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Politica

Mensalão: réus não querem pagar a conta

Advogados de Roberto Jefferson e Emerson Palmieri recorrem ao STF. Defensores contestam a decisão de Joaquim Barbosa, pela qual os custos de depoimentos no exterior seriam pagos pelos interessados

Advogados de defesa de réus do mensalão recorreram da decisão do ministro Joaquim Barbosa, relator do processo no Supremo Tribunal Federal (STF), de repassar a fatura para se ouvirem as 13 testemunhas que vivem no exterior arroladas por 10 dos 39 acusados. Com base numa nova lei que alterou o processo penal, o ministro do STF determinou à defesa dos réus a ;imprescindibilidade; desses depoimentos, sob pena de rejeitá-los. O problema é que, para que testemunhas de defesa sejam ouvidas no exterior, são necessárias cartas rogatórias. A tradução dos documentos requer tradutores juramentados, conhecedores do direito brasileiro e também do direito do país estrangeiro em que vive a testemunha. Com tantas exigências, o trabalho é de alta remuneração. Além disso, a investigação sobre o mensalão trata-se de um processo muito volumoso. Levados em conta esses fatores, a tradução de apenas três cartas sairia por R$ 19 milhões. E a despesa deve ser paga antecipadamente. Os defensores do presidente do PTB, Roberto Jefferson, e do ex-tesoureiro do partido Emerson Palmieri sustentam, em recurso, que há isenção de custas em processos criminais de natureza pública ; como seria o inquérito do mensalão. ;Assim, data venia, a determinação de adiantar valores, sejam quais forem, contida na referida decisão, não pode ter lugar no caso;, afirmou o advogado Luiz Francisco Corrêa Barbosa, que defende o presidente do PTB. Jefferson, Palmieri, o ex-ministro José Dirceu e o chamado operador do mensalão, Marcos Valério, querem ouvir o presidente da Portugal Telecom, Miguel Horta. O presidente do PTB disse, durante a crise política de 2005, que José Dirceu lhe pediu para credenciar alguém do seu partido para ir a Portugal angariar recursos para abastecer o caixa das legendas. Ele disse que Palmieiri e Valério encontraram-se lá com Horta, mas voltaram de mãos vazias. Nos depoimentos que prestaram, Dirceu e Valério negaram que isso tenha ocorrido. O recurso é para que o ministro Joaquim Barbosa reconsidere essa decisão ou, se não quiser, submeta o pedido ao Plenário do Supremo. A decisão do relator do caso já surtiu efeito, pois ao menos dois réus desistiram de ouvir testemunhas no exterior: o publicitário Cristiano de Mello Paz e Zilmar Fernandes, sócia do publicitário Duda Mendonça. O relator ainda não decidiu os recursos. Prescrição O processo do mensalão entrou desde o início do mês numa nova fase. Após a abertura da ação penal em agosto de 2007, a Corte ouviu até agora apenas os 39 réus e as 37 testemunhas de acusação arroladas pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza. Agora devem ser ouvidas mais de 600 testemunhas de defesa. Numa inédita decisão, o ministro Joaquim Barbosa deu prazo de 272 dias para ouvir todos, estabelecendo um prazo máximo de 80 dias para que os juízes espalhados em 17 estados e no Distrito Federal realizem os depoimentos. O receio de Joaquim Barbosa é que a demora de levar o caso a julgamento acarrete a prescrição dos crimes ; quando o Estado perde o direito de condenar. Os acusados por formação de quadrilha, por exemplo, não poderão ser condenados por esse crime já a partir de setembro de 2011.
Memória Ação aberta em 2007 A ação penal que investiga o mensalão foi aberta em agosto de 2007. Na ocasião, o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) aceitou a denúncia do Ministério Público Federal (MPF) contra 40 acusados de envolvimento no esquema. O julgamento durou 5 dias e cerca de 30 horas. Com isso, os denunciados passaram a réus. Na lista estão os ex-ministros José Dirceu e Luiz Gushiken, o ex-presidente do PT José Genoíno o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares. O ex-secretário-geral do PT Sílvio Pereira cumpriu uma pena alternativa. Na acusação, o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, apontou a existência de uma ;sofisticada organização criminosa;. O mensalão foi denunciado pelo então deputado e presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ), que acusou deputados da base aliada de receberem dinheiro do PT em troca de apoio político no Congresso Nacional. Ele também responde a processo.