Politica

Temer quer licença da presidência do partido

Comandante atual planeja passar o cargo à deputada Iris de Araújo temporariamente, somente até que possa transferi-lo a um aliado. Há articulações para que a legenda realize convenção este ano

postado em 06/02/2009 09:02
O deputado Michel Temer (SP) quer controlar o processo de sua sucessão na presidência nacional do PMDB. Para isso, usará um poder que o estatuto do partido lhe assegura. Mesmo tendo sido eleito presidente da Câmara dos Deputados, ele não precisa se afastar do comando do partido. O plano de Temer é licenciar-se temporariamente e reassumir sempre que for necessário, até a hora em que for seguro transferir o cargo a um aliado. Mas o projeto esbarra em ambições, tanto do grupo do PMDB no Senado quanto na ala da Câmara, que ele lidera. Temer teve o mandato prorrogado até abril de 2010, mas as articulações são para que o partido realize uma convenção ainda este ano. A primeira vice-presidente, que assumirá em caso de licença de Temer, é a deputada Iris de Araújo (GO). Na legenda, ela é vista como uma solução temporária. De um lado, porque não tem a projeção nacional exigida pelo cargo. De outro, porque sofre resistências da bancada do partido no Centro-Oeste. Temer deve anunciar a licença na próxima semana, sem discutir a possibilidade de renúncia. Ele tem dois motivos. O primeiro é evitar um novo confronto aberto entre deputados e senadores. As duas correntes trocaram caneladas durante todo o processo eleitoral da Câmara e do Senado, mas agora ensaiam uma trégua. Não houve uma conversa formal, mas, depois de assumir a Presidência do Senado, José Sarney (AP) emitiu sinais de paz. Na primeira sessão conjunta do Senado, fez rasgados elogios a Temer. Depois, foi visitá-lo em seu gabinete. Temer percebeu os sinais, e gostou. Os dois lados imaginam que uma trégua pode fortalecer o partido nas negociações de alianças para 2010. O segundo motivo é pessoal. Como presidente da Câmara e do PMDB, Temer é um interlocutor de especial relevância para o Palácio do Planalto. Seu nome vem sendo cotado como candidato a vice da ministra Dilma Rousseff, em 2010. Se outro peemedebista assumir o comando do partido, dividirá esse papel. Para Temer, quanto mais tarde isso ocorrer, melhor. Candidatos O problema será conter os candidatos. ;Quero muito a presidência;, deixou escapar há poucos dias o senador Romero Jucá (RR), líder do governo no Senado. Não será nada fácil. ;Oferecemos o cargo aos senadores, com a condição de que eles não lançassem a candidatura de Sarney à Presidência do Senado;, diz um deputado da cúpula partidária. ;Não devemos nada a eles.; Há alguns anos os deputados vêm saindo vitoriosos nas disputas internas. Eles exercem o controle sobre os diretórios estaduais e os convencionais. ;Sou candidato, só falta saber quando;, diz o deputado Eunício Oliveira (CE). Aliado de Temer e um dos líderes da bancada, ele está em campanha aberta. Pressiona o presidente a chamar uma convenção do partido nos próximos três meses. Por suas contas, o grupo da Câmara teria mais de dois terços dos votos do partido, para eleger o sucessor de Temer. análise da notícia Interlocutor fundamental O cargo de presidente nacional do PMDB valorizou-se muito nos últimos tempos. O comando das duas Casas do Congresso turbinou a legenda, que passou a ser assediada pelo governo Lula e pela oposição, em busca de alianças para 2010. O presidente é figura fundamental nessas conversas. Será o primeiro a ouvir as propostas e um interlocutor indispensável. O PMDB tem um regimento presidencialista. O ex-deputado Paes de Andrade comandou a legenda por anos sem ter a maioria. Vencia com o livro de regras embaixo do braço, marcando e desmarcando reuniões e convenções de acordo com sua estratégia política. Hoje, o quadro é mais radical. Os senadores não participaram da última convenção, que elegeu Temer. Isso deu aos deputados o comando completo da Executiva Nacional. Algo que o grupo não tem a menor intenção de mudar. O jogo envolve muitos interesses. Há o dos senadores, que querem reassumir um papel na direção partidária. O dos deputados, que não pretendem abrir esse espaço. O de Temer, que deseja concentrar o poder pelo maior tempo possível. E o dos vários candidatos à sua sucessão. Por enquanto, é o atual presidente quem controla o processo.

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