postado em 22/02/2009 09:04
Ensaiada nos gabinetes do Palácio do Planalto, a caravana presidencial da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, ganhou as ruas ontem, no primeiro dia de desfile do Galo da Madrugada no Recife. Determinada a se tornar mais conhecida da população, a ;mãe do PAC; deixou o figurino de ;gerentona; de lado e esbanjou simpatia ao prestigiar o maior bloco carnavalesco do mundo, segundo o Livro dos Recordes (Guinness Book). Acompanhada do governador Eduardo Campos (PSB), ela caminhou do Palácio do Campo das Princesas, a sede do Executivo estadual, até o camarote oficial do governo, na Avenida Guararapes, apoteose do desfile da tradicional agremiação do carnaval pernambucano.
Durante a caminhada, por volta das 11h30, Dilma usou um ;chapéu de Mateus; recebido de presente de um lojista na noite de sexta-feira. Com o adereço, símbolo de um personagem do folclore regional, apertou a mão dos foliões que corriam para cumprimentar Eduardo Campos. A ministra jamais admitiu em público ser candidata à Presidência. Ontem, rechaçou qualquer relação entre a participação nos festejos com a próxima sucessão presidencial. ;Este é um bom momento para aproveitar a festa. Estou adorando a cidade, pois os foliões brincam de maneira democrática, alegre;, disse a chefe da Casa Civil. Os ministros José Múcio Monteiro (Relações Institucionais), José Gomes Temporão (Saúde) e Luiz Barreto (Turismo) também prestigiaram o bloco.
Convocado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para coordenar a campanha de Dilma no Nordeste, o ex-prefeito do Recife João Paulo (PT) circulou ao lado da ministra. ;É importante a vinda dela aqui. É um reconhecimento ao prefeito (João da Costa) e ao nosso carnaval.; Sem capacidade de provocar alvoroço entre os foliões, Dilma não foi criticada por adversários. ;Não vejo problemas no fato de Dilma passar o carnaval no estado;, disse o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB), defensor da candidatura presidencial do governador de São Paulo, José Serra (PSDB). ;O problema é quando ela usa dinheiro público para fazer campanha;, acrescentou.
Largada antecipada
A disputa pela sucessão de Lula subverteu o clichê popular segundo o qual o ano no Brasil só começa depois do carnaval. Bem antes dos foliões, os principais partidos colocaram seus blocos na rua. E, para eles, já é 2010. O resultado das eleições municipais e a corrida pelo comando da Câmara e Senado deram o sinal de partida para as composições políticas. Enquanto o governo tenta consolidar o nome de Dilma, o PSDB discute a forma como será escolhido o seu candidato. Já um fortalecido PMDB aguarda para ver qual a melhor aposta.
Há um ano, Dilma era apenas um entre vários nomes dentre os quais Lula poderia pinçar o candidato oficial. Como outros ministros, patinava nas pesquisas, com índices abaixo de 3% dos votos. Hoje, chega perto de 15%. A transformação é resultado da ação de Lula. De um lado, enquadrou o PT e os outros ministros com pretensões presidenciais. De outro, garantiu à sua escolhida uma enorme exposição graças ao permanente roteiro de inauguração de obras e lançamento de programas. A ministra passou a receber a atenção dos encarregados da propaganda do governo e do PT. Numa primeira fase, o esforço foi para consolidar a imagem de executiva eficiente, a supergerente do governo.
Foi quando surgiu a imagem da ;mãe do PAC;, cunhada por Lula. Pesquisas de opinião mostraram reação negativa à severidade da ministra. Dilma se recolheu no fim do ano e voltou repaginada em 2009. Mudou o penteado, submeteu-se a uma leve intervenção plástica e trocou as atitudes. Se Dilma se tornou uma constante na equação de 2010, a variável está no PSDB. O partido tem dois candidatos. Um, o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, está em campanha e cobra a realização de primárias. O outro, José Serra, adota uma postura mais cautelosa e tenta evitar a antecipação do debate sucessório. Serra tem a seu favor os índices nas pesquisas, superiores aos de Aécio. Também conta com a simpatia de boa parte da alta direção do PSDB.
Já o governador mineiro conta com o trunfo de uma melhor relação com os partidos da base aliada do governo Lula, em especial o PMDB. Recentemente, Aécio exigiu as primárias e forçou Serra a se manifestar sobre o tema. O governador de São Paulo foi obrigado a negar qualquer objeção à consulta aos filiados. A direção do PSDB já anunciou tratativas para organizar as prévias. Pesou na decisão da cúpula tucana o medo da aproximação entre Aécio e o PMDB. O governador mineiro é cortejado pela legenda, interessada em tê-lo como candidato próprio em 2010. Ele conseguiu uma promessa de apoio do novo presidente do Senado, José Sarney (AP), além de manifestações favoráveis da outra ala peemedebista, a da Câmara. O PMDB é o aliado mais disputado para 2010, embora poucos acreditem na possibilidade de ver a legenda unida em torno de um candidato.
FESTA EM OLINDA
;O carnaval daqui é diferente.; Essa foi a primeira observação da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, ao acompanhar o carnaval de Olinda, cidade vizinha a Recife. A ministra chegou ao Palácio dos Governadores, onde funciona a Prefeitura de Olinda, caminhando. Foi reconhecida e saudada, principalmente por mulheres. Dilma estava acompanhada do prefeito Renildo Calheiros (PC do B) e do governador Eduardo Campos (PSB). Embaixo, uma mulher gritou: ;Minha presidente;. De Olinda, a ministra deve seguir para uma praia no litoral sul do estado, provavelmente Porto de Galinhas, onde deverá descansar por dois dias.