Politica

Campanha eleitoral deste ano contou com mais fontes

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postado em 23/12/2008 08:58
A análise dos maiores doadores nas eleições deste ano mostra um quadro diferente de 2006 quanto aos números e ao perfil das empresas. A primeira diferença está na concentração dos recursos. Nas eleições gerais de 2006, as 200 maiores contribuições somaram R$ 500 milhões, cerca de um terço do total das doações. Neste ano, o mesmo número de empresas colocou R$ 225 milhões nas campanhas de candidatos a prefeitos e vereadores. Menos de 10% do total arrecadado: R$ 2,8 bilhões. A segunda mudança está no perfil dos doadores. Enquanto houve maior equilíbrio entre os diversos setores da atividade econômica em 2006, neste ano ocorreu um predomínio absoluto das empreiteiras. Essas diferenças se explicam por dois fatores. Primeiro, o interesse dos grandes grupos econômicos (bancos, construtoras, siderúrgicas) está mais voltado para as decisões do presidente da República e do Congresso Nacional. Empreiteiras também dependem de grandes obras tocadas por governos estaduais, mesmo que financiadas por verbas federais. Nas eleições municipais, esses grupos demonstram interesse apenas pelas capitais e cidades polos. O segundo fator é a capilaridade das eleições municipais. O poder está dividido entre 5,6 mil prefeituras. Fornecedores e prestadores de serviços de pequenos municípios fazem doações exclusivamente para a sua prefeitura. Nas eleições para presidente da República, governadores, congressistas e deputados estaduais, em 2006, houve uma distribuição mais equilibrada por setores da economia. Naquele ano, a maior doadora foi a mineradora Caemi, com R$ 22,5 milhões. As 20 maiores contribuições já somavam cerca de R$ 200 milhões, com equilíbrio entre empreiteiras (R$ 40 milhões) e bancos (R$ 41 milhões). O Congresso decide questões como a regulamentação do sistema financeiro, além de apresentar emendas ao Orçamento da União, elaborado pelo governo federal. Nas eleições municipais deste ano, as empreiteiras reinaram absolutas no grupo de 200 maiores doadores, com 30% do total, ou R$ 68,9 milhões. Entre os 20 maiores, estão 11 empreiteiras, duas incorporadoras imobiliárias e a Associação Imobiliária Brasileira (AIB), representante do setor da construção civil. A Construtora OAS aparece em primeiro lugar no ranking, com contribuições no valor de R$ 11,5 milhões. As empreiteiras estão atentas às obras tocadas pelas prefeituras de capitais e cidades polos. Divisão Os grandes doadores não arriscam num único candidato. Em São Paulo, por exemplo, a OAS doou R$ 700 mil diretamente à candidata do PT, Marta Suplicy, e R$ 800 mil a Gilberto Kassab, do DEM. O Itaú deu R$ 550 mil a cada um deles. A maior parte dos R$ 34,6 milhões doados a Kassab, porém, é formada por contribuições camufladas, ou ocultas. Ele recebeu esse dinheiro por intermédio do seu comitê financeiro único. O maior doador do comitê foi o Diretório Nacional do DEM, com R$ 18,5 milhões. O tesoureiro nacional do DEM, Saulo Queiroz, explica porque ocorrem as doações camufladas: ;O cara não quer aparecer como doador. Ele doa R$ 2 milhões e o candidato perde. Depois, o cara procura o governo e o prefeito diz: ;Vai lá pedir obra para quem você fez doação;;. Mas ele acha que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) vai proibir essa prática na próxima eleição. ;Nesta eleição todo mundo usou isso.; Situação semelhante aconteceu realmente com Marta. Dos R$ 21 milhões do seu caixa de campanha, R$ 12 milhões vieram do seu comitê municipal. As maiores doações para o comitê saíram dos cofres dos diretórios nacional e estadual do PT: R$ 8,3 milhões. Somente em maio do próximo ano o Democratas, o PT e os demais partidos terão que prestar contas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), informando de quem receberam recursos. As doações camufladas não são novidade. Também foram fartamente utilizadas nas eleições de 2006. Com esse sistema é impossível identificar exatamente a quem os bancos ou empreiteiras, por exemplo, fizeram doações. O cruzamento de dados das eleições municipais foi feito pelo Correio a partir da base de dados fornecida TSE. O tribunal levantou os 200 maiores doadores individuais, a partir do Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) das empresas. Não foram somadas contribuições feitas por empresas de um mesmo grupo, mas que tenham CNPJ diferentes. Pessoa física Outra característica própria desta eleição é o montante de contribuições feitas por pessoas físicas. Elas somaram R$ 56 milhões, o que representa um quarto do total das 200 maiores doações. As maiores contribuições foram feitas pelo prefeito eleito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho (PT). Ele repassou para 242 candidatos a vereador R$ 5,2 milhões dos R$ 11,2 milhões arrecadados de empresas. Na lista dos maiores doadores, 56 são pessoas físicas. Na maioria dos casos, porém, esses candidatos apenas repassam para aliados recursos que receberam de empresas como candidatos majoritários. Neste ano, os bancos ficaram apenas na 4ª colocação entre os principais setores da atividade econômica, com um total de R$ 10,5 milhões. Têm pouco significado para elas as decisões de prefeitos e vereadores. Em 2006, apenas o maior doador entre os bancos, o Itaú, colocou R$ 15,9 milhões nas contas dos candidatos a presidente, governador, senador, deputado. A chamada indústria pesada (siderurgia, metalurgia, petroquímica e mineração) ficou com a segunda posição, com doações de R$ 19,4 milhões. Menos do que foi doado só pela empresa de mineração Caemi, controladora da Companhia Vale do Rio Doce, em 2006. A Companhia Siderúrgica Nacioal (CSN), que fez contribuições de R$ 12 milhões naquele ano, agora sumiu da lista do TSE. Entre os demais setores que lideram as contribuições neste ano estão os de agronegócio, alimentos, papel e celulose, segurança, usinas de açúcar e álcool, saúde, serviços gerais, comunidação, prestadoras de serviço, saneamento, transportes e supermercados, além do comércio e da indústria em geral.

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