Politica

Entrevista - Henrique Eduardo Alves

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postado em 25/02/2009 09:12
O líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), é um dos artífices do apoio do PMDB ao governo Lula, mas defende uma candidatura própria da legenda a presidente da República. Esteio da eleição do novo presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP),conseguiu unificar a maior bancada de deputados da Casa e consolidar a parceria com o PT. Aliado do governador de Minas, o tucano Aécio Neves, de quem é amigo, Alves foi reconduzido ao cargo por unanimidade. O líder do PMDB critica o posicionamento do ex-governador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), um dos cardeais do partido no Senado, aliado do governador paulista José serra (PSDB) que fez duros ataques à cúpula partidária e defende uma aliança com o PMDB. Segundo ele, Jarbas está na contramão do partido e enfrenta dificuldades políticas e eleitorais em Pernambuco. Alves defende o fim das verbas indenizatórias e a equiparação do salário dos deputados aos dos ministros dos tribunais superiores do Poder Judiciário. Na busca de um candidato próprio Como senhor interpreta as críticas do senador Jarbas Vasconcelos (PE) ao PMDB quando o partido acaba de recuperar sua hegemonia no Congresso? Ele está falando sozinho, na contramão do próprio PMDB. Há menos de seis meses o povo brasileiro deu ao nosso partido o título de maior do Brasil, pois elegemos o maior número de vereadores, vice-prefeitos e prefeitos, que se somam aos nossos deputados estaduais, federais e governadores. A Câmara agrega ao PMDB o seu comando. O Senado, de homens tão experientes, entrega o seu comando ao PMDB. Fortalecido, unido, o partido recuperou o prestígio e a força. Portanto, as declarações do Jarbas ocorrem numa hora muito infeliz. Não sei quais são as suas condições emocionais, políticas e eleitorais. Apenas lamentamos o rompimento. Aliás, é bom lembrar que, por duas vezes, Jarbas saiu do PMDB: em 1985, se não me engano, se filiou ao PSB para ser prefeito de Recife e depois voltou ao PMDB; em 1994, saiu por quatro meses para apoiar Fernando Henrique Cardoso (PSDB) para presidente, não votou em Orestes Quércia (PMDB). Mas a sua história é muito bonita, de lutas e de resistência à ditadura. Portanto, apesar desse débito, tem o crédito de sua carreira política. Para nós foi um desabafo, num momento em que o partido em Pernambuco passa por dificuldades. No Congresso, há duas propostas consideradas prioritárias pelo governo: a reforma tributária e a reforma política. O senhor acha que há condições para aprovar as duas? Se não há, temos que criar. A reforma tributária é um desafio entre nós há muito tempo. Temos é que fazer um mea-culpa, porque não votamos a reforma tributária até agora. Essa é uma das bandeiras históricas do PMDB e uma cobrança de toda a sociedade, que deseja um novo pacto tributário e federativo. Há muitos anos se espera isso. A reforma nunca terá unanimidade porque implica concessões dos poderes federal, estaduais e municipais, um realinhamento, portanto. Mas vamos decidir pelo voto. A maioria aprova, a minoria luta, procura mudar, questionar. Mas temos que votar. Eu acho quer esse é um compromisso da classe política, do Poder Legislativo com o país. Quanto à reforma política, também é fundamental.Mas vamos votar fatiadamente aquilo que for possível fazer. Talvez não para as próximas eleições, mas para 2014. Isso fortalecerá os partido e a democracia. A reforma tributária terá impacto nos estados e municípios. É possível fazer simulações da arrecadação diante da crise. Não tão exatamente como gostaríamos. Mas acho que é possível fazer algumas simulações. Esse debate vai acontecer. Acho que a comissão especial votará o parecer do deputado Sandro Mabel (PR-GO). O fórum de detalhamento e aperfeiçoamento será o plenário. Vai chegar a hora de ser aprovada, mesmo