Politica

Investigação da PF sob suspeita de irregularidade

Polícia Federal apura a denúncia de que um operador de uma rede de televisão tenha participado das gravações sobre suborno a delegado

postado em 31/12/2008 09:16
A Polícia Federal investiga a possibilidade de um operador de câmera da emissora TV Globo ter feito as imagens da suposta tentativa de suborno contra um delegado federal em junho. A cena gravada foi uma das principais provas por meio das quais o juiz paulista Fausto De Sanctis condenou o sócio-fundador do grupo Opportunity, Daniel Dantas. Se confirmada a suspeita, a apelação contra a sentença sai fortalecida. A defesa de Dantas deve apresentar em janeiro suas primeiras alegações ao Tribunal Regional Federal da 3ª Região. A informação de que uma emissora televisiva participou da ação controlada ; autorizada pelo juiz ; foi divulgada ontem pelo colunista Jânio de Freitas, da Folha de S. Paulo. Em 18 de junho passado, o delegado da PF Victor Hugo Ferreira reuniu-se com o professor universitário Hugo Chicaroni e o ex-diretor da Brasil Telecom Humberto Braz no restaurante El Tranvia, na capital paulista. Victor Hugo agia sob as ordens do delegado Protógenes Queiroz, responsável pela Operação Satiagraha. A conversa, captada por imagens, girou em torno de uma suposta tentativa de pagamento de suborno ao delegado para tentar brecar a investigação da PF contra Daniel Dantas. Segundo a reportagem, um câmera foi identificado como o autor da gravação. Antes da tentativa de armar um flagrante, o operador testou o equipamento no banheiro do restaurante. Ele teria sido "até agora identificado como da equipe da TV Globo ou prestador de serviço à TV". Prisão A descoberta surgiu no bojo do inquérito da PF em São Paulo que apura o vazamento de informações da Satiagraha à emissora de televisão. Quando a operação foi deflagrada, em 8 de julho. A TV Globo acompanhou a prisão do ex-prefeito paulista Celso Pitta, que estava com roupas de dormir. Em operações anteriores comandadas por Protógenes, a emissora teve acesso privilegiado às investigações. O ministro da Justiça, Tarso Genro, criticou duramente esse vazamento, que chamou de espetaculização. Alguns investigadores, porém, consideram remota o uso da imagem da emissora. Segundo eles, a ação controlada se valeu de uma imagem de um aparelho de celular de um dos cinco agentes da equipe de Protógenes em São Paulo ; na ocasião, o delegado perdeu o suporte de outros 20 agentes, devolvidos para Brasília. Um outro motivo, dizem, é a baixa qualidade das imagens ; longe do ;padrão Globo;. Ao Correio, Fausto De Sanctis negou a informação veiculada pela Folha. O juiz declarou, por meio de sua assessoria de imprensa, que a PF dispõe dos recursos e dos instrumentos para fazer esse tipo de operação. Nos autos consta, de acordo com De Sanctis, que a filmagem foi produzida por agentes da PF que participaram da investigação. O juiz sustentou ainda que são legais as provas da tentativa de suborno feito em nome de Dantas. Oficialmente, a PF não comentou ontem o assunto. Por causa do recesso de fim de ano, a assessoria de imprensa da Globo disse que também não falaria sobre o caso esta semana. Procurado em casa e por meio do seu celular, Protógenes não retornou às ligações. ENTENDA O CASO O começo O banqueiro Daniel Dantas foi investigado pela PF, pelo Ministério Público Federal e pela CPI dos Correios por suposto envolvimento no esquema do mensalão. Com base nas informações e em documentos colhidos em outras investigações, os policiais apuraram a existência de uma suposta organização criminosa envolvida com a prática de diversos crimes. Nahas e Pitta O grupo de Dantas atuaria, segundo a PF, com outro braço do esquema, que seria chefiado pelo investidor Naji Nahas e formado por empresários e doleiros que supostamente atuavam no mercado financeiro para realizar lavagens de dinheiro. De acordo com a PF, o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta utilizaria o esquema. Suborno A PF relata que, durante as investigações, supostos emissários de Daniel Dantas teriam tentado subornar um delegado federal para evitar a apuração que levou à sua prisão. Os emissários, Humberto Braz e Hugo Chicaroni teriam oferecido a um delegado R$ 1 milhão. Prisão e liberdade Em julho, os empresários e o ex-prefeito Celso Pitta foram presos pelos agentes da PF, comandados pelo delegado Protógenes Queiroz, por decisão do juiz Fausto Martin De Sanctis, da 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo. Dantas foi libertado depois de 48 horas por decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, que acatou um habeas corpus impetrado por advogados. Cerca de 10 horas depois que Dantas deixou a carceragem da Superintendência da PF em São Paulo, o mesmo juiz federal decretou novamente a prisão do banqueiro por tentativa de suborno. A defesa recorreu ao STF e Gilmar Mendes novamente concedeu habeas corpus ao banqueiro. Espetaculização Por determinação da cúpula da Polícia Federal, foi aberto um inquérito na Corregedoria da PF em São Paulo para apurar o vazamento de informações da Operação Satiagraha. Uma equipe de TV acompanhou agentes que prenderam os suspeitos. Foi designado o delegado Amaro Vieira Ferreira para conduzir o inquérito. Protógenes Em meio às denúncias, o delegado que conduzia o caso, Protógenes Queiroz, deixou a investigação. O governo se apressou a dizer que ele pediu afastamento por decisão própria para participar de um curso interno da PF. O delegado apresentou outra versão, segundo a qual ele teria sido pressionado a deixar o caso. Abin Reportagem de uma revista acusou a participação de agentes da Abin na investigação conduzida por Protógenes Queiroz. O diretor da agência, Paulo Lacerda, confirmou, na CPI dos Grampos, que ;alguns; agentes foram cedidos para a PF a fim de colaborar com atividades menos importantes. Mais tarde, porém, descobriu-se que a Abin chegou a ceder pelo menos 78 agentes, segundo investigação da corregedoria da PF. Grampo A mesma reportagem divulgou, em seguida, informação de que o presidente do STF, Gilmar Mendes, e o senador Demostenes Torres (DEM-GO) tiveram uma conversa grampeada. A suspeita é de a gravação tenha sido feita durante a investigação da Satiagraha. Equipamentos da PF e da Abin foram recolhidos por ordem judicial para esclarecer a acusação, que ainda não tem um desfecho. Vazamento A pedido do delegado Amaro Ferreira, a Justiça determinou a realização de busca e apreensão em três endereços do delegado Protógenes Queiroz, indicando que ele passou a ser alvo da própria corporação à qual pertence. Paulo Lacerda ficou afastado do comando da Abin por 120 dias e ontem o Diário Oficial da União publicou sua exoneração e indicação para ser adido policial na Embaixada do Brasil em Portugal.

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