postado em 16/02/2009 10:54
Se quiser proteção, o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, acusado de ser o operador do mensalão, e ameaçado de morte por integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC), terá de fazer um pedido formal às autoridades. O Ministério Público de São Paulo pode entrar na apuração das ameaças feitas pela facção criminosa ao empresário e sua família. Promotores que trabalham em investigações contra o PCC esperam apenas uma manifestação do próprio Valério para abrir processos em São Paulo, onde o grupo está enraizado em vários presídios, ou em Minas Gerais, onde ele mora. Já a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) de Minas Gerais informou que não iria se posicionar sobre o caso de ;um ex-detento de outro estado;.
Valério, uma das figuras centrais do mensalão, apresenta várias marcas pelo corpo, causadas por agressões no período em que esteve detido no Presídio de Tremembé, no interior paulista, e é extorquido constantemente por meio de telefonemas de integrantes do PCC, como revelaram o Correio e o Estado de Minas nas edições de ontem.
A organização é investigada em São Paulo pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), que tem à frente vários promotores de Justiça. ;Se formos procurados pela vítima podemos entrar com uma investigação;, afirma o secretário-executivo do Gaeco, José Reinaldo Guimarães Carneiro, ressaltando que o trabalho também poderá ser feito pelo Ministério Público ou a Polícia Civil, em Belo Horizonte. O grupo tem representações em vários estados e é conhecido por agir fora dos gabinetes e em apurações externas. O Gaeco hoje é responsável por quase todos os processos contra o PCC, inclusive relacionados à movimentação financeira da facção.
;Precisamos verificar todas as informações, mas qualquer autoridade pode fazer a apuração;, acrescenta José Reinaldo. O Ministério da Justiça informou que a segurança e a investigação das ameaças sofridas por Marcos Valério é de alçada estadual, não cabendo à Polícia Federal entrar no caso. Fontes do governo observaram que as prisões do empresário e seu sócio Rogério Tolentino duraram mais tempo do que o necessário, o que o expôs muito na penitenciária. Na própria PF, que pediu as prisões preventivas dele, o assunto é tratado com cautela, mas a avaliação é a mesma.
A reportagem procurou ontem, por telefone, o secretário de Defesa Social de Minas, Maurício Campos Jr., que não pôde atender a ligação. Mas, segundo a assessoria de imprensa da secretaria, caso Marcos Valério esteja se sentindo ameaçado deve procurar os órgãos competentes, como as polícias Civil e a Federal. A secretaria, segundo a assessoria, não pode agir baseada em ;notícias veiculadas na imprensa; e sem a oficialização de uma denúncia.
Denunciados
Considerado um dos principais envolvidos no mensalão, Marcos Valério é hoje um dos arquivos do esquema político montado para pagar deputados. O empresário e outras 40 pessoas foram denunciados pelo Ministério Público Federal e hoje ele é réu no processo em que estão parlamentares e ex-integrantes do governo. Na investigação do mensalão, Marcos Valério não chegou a ser preso, mas foi detido em outubro do ano passado acusado de integrar uma quadrilha que praticava fraudes fiscais e corrupção. Foi solto em 14 de janeiro, mas sua vida continuou um tormento.
Durante os três meses em que passou no Presídio de Tremembé, Valério sofreu agressões, hoje está 20 quilos mais magro e vive recluso, não conversando nem com amigos. Para sair das mãos do PCC em Tremembé, o empresário fez um acordo, cujo teor é desconhecido, mas a extorsão não parou depois de sua saída da penitenciária, já que a organização faz constantes ligações telefônicas para ele. ;O PCC comete grande quantidade de delitos e a extorsão é um deles;, observa o promotor do Gaeco José Reinaldo.