedor respondeu: ;Não temos. Isso é equipamento para restaurante;. A reportagem procurou informações sobre os preços oferecidos pelas empresas que participaram da licitação. O Departamento Técnico da Câmara afirmou que poderia prestar informações detalhadas somente hoje. A direção da Casa informou que o processo não foi concluído porque uma das concorrentes apresentou recurso. Ocupação A primeira etapa da reforma será concluída em maio do próximo ano. Com a segunda etapa, a Câmara terá recuperado 216 apartamentos. No início da reforma, estava previsto um investimento de R$ 110 milhões para recuperar 360 apartamentos em 15 blocos. Com os novos orçamentos estimados para a segunda etapa, o custo total da obra ficaria em R$ 126 milhões. Mas a direção da Câmara afirma agora que vai avaliar a demanda dos deputados para decidir quando inicia a terceira e última etapa. Muitos deputados preferem morar em hotéis. O índice de ocupação dos imóveis funcionais da Câmara está abaixo de 50% há dois anos. O pico aconteceu em 2006, com 225 das 432 unidades desabitadas. Nos últimos 13 anos, 146 apartamentos em média estiveram desocupados. Segundo pesquisa feita pelo Correio, a baixa taxa de ocupação gerou um desperdício de R$ 109 milhões no período. Isso ocorreu porque a Câmara teve que pagar um auxílio-moradia de R$ 3 mil para cada deputado que não contava com imóvel funcional. A direção da Câmara afirma que está havendo uma reversão no quadro de ocupação. Já haveria até lista de espera por apartamento. Em 12 blocos em condições de uso, o índice de ocupação já atinge 75%. Memória Proposta de venda A primeira etapa da reforma dos apartamentos funcionais da Câmara na SQN 302, iniciada em março deste ano, vai custar R$ 29,5 milhões aos cofres públicos. Cada um dos 96 apartamentos, avaliados em R$ 700 mil, vai consumir cerca de R$ 300 mil em obras. Assim como vai ocorrer na segunda etapa, foram refeitos os pisos, esquadrias, encanamentos, fiação elétrica, elevadores, telhados, e todo o acabamento, como louças, luminárias, armários. Os canos de ferro estavam entupidos com ferrugem. Os primeiros blocos de apartamentos destinados a deputados, na SQS 111, foram construídos em 1969. Os blocos da SQN 302, hoje em reforma, foram concluídos em 1975. A deterioração dos imóveis acentuou-se nos últimos 10 anos. As despesas com manutenção, embora elevadas (R$ 37 milhões nos últimos quatro anos), não têm sido direcionadas para obras e reformas. A maior parte (R$ 15,9 milhões) foi investida em locação de mão-de-obra, como porteiros, e vigilantes.

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