com uma saraivada de emendas e de correções para dar mais garantias aos estados e municípios e transparência às perdas de cada um. Formas de compensação precisarão ficar mais claras. Ninguém quer enganar ninguém. E com relação à reforma política? Há também muita polêmica, os pequenos partidos estão reclamando. É muito difícil votar uma reforma política e questões partidárias às vésperas de uma eleição. Deveríamos ter votado há quatro anos. Mas se pode chegar um entendimento de que aquilo que não for consenso a gente vota para 2014. A gente passará a ter um horizonte de como devem se comportar os partidos. É possível se modernizar até a próxima eleição. Cláusula de barreira, por exemplo. Há uma proposta de reduzir a sua exigência para 1%, para evitar os partidos cartoriais. É um mínimo de exigência de apoio eleitoral. A questão da janela para que você possa trocar de partido, para que não seja compulsório o sujeito ficar a vida inteira no mesmo partido, quando há incompatibilidades regionais, pessoais ou, políticas graves. Então, a cada quatro anos, abrir-se-ia uma janela por um período certo. Portanto, o objeto só vai poder mudar de partido se tiver realmente alguma coisa muito grave para acontecer. Essas coisas podem ser decididas agora. As questões maiores da reforma, tenho a impressão, ficarão para 2014. E essa questão da transparência da Câmara, das despesas com os parlamentares, da prestação de contas das verbas indenizatórias? Acho correta essa cobrança, ela é justa. A casa do povo precisa ser transparente mesmo, o Michel Temer já adotou medidas inovadoras. Vai revelar o CNPJ, a origem da nota, o valor, o estabelecimento quem prestou serviços aos parlamentares na internet. Isso é o primeiro passo. A solução definitiva talvez seja a extinção de toda essa verba indenizatória, cujo espírito é sempre questionado. Talvez seja melhor nivelar os salários aos ministros do Judiciário e acabar com formas indiretas de custear as despesas. O PMPB participa do governo Lula. Isso significa um compromisso compulsório com a ministra Dilma Rousseff? Essa discussão é muito grave, toca na coerência, no caráter das pessoas, dos partidos. O PMDB participa de maneira qualitativa do governo Lula, não é uma participação periférica, de coadjuvante, como pode ter sido no passado. Não, o PMDB é uma presença ativa e respeitada no governo Lula, que define políticas públicas. Então, o partido hoje está dentro do governo, com bons resultados. Nos estamos ajudando o presidente a governar e as pesquisas estão mostrando o grande apoio popular ao governo Lula. Por Isso, acho difícil o PMDB se deslocar no ano eleitoral para um candidato de oposição que vai combater um governo do qual somos e seremos parte. Esse compromisso do PMDB com o presidente Lula é irreversível. Agora, há candidatura da ministra Dilma, que tem se revelado uma ministra competente, com sua lealdade e coragem. Mas o partido também pode sonhar, como o PDT e o PSB, com um projeto nacional. Como estão as conversas do PMDB com o governador de Minas, Aécio Neves? Aécio é uma conversa sempre muito fácil, que sempre existiu, com o PMDB e comigo, pessoalmente, pois somos amigos de longa data. Até porque a sua vida começou no PMDB, Aécio nasceu, cresceu politicamente no PMDB, é a sua escola política. Se ele não se sentir confortável no seu partido, ele sabe que não precisa pedir licença para vir para sua casa de nascimento, o PMDB. Mas essa é uma decisão que cabe a ele, cabe ao PMDB respeitar o seu momento e a sua decisão. Entrevista Henrique Eduardo Alves (1ª parte) Líder do PMDB na Câmara dos Deputados defende que o partido venha a disputar a Presidência do país, mesmo com o atual apoio a Lula. Entrevista Henrique Eduardo Alves (2ª parte) Líder do PMDB na Câmara dos Deputados defende que o partido venha a disputar a Presidência do país, mesmo com o atual apoio a Lula.

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