postado em 05/01/2009 08:53
As peças do tabuleiro de xadrez foram mexidas na última semana pelo governo, que tenta por fim a uma crise entre a Polícia Federal (PF) e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), exposta desde setembro, quando foi deflagrada a Operação Satiagraha. A nomeação do delegado federal Paulo Lacerda para exercer o cargo de adido policial na Embaixada do Brasil em Portugal, no entanto, deixou o jogo ainda mais nebuloso. Lacerda, ex-diretor da PF, foi exonerado do cargo de diretor da Abin, após suspeita de grampos ilegais no gabinete do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes. E, em Portugal, ele fica subordinado tecnicamente ao atual diretor da PF, Luiz Fernando Correia, que ao assumir tentou apagar qualquer vestígio do antecessor e rechaçou de postos-chaves policiais aposentados.
Paulo Lacerda já se aposentou e, agora, sem uma consulta prévia a Correia, foi nomeado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para atuar na Embaixada de Portugal, considerada de grande importância para o desenvolvimento de várias ações de repressão a crimes que preocupam os dois países ; como o tráfico de drogas, a imigração clandestina e o programa de apoio aos países africanos de língua portuguesa. No entanto, para atuar, o delegado federal terá que se reportar ao chefe de gabinete de Correia ou ao assistente de Relações Internacionais (Arin).
De acordo com instrução normativa da Polícia Federal, a nomeação de uma adido policial é precedida de uma seleção interna. A partir da análise dos dados funcionais é elaborada uma lista tríplice pelo diretor-geral da PF que a encaminha ao Ministério da Justiça para ser feita a escolha e, então, a nomeação. Com Lacerda foi diferente: foram queimadas todas as etapas, mesmo sendo indiscutível sua capacidade técnica.
Analistas da própria PF garantem que a nomeação é legal. Mas, politicamente, com a solução encontrada pelo governo, os dois lados perdem. Lacerda gostaria de voltar à Abin, inocentado da acusação da escuta clandestina, mas foi designado para outra função, como um atestado de inocência. Já Correia, sai desprestigiado por não ter sido ouvido e com a permanência à frente da PF ameaçada. De acordo com uma fonte na Casa Civil, além da saída de Lacerda da Abin, a crise entre as duas instituições seria finalizada com a exoneração também do atual diretor da PF, evitando assim interpretações de que o governo estaria privilegiando um dos lados da guerra.