postado em 27/02/2009 08:00
O Sindicato dos Servidores do Poder Legislativo (Sindilegis) começa a se mexer para retomar discussões sobre temas polêmicos na Câmara dos Deputados a partir da semana que vem. Aumento salarial, adicional de especialização, o plano de saúde para comissionados voltarão com toda a carga, quando a entidade fechará a pauta de reivindicações deste ano a ser apresentada à cúpula da Casa.
O presidente do sindicato, Magno Mello, pretende colher as informações com os servidores concursados nas próximas duas semanas e realizar uma assembleia no final de março para concluir as demandas da categoria. Os debates previstos com os funcionários têm sido a única porta que a associação encontrou aberta na Câmara. Os integrantes da Mesa Diretora estão fechados e evitando contatos com os sindicalistas. Mello, por exemplo, ainda não conseguiu uma reunião com o primeiro-secretário, Rafael Guerra (PSDB-MG).
A cúpula da Câmara demonstra pouca motivação polÃtica para atender os pleitos do Sindilegis. Dos sete integrantes da Mesa, cinco manifestaram ser contrários à s medidas voltadas aos servidores que representem aumento da despesa em tempos de crise financeira. O presidente da Casa, Michel Temer (PMDB-SP), descartou aumento salarial. ;Isso (a pauta) não chegou a mim, quando chegar vou avaliar. Mas por enquanto não há intenção de aumento;, disse.
Além do plano de carreira, uma das ideias do Sindilegis é aumentar em 20% o pagamento das horas extras aos servidores. A proposta tem parecer favorável da Direção-Geral da Câmara e estudo pronto da Primeira Secretaria. A proposta ainda não foi debatida pela Mesa e está em compasso de espera. O sindicato insiste em ampliar o plano de saúde aos 12 mil comissionados, apesar de ter engavetado a proposta de trocar a empresa que administra o benefÃcio na Câmara. ;As pautas com reivindicações são respeitadas e consideradas. Mas qualquer coisa que implique aumento de gasto não tem condição de passar;, argumentou o primeiro vice-presidente, Marco Maia (PT-RS).
Enxugar
O quarto-secretário, Nelson Marquezelli (PTB-SP), foi além e sustentou que tem cumprido à risca a ordem de Temer para diminuir as despesas. Segundo ele, a intenção é enxugar o custo do órgão em 40%. ;A determinação é reduzir o máximo que puder. Então qualquer aumento salarial vai ter dificuldade e a Mesa vai analisar com lupa;, afirmou o petebista.
O deputado Inocêncio Oliveira (PR-PE), atual segundo-secretário, sustentou que há também um descrédito em relação ao Sindilegis depois de como foi tratada a questão do plano de saúde no começo do ano. ;Não tem a menor chance de sair aumento de salário, plano de saúde, qualquer coisa por causa da maneira como foi feita a negociação lá atrás;, disse. Na composição anterior da Mesa, o parlamentar pernambucano era segundo vice-presidente.
O terceiro-secretário, Odair Cunha (PT-MG), preferiu esquivar-se de opinar sobre a pauta do Sindilegis sem conhecer detalhes e o segundo vice, ACM Neto (DEM-BA), em viagem ao exterior, estava incomunicável.
Memória Repercussão negativa O Sindilegis criou a polêmica no começo do ano ao propor mudanças no plano de saúde dos funcionários da Câmara e a extensão aos comissionados. Além de contemplar os 12 mil trabalhadores em cargos de confiança, o sindicato sugeriu trocar o atual plano Pró-Saúde, gerido em parceria com a Caixa Econômica Federal, por outra empresa. O problema ganhou contornos de crise quando surgiu informações sobre um acerto prévio e sem licitação com a Amil. Sem saber do acordo com a empresa, a antiga Mesa Diretora da Câmara aprovou as mudanças. Mas diante da repercussão negativa, o então presidente Arlindo Chinaglia (PT-SP) foi obrigado a recuar. A manobra do Sindilegis quase levou à saÃda do presidente da entidade, Magno Mello. O sindicalista chegou a dizer que renunciaria ao cargo diante das pressões. Tudo porque os funcionários defendiam a manutenção do Pró-Saúde, que atende 3.500 concursados e um grupo de cerca de 200 parlamentares. Com um custo de R$ 43 milhões anuais à Câmara, o plano oferece a cobertura a familiares, tratamento odontológico, atendimento domiciliar e UTI aérea. A inclusão dos comissionados elevaria os gastos, segundo cálculos apresentados na época, para R$ 80 milhões por ano, quase o dobro do atual. Os problemas nasceram, na verdade, de uma medida moralizadora que Chinaglia tentou emplacar no fim do mandato, mas que acabou frustrada e engavetada: o fim do ressarcimento integral das despesas de saúde dos deputados. » Ouça entrevista com o presidente da Câmara, Michel Temer